Economia

O que a gestão Temer significa para o futuro da economia

"Um presidente que declara que não quer concorrer mais uma vez tem um gosto amargo, como seu governo não fosse para valer", diz economista André Perfeito

 (Adriano Machado/Reuters)

(Adriano Machado/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 14 de maio de 2017 às 08h00.

Última atualização em 15 de maio de 2017 às 15h22.

São Paulo - Na última sexta-feira (12), o presidente Michel Temer completou um ano de governo.

Sua gestão econômica foi marcada por uma nova equipe, a inclusão de um teto de gastos por 20 anos na Constituição e o encaminhamento de reformas, com foco na trabalhista e na previdenciária.

Entre as conquistas alcançadas estão a queda da inflação e dos juros, mas o desemprego segue em alta e ainda não há sinais consistentes de fim da recessão.

EXAME.com convidou dois economistas para fazer uma análise da gestão do governo e do seu impacto sobre o futuro. Veja a seguir:

Para além do tempo: o ano que não existiu

por André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos

"Fazemos agora um ano de governo Temer e assim podemos entender com maior clareza o que se passou e se passa para tatear um futuro próximo. Minha primeira intuição ao ser chamado para falar desta data comemorativa era roubar do título do livro do Zuenir Ventura e assegurar: 2015, o ano que não terminou.

Há um sentimento de vazio nesses últimos meses, como se o governo atual estivesse governando sem estar lá. Um presidente que declara que não quer concorrer mais uma vez tem um gosto amargo, como se o seu governo não fosse para valer; um atacante de um clube de futebol que diz que não faz questão de estar no time no ano que vem é estranho, convenhamos.

Este sentimento de vazio tem um sentido: Temer joga com o tempo. Ao aprovar em pouco tempo a PEC do Teto, ele impôs ao país que alterasse sua relação com o futuro e por isso mesmo a reforma da Previdência se impõe como necessidade vital; sem esta "o tempo acaba" e o orçamento implode rapidamente. Iremos nos tornar a República Previdenciária do Brasil, afinal não teria mais dinheiro para nada, e como dinheiro é tempo...

Temer abriu mão do presente para tentar trazer a valor presente um futuro diferente. Se de um lado é uma atitude nobre esse gesto, por outro sabemos que ele não teria outra opção; a sua agenda era, a curto prazo, aprofundar um ajuste recessivo para segurar a inflação, mas que se traduz hoje na queda agressiva dos juros, justamente o preço do dinheiro no tempo. Nesse sentido seu governo é extremamente bem sucedido e com a taxa de juros real em torno de 4,5% no final do ano, o investimento virá sim com força em 2018.

Temer pegou um mandato de pouco tempo e tenta nesse curto prazo comprar tempo alterando profundamente a relação do Estado com a sociedade e com o futuro. Se isso vai durar no tempo ainda não sabemos, a eleição de 2018 impõe seria dúvidas quanto a continuidade de algumas reformas, mas deixemos o futuro para depois, não adianta falar agora.

O governo Temer entrará para história como o governo que não estava lá, o governo que fez para o futuro, não para o presente. Bem, pelo menos é isso que posso pensar em tão pouco tempo de governo..."

Uma agenda reformista abrangente e ousada em perspectiva histórica

por Gesner Oliveira, economista-chefe da GO Associados

"O primeiro ano do governo Temer pode ser considerado positivo sob inúmeros aspectos. A economia brasileira caminhava para o precipício no início do ano de 2016 e hoje o país se prepara para voltar a crescer.

A condução mais racional da gestão econômica do governo se reflete na valorização dos ativos domésticos (bolsa, real/dólar e curva de juros) e no aumento da confiança de empresários e consumidores.

No campo político, sua principal vitória foi a aprovação da PEC do teto de gastos em um tempo relativamente curto. E apesar das dificuldades, as reformas da previdência e trabalhista seguem avançando no Congresso.

A agenda microeconômica também tem avançado. O PPI começou a sair do papel, sendo que as disputas têm apresentado boa concorrência e elevados ágios.

O fim da obrigatoriedade pela Petrobrás da exploração do pré-sal, a aprovação do projeto de terceirização, a agenda para reduzir o custo do crédito no Brasil (BC+) do Banco Central e a reorientação da política externa são outros exemplos de avanço na gestão econômica. Também vale mencionar a reforma do ensino médio, que visa modernizar o ensino no país.

Houve melhora na governança das estatais, principalmente com a aprovação da lei de responsabilidade das estatais. Apesar de não ser uma estatal, no caso da Vale, uma empresa na qual o governo ainda tem influência, optou-se por uma indicação técnica e profissional para sua presidência. E um avanço geral da gestão dessas empresas, como pode ser visto pelo resultado positivo, e acima do esperado, da Petrobras.

Em termos de resultado, a inflação que chegou a ficar acima dos dois dígitos no início de 2016, atualmente está abaixo do centro da meta, fato que abre espaço para um agressivo ciclo de corte de juros pelo Banco Central. A atividade voltou a crescer neste primeiro trimestre depois de oito trimestres consecutivos de queda, na maior crise econômica da história do país, e os balanços de várias empresas já mostram uma situação mais animadora.

Apesar das dificuldades ainda presentes, como o elevado desemprego, o horizonte para o futuro hoje é bem mais promissor do que há um ano."

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