Economia

O que fica ou cai na reforma da Previdência (e a que preço), segundo Itaú

Um dia após proposta passar seu primeiro teste no Congresso, banco divulga cálculo da economia prevista com cada item da reforma

Roberto Campos (BC), Onyx (Casa Civil), Bolsonaro, Mourão e Paulo Guedes (Economia): equipe tem mantido dados em sigilo (Adriano Machado/Reuters)

Roberto Campos (BC), Onyx (Casa Civil), Bolsonaro, Mourão e Paulo Guedes (Economia): equipe tem mantido dados em sigilo (Adriano Machado/Reuters)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 24 de abril de 2019 às 18h48.

Última atualização em 1 de maio de 2019 às 22h36.

São Paulo - Um dia após o projeto da reforma da Previdência passar pelo seu primeiro desafio no Congresso, com aprovação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, o Itaú divulgou suas estimativas sobre o impacto financeiro de cada item da proposta do governo.

A previsão do banco é que a reforma aprovada traga uma economia entre R$ 670 e R$ 990 bilhões para os cofres públicos no período de dez anos. Ou seja, com um impacto fiscal de 50% a 75% em relação ao texto enviado pelo governo.

Os cálculos da instituição consideram que o Congresso deve excluir mudanças na aposentadoria rural, no benefício assistencial do BPC e no tempo de contribuição mínimo para receber aposentadoria, além das alterações nas regras de transição.

Preocupada com a aprovação na CCJ, a equipe econômica do governo tem mantido seus cálculos sob sigilo.

A previsão é que os números sejam divulgados nesta quinta-feira (25), junto com a instalação da comissão especial onde serão discutidas mudanças na proposta.

O Itaú calcula que o grosso da economia da reforma (70%) vem do regime geral da Previdência (RGPS), que é operado pelo INSS e atende aos trabalhadores privados.

As mudanças propostas pelo governo nesta área trariam uma economia de R$ 697 bilhões na próxima década (1,9% do PIB em 2027).

Já as mudanças no regime dos servidores públicos são responsáveis por 15% da economia total (R$ 177 bilhões) no mesmo período enquanto as mudanças no abono salarial respondem por 14% da economia (R$ 140 bilhões).

No caso dos militares, a proposta inicialmente previa uma economia de R$ 92 bilhões em 10 anos (0,2% do PIB), mas esse número foi reduzido para R$ 10 bilhões, por conta da restruturação da carreira para o segmento. A categoria deve ser responsável por 1% da economia geral em 10 anos com a reforma.

O principal item da reforma, do ponto de vista fiscal, é o estabelecimento de uma idade mínima para aposentadoria de 65 anos para homens e 62 para mulheres com transição de até 14 anos.

Só este item geraria, sozinho, uma economia de R$ 420 bilhões em 10 anos (ou 1,20% do PIB em 2027).

"A medida afeta principalmente a aposentadoria por tempo de contribuição, que permite atualmente que trabalhadores urbanos de maior renda se aposentem mais cedo e ganhando relativamente mais que o restante da população", diz o banco em relatório.

Um dos pontos mais polêmicos da reforma é a mudança no Benefício de Prestação Continuada (BPC), benefício de um salário mínimo pago para idosos e deficientes que comprovem não ter renda para se sustentar.

A proposta do governo é que seja pago um benefício de R$ 400 a partir dos 60 anos com aumento gradual até atingir um salário mínimo aos 70 anos.

Segundo o Itaú, a mudança tem impacto fiscal negativo nas contas de 13 bilhões de reais até 2029 e não deve sobreviver à tramitação.

O Itaú destaca que mesmo se a reforma da Previdência for aprovada integralmente e sem alterações, não será suficiente para gerar superávits primários no setor público.

Já no cenário sem reforma, o resultado primário piora cerca de 0,3% do PIB (R$ 20 bilhões) por ano, diz o Itaú, "refletindo a dinâmica demográfica desfavorável de envelhecimento da população, que é agravada pela indexação de 70% dos benefícios previdenciários ao salário mínimo e suas regras de reajustes acima da inflação".

Veja a seguir quais são as previsões do Itaú em relação a quais pontos devem ser mantidos ou retirados da reforma ao longo do processo de tramitação, além do impacto fiscal previsto em uma década:

O que deve ser mantido intacto

Mudanças nas pensões por morte: R$ 101 bilhões de economia

Regras de transição para aposentadoria para servidor público: R$ 89 bilhões de economia

Mudança da regra e base de cálculo do valor das aposentadorias: R$ 44 bilhões de economia

Alíquotas de contribuição progressivas para servidor público: R$ 29 bilhões de economia

Mudanças na aposentadoria militar: R$ 10 bilhões de economia

Alíquotas de contribuição progressivas para servidor privado: R$ 30 bilhões de perda

O que deve ser retirado totalmente da proposta

Aumento de 15 para 20 anos no tempo de contribuição mínimo para receber aposentadoria: R$ 88 bilhões de economia

Contribuição anual de R$ 600 por grupo familiar de aposentadoria rural: R$ 23 bilhões de economia

Novo BPC fásico: R$ 13 bilhões de perda

O que deve ser mantido, mas enfraquecido

Regras de transição para aposentadoria do servidor privado: queda da economia prevista de R$ 527 bilhões para R$ 427 bilhões

As grandes incógnitas: pode ser mantido integralmente, retirado integralmente ou apenas alterado

Abono Salarial apenas para quem recebem até 1 salário mínimo: R$ 157 bilhões de economia

Restrição a integralidade e paridade de benefícios no setor público: R$ 102 bilhões de economia

Reoneração da contribuição previdenciária dos exportadores rurais: R$ 60 bilhões de economia

*O texto foi atualizado após o Itaú fazer nova divulgação. O banco atualizou cálculos depois de o governo tornar públicas suas projeções

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