Economia

O pior já passou? Economia global dá sinais de estabilização

Uma das principais razões para a possível virada é a onda de cortes de juros pelos bancos centrais globais.

Comércio mundial: esperanças na ‘Fase Um’ de um acordo comercial entre China e EUA e o menor temor de um Brexit sem acordo estimularam sentimento (anucha sirivisansuwan/Getty Images)

Comércio mundial: esperanças na ‘Fase Um’ de um acordo comercial entre China e EUA e o menor temor de um Brexit sem acordo estimularam sentimento (anucha sirivisansuwan/Getty Images)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 9 de novembro de 2019 às 08h00.

Última atualização em 9 de novembro de 2019 às 09h00.

Quem sabe o pior já passou na maior desaceleração da economia mundial em uma década.

Uma onda de cortes de juros pelos bancos centrais, inclusive nos EUA, e maiores esperanças em um acordo comercial entre EUA e China aumentam a confiança nos mercados financeiros, ao mesmo tempo em que importantes indicadores econômicos mostram sinais de estabilização após quedas recentes.

Ainda não se espera uma recuperação robusta, porém a melhora relativa pode aliviar o temor de apenas algumas semanas atrás, quando se dizia que a economia mundial estava se aproximando da recessão.

Aparentemente, esse contexto é suficiente para Jerome Powell, o presidente do banco central americano (Federal Reserve), e outras autoridades implementarem uma pausa na distribuição de estímulo monetário.

“Vemos várias razões para estabilização no crescimento global em 2020 versus 2019”, disse David Mann, economista-chefe da Standard Chartered em Cingapura, que compartilha a expectativa do Fundo Monetário Internacional de aceleração da expansão global no ano que vem.

Entre os motivos de confiança está o fato de o índice global da indústria de transformação do JPMorgan Chase ter se aproximado do território positivo, com fortalecimento de produção e encomendas, apesar de ter recuado pelo sexto mês consecutivo em outubro.

Nos EUA, o indicador de atividade fabril do Institute for Supply Management (ISM ou Instituto de Gestão de Suprimentos) se estabilizou em outubro. Na sexta-feira, o governo anunciou criação de empregos acima do esperado e os dados de contratações dos dois meses anteriores foram revisados para cima. O índice ISM para o setor de serviços também dá sinais de avanço.

Na Europa, também há sinais favoráveis, após uma fase de pressões oriundas da guerra comercial e do Brexit. Na zona do euro, a economia cresceu mais do que o previsto no terceiro trimestre. Embora a Alemanha talvez já esteja em recessão, o Instituto Ifo relatou melhora das expectativas das fábricas associadas em outubro.

Na Ásia, os estoques de semicondutores na Coreia do Sul registraram em setembro o maior recuo em mais de dois anos, sinalizando que a fase de fraqueza do setor de tecnologia global está chegando ao fim.

Os mercados financeiros estão em sintonia com esse otimismo. Os principais índices acionários dos EUA bateram recordes na segunda-feira e o rendimento dos títulos do Tesouro americano com prazo de 10 anos subiu. As bolsas também avançaram na Europa e Ásia.

“Eu apenas observo a combinação fiscal/monetária, é a mais estimulante que já vi”, disse o bilionário Paul Tudor Jones, gestor de fundos de hedge, na terça-feira. “Não é de admirar que o mercado acionário esteja atingindo novas máximas. É literalmente o ambiente mais propício, certamente no curto prazo, para crescimento e força da economia que eu já vi.”

“As esperanças na ‘Fase Um’ de um acordo comercial e o menor temor de uma saída do Reino Unido da União Europeia sem acordo estimularam o sentimento. Isso é evidente no mercado de ações e em alguns levantamentos feitos em outubro. Se isso vai se provar apenas um soluço em uma trajetória descendente depende de EUA e China solidificarem a trégua comercial”, diz Tom Orlik, economista ligado a Bloomberg.

Uma das principais razões para a possível virada é a onda de cortes de juros pelos bancos centrais globais. Das 57 instituições monitoradas pela Bloomberg, mais da metade baixou taxas este ano. O Fed fez isso três vezes e o Banco Central Europeu empurrou a taxa de depósito para território ainda mais negativo. Reduções nos juros têm efeito defasado, de modo que o impacto positivo da flexibilização monetária ainda não se espalhou completamente, o que sugere mais impulso adiante.

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