Economia

O que está por trás da celeuma dos juros bancários

O cenário: o Banco Central eleva e mantém a Selic em 26,5%, uma das maiores taxas de juros básicos do mundo. Também aumenta o compulsório sobre os depósitos à vista para 68% (de cada 100 reais, 68 reais ficam retidos pela autoridade monetária). Ambas medidas buscam tirar dinheiro da economia e conter a inflação. O […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h27.

O cenário: o Banco Central eleva e mantém a Selic em 26,5%, uma das maiores taxas de juros básicos do mundo. Também aumenta o compulsório sobre os depósitos à vista para 68% (de cada 100 reais, 68 reais ficam retidos pela autoridade monetária). Ambas medidas buscam tirar dinheiro da economia e conter a inflação.

O anúncio: o governo condena o spread bancário (a diferença entre as taxas que o banco usa para captar e emprestar dinheiro). Avisa que vai usar os bancos oficiais, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, para oferecer crédito mais barato.

A pergunta: por que um governo tão empenhado em tirar dinheiro da economia para combater a inflação vai aumentar o crédito justamente agora, obrigando os bancos públicos a baixar suas margens de lucro? É bonito falar mal de juros, mas não acho que o governo pode aumentar o crédito neste momento , diz Arthur Ridolfo, professor da FGV/EAESP. Seria um contra-senso para a atual política econômica.

Oferecer crédito é uma forma de colocar dinheiro na economia tudo que o Comitê de Política Monetária (Copom) tem evitado fazer. O governo até pode usar os bancos públicos para aumentar a concorrência e colocar mais crédito na economia , diz Maurício Zanella, do banco Lloyds TSB. Mas neste momento teria de fazer isso de forma gradual, de olho na inflação.

Quando chegar o momento de injetar dinheiro na produção, no comércio e na prestação de serviços por meio de crédito mais barato, vai ser preciso responder outra pergunta: O governo está preparado para tomar todas as medidas necessárias para oferecer crédito mais barato? , pergunta Ridolfo. Vários são os elementos que influenciam o custo do capital, e a maior parte deles depende de uma ação pública e não privada.

Segundo levantamento do BC, os juros para as empresas oscilam entre 42% e 72%, dependendo da operação. Pessoas físicas pagam bem mais: 178% por ano no cheque especial e 102% no crédito pessoal, por exemplo. Mas o spread bancário médio oscila na casa dos 34% (para a pessoa jurídica, fica em 15%; para a física, em 60%).

Entram no cálculo do spread o risco de inadimplência, as taxas de administração, os impostos (diretos e indiretos) e o lucro do banco. O risco de inadimplência chegou a representar 24% do spread em 1999. Hoje, responde por 17% bolo total - mas em 2000 teve um peso menor ainda, na casa dos 14%. Caíram também as taxas de administração. É preciso lembrar que o final dos anos 90 foi um período de ajustes para o setor bancário.

Na busca por eficiência, as despesas administrativas de forma geral caíram, reduzindo seu peso também sobre o spread de 22% para 14%. A carga tributária, porém, seguiu caminho inverso: aumentou no período, indo de 17% para 29% da estrutura de formação do spread. Cresceu também o lucro das instituições, que saiu de 29% no início de 1999 para 40% no final do ano passado.

Projetar uma queda no custo do crédito significa reduzir todos esses componentes e não apenas o lucro dos bancos como dizem os maiores críticos ao sistema financeiro. Mas as mudanças mais importantes são a redução do compulsório e da Selic. A queda do compulsório vai devolver dinheiro para os bancos injetarem na economia, e a queda na taxa básica de juros vai tirar a atratividade dos títulos da dívida pública fontes de ganhos para os bancos.

Só teremos crédito mais barato quando houver disputa pelo cliente , diz Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos em Finanças (Anefac). Quando o governo parar de concorrer com o crédito. Dados da Anefac indicam que as operações de crédito respondem por 29% dos ativos bancários e os títulos e valores mobiliários, por 27%. Pelas estimativas de Oliveira, governo e tomadores de crédito vão disputar os recursos bancários palmo a palmo enquanto a Selic não cair abaixo de 15%. Por ora, falar em queda nos juros é entrar numa discussão inglória , diz Zanella. Basta ler as atas do Copom para perceber que ele é coerente com sua preocupação em relação a inflação.

Cartilhas do Banco Central

Não é de hoje que o governo tenta baixar o spread bancário. O BC criou há três anos um programa para reduzir o spread e intensificar o crédito, o Projeto Juros e Spread Bancário. O Departamento de Estudos Pesquisas (Depep) faz diagnósticos, trabalhos de discussões e notas com análises e propostas técnicas para o setor. Nesta sexta-feira (6/6), o BC divulgou uma versão atualizada da Série de Perguntas Mais Freqüentes sobre Juros e Spread Bancário. Consulte o trabalho pelo link ao lado. Além do spread, o BC também divulgou cartilhas sobre Preços e Copom.

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