PIB do segundo trimestre: consumo das famílias e investimentos devem auxiliar no crescimento (gustavomellossa/Getty Images)
Editor de Macroeconomia
Publicado em 2 de setembro de 2024 às 20h20.
Última atualização em 2 de setembro de 2024 às 20h28.
A economia brasileira deve apresentar um crescimento entre 0,9% e 1% no segundo trimestre de 2024, estimam economistas e relatórios consultados pela EXAME. O dado será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira, 3, às 9h. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o PIB do segundo trimestre deve avançar entre 2,3% e 2,8%. No primeiro trimestre de 2024, o PIB do país cresceu 0,8% na comparação com os três meses imediatamente anteriores.
Na avaliação de economistas, o resultado será puxado, principalmente, pelo aumento de renda da população e do investimento, com destaque para a indústria de transformação — a formação bruta de capital fixo (FBCF, no jargão econômico).
"O que percebemos é uma resiliência mais estrutural da economia brasileira", diz Andrea Damico, CEO da Buysidebrazil Consultoria Econômica. "Isso aconteceu em outras partes do mundo. Na economia americana, foram dois trimestres muito fortes, apesar dos juros restritivos. Por aqui, tivemos essa repetição, de primeiro trimestre mais forte."
A estimativa da Buysidebrazil é de que o PIB cresça 0,9% na comparação com o primeiro trimestre do ano, e 2,6% na comparação com 12 meses.
O BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), estima um crescimento de 0,9% na comparação com o primeiro trimestre e um crescimento anual de 2,7%. "Com destaque para a indústria de transformação, que deve apresentar um crescimento de 2,0% trimestre a trimestre", escreveu a equipe macroeconômica do banco em relatório. "O consumo das famílias deve mostrar mais um trimestre de crescimento robusto, onde projetamos alta de 1,2%, enquanto os investimentos devem apresentar forte crescimento de 2,6% trimestre a trimestre."
Já os economistas do banco Itaú apontam em relatório que o destaque ficará para o setor de serviços, que "deve mostrar alta anual semelhante à observada no trimestre anterior (2,8%, ante 3,0% no 1T24)". O Itaú projeta que o PIB do segundo trimestre avançará 1,0% na comparação com o trimestre anterior e 2,8% na comparação anual.
"A indústria deve ter registrado crescimento de 3,2% na mesma comparação (ante 2,8% no 1T24) e o setor agropecuário deve seguir negativo, com queda de 0,8% (ante -3,0% no 1T24)", diz trecho do relatório do Itaú. "A maior resiliência da atividade se refletiu nas surpresas positivas dos indicadores mensais ao longo do primeiro semestre, em particular no varejo e nos serviços, que são resultado de uma renda das famílias mais alta, seja pelo maior dinamismo do mercado de trabalho, seja pelas transferências de renda."
A consultoria econômica LCA também estima um avanço de 1,0% na relação com o primeiro trimestre e 2,7% na comparação anual. "É um número muito bom e reflete o impacto que houve sobre a renda, tanto do mercado do trabalho aquecido, quanto com benefícios sociais, que cresceram bastante", diz Francisco Pessoa Faria, economista da consultoria LCA.
O Rabobank vai na mesma linha de 1,0% de crescimento no trimestre a trimestre e 2,3% no avanço acumulado. "O mercado de trabalho continua aquecido, e as enchentes no Rio
Grande do Sul tiveram impactos menores que o esperado na atividade econômica. Apesar da agricultura apresentar um desempenho menos animador que o do ano anterior, outros
setores como a indústria e serviços se beneficiaram do aumento na renda real da população, o que deve implicar em um maior crescimento nesse trimestre", diz relatório do banco.
Para Damico, da Buysidebrazil, o mercado de trabalho aquecido e os rendimentos em alta explicam em boa medida o crescimento, que virá sobretudo do setor de serviços. "Vemos essa resiliência mais estrutural, ligada ao mercado de trabalho. Há um pouco de efeito dos estímulos de benefícios sociais [como o Bolsa Família e outros], mas temos um mercado de trabalho com desemprego em 6,8%, e rendimentos com alguma moderação na margem, mas longe de dar um alívio", afirma. "Isso tem sustentado."
De fato, a população ocupada atingiu novo recorde da série histórica em agosto e chegou a 102 milhões. O total de trabalhadores do país cresceu 1,2%, mais 1,2 milhão de pessoas, no trimestre e 2,7%, mais 2,7 milhões de pessoas, no ano.
A população desocupada – pessoas que procuravam por trabalho – caiu para 7,4 milhões de pessoas. Esse é o menor número de pessoas em busca de trabalho desde o trimestre encerrado em janeiro de 2015.
Para os economistas do Itaú, o consumo das famílias deve avançar 4,8% em comparação ao mesmo período do ano passado, impulsionado pelas concessões de crédito que têm "apresentado ritmo forte de crescimento (especialmente para pessoa física) e pelo aumento da renda, que sustentaram os gastos das famílias".
Para Faria, da LCA, o destaque ficará para os investimentos. "O dado vai ser melhor do que a gente tem tido, e com algumas diferenças. Por exemplo, caminhões e ônibus devem ter ótimo resultado, mas máquinas agrícolas deve abaixo, uma vez que o setor se alavancou nos anos de bonança", diz. "Estimamos um crescimento do investimento acima de 6% na relação ao mesmo período.
O Itaú prevê algo semelhante. "A formação bruta de capital fixo (FBKF) deve registrar crescimento anual de +7,8% no 2T24, segunda alta consecutiva depois de sucessivas quedas em 2023, diante do forte crescimento tanto de importações de bens de capital quanto do mercado de capitais", escreveu a equipe econômica.
Já Damico, da Buysidebrazil, avalia que o investimento foi a única variável que reagiu "dentro do esperado" em relação ao ciclo monetário de aumento de juros. Os investimentos caíram bastante ao longo de 2022 e 2023.
"No final do ano passado, quando juros começaram a cair, e embora continuem restritivos, o nível de restrição diminuiu, ajudou a dar esse estímulo para os investimentos. O segundo trimestre, deve vir positivo. Até pelo fato de termos tido um esforço para reconstrução do Rio Grande do Sul, o que pode ajudar", afirma.
Por fim, parece consensual entre economistas que o impacto o impacto das enchentes no Rio Grande do Sul no PIB veio abaixo do esperado.
"Basicamente, a gente vislumbrou no mercado um impacto negativo muito pior do que ele de fato aconteceu. Teve um efeito que quase ninguém estimou, das doações. Ali, claramente a indústria em maio caiu com dias de parada. Teve queda importante da indústria que se recuperou em junho", diz Damico, da Buysidebrazil.
Ao mesmo tempo, houve estímulos fortes para a recuperação do estado. "Em vez de ter um PIB revisado para baixo por causa do Rio Grande do Sul — que estimávamos de 0,1 a 0,2 ponto percentual —, o efeito liquido foi até um pouco mais para cima", afirma a economista.
"Juntando esse erro de projeção, continuamos tendo surpresas positivas como mercado de trabalho. Rendimento está começando a mostrar moderação, mas ainda contribuindo para uma massa salaria muito forte, com recordes históricos todos os meses e uma taxa de desemprego muito baixa", afirma. "Isso acabou dando essa nova sustentação para a atividade. O mercado chegou a ter estimativas de 2%, foi para 1,9%, e agora está em 2,5% [no ano de 2024]. Tem analista vendo perto de 3%."