(Scott Olson/Getty Images)
João Pedro Caleiro
Publicado em 20 de janeiro de 2017 às 06h00.
Última atualização em 20 de janeiro de 2017 às 10h05.
São Paulo - O que acontece com a economia com a posse de Donald Trump?
"Serei breve: ninguém sabe", diz Justin Wolfers, professor da Universidade de Michigan que publicou uma análise do comportamento do mercado financeiro durante a campanha.
Logo após a eleição, a incerteza com o estilo e as ideias de Trump deram lugar a uma euforia, especialmente no mercado de ações americano.
A avaliação era que o crescimento seria beneficiado com a aprovação de desregulação, cortes de impostos e aumento de gastos através de um novo programa de infraestrutura.
O mercado já esfriou um pouco desde então. As declarações e indicações de Trump não fizeram muito para esfriar o temor de guerras comerciais, tema recorrente na conferência de Davos nos últimos dias.
Veja o que 3 economistas americanos esperam de Trump em campos que devem definir o seu mandato, como regulação, comércio e política fiscal:
Russ Roberts: uma mistura estranha de mais e menos liberdade econômica.
"Trump prometeu abaixar impostos, reduzir a regulação e ameaçou renegociar acordos de livre comércio. Ele também encoraja intervenções ad hoc para preservar empregos americanos. Então ele é uma mistura estranha entre mais e menos liberdade econômica.
Por exemplo: ele ameaçou colocar tarifas sobre produtos chineses ou sobre produtos feitos por corporações que transferem a manufatura para fora do país. Mas aumentar tarifas é o mesmo que aumentar impostos - torna os bens mais caros do que seriam sem elas.
Isso também pode levar a sérias retaliações dos parceiros comerciais americanos. Uma redução dramática no comércio e na conexão entre pessoas de diferentes nações teria consequências severas no curto e no longo prazo.
Trump também prometeu revogar o Affordable Care Act [leis para ampliação do seguro-saúde que ficaram conhecidas como Obamacare]. Mas haverá uma pressão política imensa para trocá-lo por outra coisa. O que? Isso ainda está para ser visto.
Resumindo: é muito difícil saber exatamente o que esperar do Sr. Trump. Pode-se presumir que ele vai manter algumas de suas promessas e ignorar outras, explicando porque não são mais relevantes. Estamos diante de tempos muito interessantes."
- Russ Roberts, 62, é anfitrião do podcast EconTalk e pesquisador na Universidade de Stanford
Robert Barro: boas políticas que podem elevar o crescimento para a faixa dos 3%-4%.
"Eu prevejo que a administração Trump vá montar um pacote fiscal robusto com cortes nas taxas marginais de imposto de renda e eliminação de deduções. O pacote pode ser similar aos cortes de impostos feitos por Ronald Reagan em 1986, com o elemento extra de grandes reduções nas taxas de impostos corporativos.
Os maiores medos estão relacionados à introdução de cotas (ou outras formas possíveis) no comércio internacional. Essas ações são diretamente prejudiciais e têm chance de disparar reações adversas em parceiros comerciais. A contração resultante no comércio internacional seria uma força recessiva.
Mais para a frente, espero ver cortes importantes em regulações danosas. Essas reformas provavelmente terão como alvos os mercados financeiros e as áreas de energia e meio ambiente.
No geral, é razoável esperar que políticas macroeconômicas favoráveis levariam o crescimento do PIB para a casa dos 3%-4% anuais por alguns anos. No entanto, essa avaliação positiva pode ser contrabalanceada por políticas protecionistas".
- Robert Barro, 72, é professor de Economia na Universidade de Harvard
Bob Pozen: a reversão de parte das novas regulações bancárias.
"Em 2010, o Congresso passou o Ato Dodd Frank, que aumentou significativamente o nível americano de regulação dos bancos. O presidente Trump terá dificuldade de repelir o ato, porque isso iria requerer 60 votos no Senado e os republicanos tem apenas 52 cadeiras. No entanto, o novo presidente pode e vai reverter muitas regulações financeiras adotadas pela administração Obama.
Há muito apoio para reduzir a regulação de bancos pequenos e médios, que não foram a causa da crise financeira. No entanto, eles foram sujeitos a requisitos de capital e liquidez mais altos, assim como regras mais duras sobre lavagem de dinheiro e empréstimos hipotecários.
As regras de empréstimo hipotecário foram emitidas pelo Consumer Financial Protection Bureau (Agência de Proteção Financeira do Consumidor, em tradução livre), um novo órgão criado por Dodd Frank com pouca prestação de contas orçamentária... esse órgão provavelmente sobreviverá, ainda que seja reestruturado com um conselho bipartidário e mais controle de gastos.
Do lado dos grandes bancos, o Conselho para Estabilidade Financeira impôs uma série de regulações especiais em bancos com mais de US$ 50 bilhões em ativos, com base na teoria de que eles seriam ameaças ao sistema financeiro.
Mas o Conselho deveria reconhecer que essa ameaça não é tão forte em bancos com menos de US$ 250 bilhões em ativos, e se concentrar nos bancos imensos, aqueles que provavelmente verão muito mais flexibilidade na Regra Volcker, desenhada para evitar a negociação de títulos da própria conta. A regra já tem algumas exceções, que provavelmente ficarão maiores e mais amplas.
O Conselho rotulou duas grandes companhias de seguros, a Metropolitan Life e a Prudential, como de risco sistemático e impôs requisitos de capital e liquidez similares aos de bancos. A Metropolitan Life processou o Conselho com base na ideia de que as seguradoras são menos vulneráveis do que bancos a corridas de consumidores e outras ameaças. De forma mais geral, creio que o Conselho vai recuar da ideia de tratar grandes seguradoras como bancos".
- Bob Pozen, 70, é professor da Escola de Negócios Sloan, do MIT (Massachusetts Institute of Technology)