Economia

O que não estamos vendo mas deveríamos, segundo economistas

Em podcast do Financial Times, economistas citam questões que vêm sendo esquecidas por causa do foco no Brexit

Olhar pelo binóculo e se desesperar (Thinkstck/Vstock LLC)

Olhar pelo binóculo e se desesperar (Thinkstck/Vstock LLC)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 19 de julho de 2016 às 18h36.

São Paulo - No começo do mês, o jornal britânico Financial Times realizou seu "Festival de Finanças" com especialistas do mundo econômico e das finanças.

Na última sexta-feira, o podcast Alphachat fez uma edição com opiniões sobre quais questões estão sendo esquecidas por causa do foco total no Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia.

Os temas citados foram da crise na Venezuela ao risco bancário na Itália, passando por Donald Trump e a independência de bancos centrais. Veja a seguir:

Os Andes, de acordo com Felix Salmon, do site Fusion, e Charles Kenny, do Centro para Desenvolvimento Global

“A Venezuela é uma catástrofe humanitária real, muito pouco coberta pela mídia e que terá implicações e repercussões globais por anos a fio", diz Salmon.

O país sofre com apagões, linchamentos, escassez generalizada, inflação fora de controle e uma das maiores taxas de homicídios do mundo.

Kenny traz o contraponto na própria região: a Colômbia, que ao encerrar uma guerra civil de décadas abre novas (e boas) perspectivas econômicas.

A crise bancária italiana, de acordo com Robert Shrimsley, editor executivo do FT.com

Os bancos italianos estão cheios de títulos duvidosos e as novas regras da União Europeia tornam incerto o seu processo de resgate, o que pode gerar uma reação em cadeia e afetar todo o bloco. 

"Os depositantes foram persuadidos a adquirir títulos sde obrigações desses bancos, e se eles começarem a falhar, o que é uma possibilidade muito séria, aqueles depositantes comuns de varejo vão perder muito dinheiro", diz Shrimsley.

A eleição americana e Donald Trump, de acordo com Tapiwa Manjengwa, da consultoria financeira Capco em Londres, e Toby Nangle, da firma de investimentos Columbia Threadneedle

Não dá para dizer que a eleição americana esteja fora do radar, mas a verdade é que os investidores não previram a ascensão de Donald Trump e não precificaram as consequências de sua possível vítoria mesmo após pesquisas mostrarem empate com Hillary Clinton.

O aperto no mercado de trabalho americano, de acordo com George Pearkes, estrategista macro da firma de investimentos Bespoke

Pearkes diz que os salários estão subindo rapidamente nos Estados Unidos e que isso terá consequências para a política monetária do país, que afeta toda a economia global.

Um relatório recente do Deutsche Bank nota que os EUA terão que escolher mais cedo ou mais tarde por dois entre três objetivos da sua "trindade impossível": crescimento nominal dos salários, inflação estável e lucros corporativos em alta.

O impacto existencial do Brexit, de acordo com George Magnus, associado do Centro de China na Universidade de Oxford e conselheiro sênior do UBS

Magnus diz que como britânico, não consegue escapar do Brexit, que chega a ser "existencial" de tanto que pode mexer com o mundo ocidental.

Segundo ele, os ecos do Brexit vão ficar mais claros nas próximas eleições da França, Alemanha e Estados Unidos 

Ataques à independência dos bancos centrais, de acordo com Frances Coppola, escritora e blogueira

Ela cita dois casos que considera inquietantes. Um deles é o de Raghuram Rajan, economista celebrado internacionalmente e elogiado por sua atuação bem-sucedida à frente do Banco Central da Índia

Rajan anunciou recentemente que não vai buscar um segundo mandato e especula-se que o motivo foram os ataques (ou no mínimo falta de apoio) que recebeu do partido no poder, o Bharatiya Janata do primeiro-ministro Narendra Modi.

Outro caso é o de Mark Carney, do Banco Central da Inglaterra, que foi trucidado publicamente por figuras do alto escalão do Partido Conservador.

Seu crime: demonstrar que a economia do Reino Unido (e sua moeda) sofreriam consequências negativas com a saída do União Europeia (o que se provaria correto).

"Isso é muito preocupante porque você quer que os bancos centrais colaborem com as autoridades fiscais e não quer que eles fiquem levando ordem dos políticos", diz Coppola.

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