Após choque, mercados tentam avaliar o que Trump pode fazer (Alex Kraus/Bloomberg)
João Pedro Caleiro
Publicado em 9 de novembro de 2016 às 16h53.
Última atualização em 9 de novembro de 2016 às 18h30.
São Paulo - A vitória de Donald Trump na eleição presidencial americana chocou o mundo.
As pesquisas davam vitória certa para Hillary Clinton, que contava com o apoio esmagador do establishment econômico.
Em cartas divulgadas recentemente, vários vencedores do Nobel em Economia pediam para que os americanos não votassem no republicano.
A estimativa de consultorias como a Euromonitor é que o crescimento americano vai despencar sob o republicano, com impacto forte em países como Irlanda, México e Brasil.
O Ibovespa abriu em queda de mais de 3%, mas reduziu as perdas ao longo do dia. O dólar encostou em R$ 3,21; expectativa é que continue subindo e que possa chegar aos 3,60 reais até o final do ano.
A partir de agora, tudo depende do que o republicano vai dizer e fazer - uma incógnita após uma campanha marcada mais pela sua personalidade do que por propostas claras de políticas públicas.
Veja o que bancos e economistas disseram ao longo dessa quarta-feira sobre as perspectivas para a economia americana e mundial com a eleição de Trump:
Russ Roberts, pesquisador em Stanford e anfitrião do EconTalk, em e-mail para EXAME.com:
"O impacto de uma presidência de Trump sobre a economia americana é reconhecidamente incerto. Será que ele vai fazer o que diz - renegociar acordos comerciais, arriscar uma guerra comercial com a China, se livrar do Obamacare, cortar impostos ao mesmo tempo que gasta mais em infraestrutura e reduzir a imigração? Não estou certo de que fará qualquer uma dessas coisas.
Então o primeiro impacto será a maior incerteza, o que não é particularmente bom para a tomada de decisões e tem consequências sérias para o futuro da tomada de risco e investimento."
Citi, companhia financeira americana, em nota para clientes:
"Falcões fiscais podem emperrar as propostas de Trump que aumentam o déficit, enquanto os conservadores podem se opor às políticas mais liberais de Trump, como o pagamento de licença paga para famílias.
Ele também provavelmente encontrará resistência de um Congresso com maioria republicana ao perseguir políticas que limitem o comércio internacional ou azedem as relações americanas com aliados estrangeiros, dado que isso vai contra uma ortodoxia duradoura do partido”.
Eduardo Moreira, sócio-fundador do Banco Fator, em entrevista para o EXAME Hoje:
"A eleição de Trump é boa para a economia brasileira. Ele quer ampliar o protagonismo americano e para isso a região da América do Sul é muito importante e é essencial ter uma boa relação com o principal país da região. Michel Temer e Trump têm ideais liberais e serão bons aliados."
Société Générale, banco francês, em nota para clientes:
"As chances de um aumento dos juros em dezembro caíram consideravelmente, o que apoia ativos de risco globais. O Fed está preso entre os dados (favoráveis) e o mercado/Trump, que são incertos. A próxima coisa para ficar de olho é a seleção de Trump para figuras chave do seu gabinete. Elas podem ser tranquilizadoras ou evocar mais preocupação".
Paul Krugman, vencedor do Nobel em Economia em 2008, em seu blog do New York Times:
"O Fed e seus equivalentes lá fora têm basicamente pouquíssimo espaço para cortar mais ainda suas taxas, e portanto pouquíssima habilidade para responder a efeitos adversos. E agora vem a mãe de todos os efeitos adversos - e o traz consigo um regime que será ignorante sobre política econômica e hostil a qualquer esforço para fazê-la funcionar.
Suporte fiscal efetivo para o Fed? Sem chance. Na verdade, pode apostar que o Fed perderá sua independência e será intimidado. Então provavelmente estaremos olhando para uma recessão global sem fim aparente".
Goldman Sachs, banco americano, em nota para clientes:
"É cedo para fazer conclusões firmes, mas a incerteza de políticas provavelmente continuará elevada por um tempo. Essa incerteza pode ser traduzida em um Fed mais cauteloso, quando antes nossos economistas previam um aumento dos juros em dezembro como mais provável, e em tensões crescentes com parceiros comerciais chave."
Alexandre Espírito Santo, economista da Órama Investimentos, em nota para a imprensa:
"A vitória de Trump poderá provocar um tremendo estresse; uma forte pressão nas cotações, especialmente porque as bolsas americanas estão próximas de seus "highs". Hoje e os próximos dias serão tensos nos mercados.
O resultado das urnas terá implicações sérias sobre a economia, pois Trump é um ferrenho crítico da política monetária conduzida pela presidente do Fed, Janet Yellen. Alguns analistas acreditam que, no limite, ela pode vir a renunciar, o que impacta não só a política monetária dos Estados Unidos, mas o fluxo global de capitais, com reflexos nos países emergentes, como o Brasil."
Marcos Troyjo, diretor do BRIClab da Columbia University, em entrevista para EXAME.com:
"Minha principal indagação é se Trump vai abandonar parte da retórica de campanha para assumir uma postura mais pragmática. Isso seria bom para os Estados Unidos, mas vai distanciá-lo dos eleitores que o elegeram. (...)
Nesse momento, se você é um empresário americano ou não que está montando uma planta em Bangladesh ou na Indonésia, você continua? Se você é uma empresa europeia investindo nos EUA achando que de lá você alcança os mercados do NAFTA e outros, você puxa o freio? Tudo isso afeta a perspectiva porque dá uma pausa. Mais importante do que o pânico é a pausa."
HSBC, em nota para clientes assinada por seu economista-chefe Kevin Logan:
"Os cortes de impostos a serem implementados no primeiro ano da administração Trump podem dar ao PIB um impulso substancial por um ano ou algo assim, mas a combinação entre um choque de oferta por causa na contração da força de trabalho somado a uma disrupção no comércio internacional provavelmente levariam a uma recessão depois de um ou dois anos.
Na nossa visão, a implementação completa das propostas de política de Trump aumentariam a volatilidade da atividade econômica agregada, com repercussões potenciais sobre a volatilidade dos mercados financeiros, e que possam levar a uma política monetária mais apertada".