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Da Redação
Publicado em 17 de junho de 2012 às 09h01.
São Paulo - Os bancos gregos estão no meio de um turbilhão temido por qualquer instituição financeira do mundo. A cada dia - e este número pode estar crescendo a medida que você lê esta matéria - milhões de euros são sacados ou transferidos para contas de outros países. Tudo resultado do medo que o país deixe a zona do euro e a moeda nacional volte a ser o dracma.
“Os gregos sabem que se deixarem cem euros no banco, no dia seguinte à desvalorização serão cem dracmas – ou dez euros“, afirma o coordenador do curso de Relações Internacionais do Ibmec, Reginaldo Nogueira.
O fenômeno é conhecido como corrida aos bancos, assunto tratado sempre em voz baixa por banqueiros porque apenas rumores podem deixar pelados os cofres de uma instituição. Mas que armas a Grécia teria para impedir este movimento descontrolado que leva bancos à falência e um país ao colapso financeiro?
“Nenhuma”, na avaliação do professor da FEA-USP, Manuel Enriquez Garcia, enquanto a Grécia estiver submetida ao acordo de Schengen, que estabelece o livro fluxo de capitais entre as economias da Europa. “Enquanto o tratado estiver valendo, nenhum estado nacional poderá impedir que as pessoas retirem dinheiro”, afirma o professor.
Mas como é grande a possibilidade que a Grécia saia do euro e que a própria União Europeia esteja avaliando como controlar o fluxo de capitais, veja algumas medidas eficazes em situações semelhantes.
Congelamento dos depósitos e feriado bancário
Os brasileiros conhecem bem o que é ter os depósitos congelados. Os argentinos também sentiram o gostinho em 2001. Impedir que as pessoas retirem dinheiro de um banco é uma arma sem dúvida eficaz e garante que ele não se torne insolvente, mas tem efeitos nefastos sobre a qualidade de vida da população.
“É o pai desempregado que precisa suprir a casa e, apesar de ter reservas, não pode sacar. É o empresário que precisa quitar a folha de pagamentos. As pessoas vão ficar insolventes. Isso compromete o lado real da economia, porque parte do comércio fica comprometido por falta de base monetária”, ressalta a professora de economia da FGV, Celina Ramalho.
De qualquer forma, especialistas consideram inevitável a instituição de um feriado bancário no país. “Você não pode manter isso por um mês. Um feriado bancário parcial – para algumas coisas como saques e transferências – é possível, mas não para durar muito tempo”, opina o coordenador do MBA Banking da FIA e professor de finanças da FEA-USP, Roy Martelanc.
Governo garante depósitos
Uma maneira segura de evitar o efeito manada em situações de pânico é convencer a população de que o governo é capaz de garantir que ninguém vai perder um centavo com a possível insolvência de bancos. A Inglaterra fez isso em 2007 e os efeitos foram sentidos no dia seguinte ao anúncio do governo.
Só que qualquer cidadão está pronto a confiar nas autoridades que cumprem contratos e conduzem a política fiscal de maneira segura. Quando se trata de um estado com dívida impagável como a Grécia, a garantia não vai longe.
Mas com a eventual recuperação das contas gregas, armas como o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), no Brasil – que garante restituições de até 70 mil reais – ou o FDIC dos Estados Unidos são boas maneiras de conferir segurança ao sistema financeiro.
Se a Grécia sai
Na avaliação do professor Roy Martelanc, da USP, se a Grécia sair, qualquer medida para conter a fuga de capitais será desnecessária.
“Quando você tem a volta do dracma e sua desvalorização não vale mais a pena tirar o dinheiro. Também não vale colocar no colchão porque haverá inflação”, afirma o professor de finanças.
Mas a existência dos euros em circulação vai demandar estrito controle das autoridades em relação ao fluxo de capitais, de acordo com Reginaldo Nogueira, do Ibmec.
“Será necessário proteger a saída de fronteiras pra garantir que ninguém saia com euro do país. Todas as notas de euro terão que ser carimbadas pra dizer que são o novo dracma enquanto o governo não conseguir fazer a nova moeda, e será preciso aprovar legislação que faça com que todos os contratos, salários e preços expressos em euros sejam convertidos para o novo dracma”, alerta o professor.