Economia

Dólar por R$ 3 ou R$ 4? Com eleição em 2018, tudo é possível

O ano eleitoral deve ser marcado por um PIB bem mais alto, mas com muita volatilidade; veja a previsão de 9 analistas

Dólar e real: moeda brasileira tem novamente forte queda, mas pode se recuperar com avanço da vacinação (Foto/Thinkstock)

Dólar e real: moeda brasileira tem novamente forte queda, mas pode se recuperar com avanço da vacinação (Foto/Thinkstock)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 19 de dezembro de 2017 às 17h58.

Última atualização em 19 de dezembro de 2017 às 18h46.

As eleições geram o maior risco volatilidade no mercado em 2018 e se sobrepõem à reforma da Previdência, que domina o noticiário nesta virada de ano.

Dependendo da evolução do quadro político, analistas veem espaço tanto para o dólar cair a menos de R$ 3,00 e a bolsa disparar até 100.000 pontos quanto para o câmbio voltar ao patamar de R$ 4,00 e o Ibovespa despencar a 50.000 pontos.

Na “economia real”, as avaliação são mais nitidamente positivas. É praticamente consenso que o PIB deve acelerar e a inflação e os juros tendem a permanecer baixos, mesmo que a mudança da Previdência fique para o próximo governo. Alta de juros nos EUA é vista como risco, mas por ora cenário externo é favorável aos países emergentes.

Veja a seguir o cenário traçado por especialistas ouvidos pela Bloomberg em relação às perspectivas para o próximo ano.

Maílson da Nóbrega, ex-ministro e sócio da Tendências

Temer tende a deixar a reforma para 2019 caso veja risco na votação, pois eventual derrota teria efeito pior no mercado que o adiamento. Reforma tem chances se houver sucesso na campanha de mostrar que é contra privilégios.

Caso a Previdência passe e candidato de centro se consolide, dólar pode cair abaixo de R$ 3,00, permitindo ao BC cortar Selic a 6,5%. Rejeição da reforma combinada com turbulências eleitorais levaria dólar a mais de R$ 4,00.

Apesar da volatilidade esperada, país tem reservas abundantes, indicadores apontam retomada do PIB e economia e está “longe de uma crise cambial ou bancária”. Chance de candidato de centro ser eleito é de 70% em 2018 caso partidos lancem nome único. Lula, se eleito, será um ”mergulho no desconhecido” e deve gerar reação muito negativa do mercado.

Alberto Ramos, economista-sênior do Goldman Sachs

Economia deve crescer 2,7% em 2018, com recuperação cíclica que vem de margem de ociosidade gigante e beneficiada pelo estímulo monetário. Mercado não reagiu de forma “extremamente negativa" ao adiamento da reforma, mas eleição representa risco importante.

É necessário elemento de continuidade da política macro que foi implementada após o impeachment de Dilma. Não há garantia de agenda reformista após eleição, há risco de guinada populista e um segundo risco, relacionado à capacidade do presidente eleito de implementar sua agenda.

Toda ou uma parte razoavelmente grande a reforma da Previdência fica para 2019, diante dos sinais de que o governo Temer tem encontrado dificuldades para convencer o Congresso.

André Carvalho e Marina Valle, analistas do Bradesco BBI

Banco vê Ibovespa em 90.000 pontos no final de 2018. Probabilidade é de 80% para ajuste fiscal continuar após as eleições, o que impulsionaria bolsa a até 100.000 pontos. Chance de 20% para o ajuste ser interrompido, o que derrubaria o índice a 50.000 pontos. Múltiplos da bolsa parecem atraentes.

PIB e recuperação dos lucros ainda são o principal tema de investimento no próximo ano. Banco recomenda ações cíclicas e setores que devem se beneficiar da queda dos juros.

Ronaldo Patah, estrategista do UBS Wealth Management

UBS prevê crescimento de 3,1% para Brasil em 2018 em meio a cenário de crescimento global sincronizado. Previsão é de PIB global de +3,9%, ante +3,8% em 2017, favorecendo os países emergentes e o mercado de commodities.

“Se cenário interno for minimamente construtivo, deve vir bastante investimento para o Brasil”, diz.

Banco abriu posição comprada em moedas emergentes e renda fixa local em países emergentes. No Brasil, mesmo que juros estejam em recorde histórico de baixa no Brasil, 7% ainda é uma das mais altas taxas do planeta.

Neil Shearing, economista-chefe emergentes da Capital Economics

As eleições representam o principal risco para o mercado em 2018, mas não necessariamente para a economia.

"Os mercados estão complacentes com ameaça de uma mudança populista - para a direita (Bolsonaro) ou para a esquerda (Lula). Com as coisas como elas estão neste momento, os candidatos de centro estão enfrentando uma dura batalha”.

Probabilidade de uma reforma da Previdência significativa antes da eleição parece pequena. “Então minha visão é de que tudo isso cria o potencial para um revés nos mercados financeiros”. Projeções para 2018 são de PIB de +2,8%, Selic a 8% e taxa de câmbio a R$ 3,50 no fim do ano.

Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos

2018 deve ser ano de colher os frutos da atividade econômica, após 2017 ser o ano de colher frutos bons na inflação. Há um crescimento que está contratado. Previsão de PIB de +3% em 2018 e ainda vai trabalhar cenário de 2019, após eleição.

"Vou aguardar o próximo presidente. Se ele tropeçar, vamos ter um quadro diferente, não terá efeito da política monetária e teremos risco de subir muito os juros em 2019. Se fizer reforma muito limitada, haverá pressão cambial, alta da Selic mais expressiva em 2019", diz.

Selic deve cair a 6,5% e ficar estável em 2018. Câmbio deve andar de lado, com alguma volatilidade, sem tendência. Dólar deve oscilar entre R$ 3,10 a R$ 3,40.

Carlos Gribel, chefe da área de renda fixa da Andbanc Brokerage

"Vejo 2018 com muita volatilidade principalmente a partir de março", diz. Dólar deve ficar pressionado e Selic, no mínimo, para de cair depois de fevereiro. “Pode ser que até suba ainda ano que vem dependendo da temperatura política e do rebaixamento do rating soberano, se houver".

Há chance de a reforma da Previdência passar em fevereiro e o governo vai tentar usar um possível rebaixamento como forma de pressão para conseguir os votos. Se não passarem a reforma, o rebaixamento virá logo depois.

"Não quer dizer que seja o fim do mundo, pois não muda em nada a capacidade de as empresas brasileiras pagarem as dívidas e nem deve haver uma onde vendedora muito grande” pois o país já é junk. Mais preocupante é o quadro eleitoral, que pode gerar fuga de investidores com possível eleição de Lula.

Rodrigo Melo, economista-chefe da Icatu Vanguarda

Prevê PIB de +2,7% , com inflação de 3,9% e Selic de 6,75% em 2018. Eventual reforma em fevereiro poderia ter algum impacto positivo, mas adiamento não deve afetar negativamente as previsões, que já não incorporam a aprovação.

Governo poderia tentar preservar otimismo do investidor com medidas que não dependem de emendas constitucionais e poderiam ser aprovadas mesmo em ano eleitoral, além de leilões de concessões.

Impacto de não-aprovação da reforma seria maior em 2019, gerando urgência ainda maior de aprovação da proposta pelo novo governo já no início de seu mandato. Próximo ano pode ser de volatilidade diante de uma eleição com participação de candidatos que não são “amigáveis ao mercado”.

Além das eleições, alta dos juros nos EUA também é um risco a ser monitorado, sobretudo em caso de aumento acima do previsto da inflação americana.

Juan Jensen, sócio e economista da 4E Consultoria Econômica

Antes das eleições, receio de vitória de candidato populista pode levar dólar a perto de R$ 4,00. Se um reformista vencer, dólar recua para R$ 3,40 até final do ano. Volatilidade não deve ser igual à de 2002, mas deve ser maior do que em 2014.

Mercado tende a começar a precificar mais a eleição a partir de maio e junho. Lula tende a ser condenado, diz Jensen, mas há risco de recorrer e manter candidatura, gerando incerteza. Economia avança, mas eleições podem inibir investimentos e impedir maior aceleração do PIB.

4E prevê +1,9% para PIB, abaixo da mediana do mercado na pesquisa Focus. Consumo deve continuar puxando crescimento.

Gráfico da Bloomberg com expectativas para PIB em 2018

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