Notas de real: o primeiro trimestre ainda mostrou o país em recessão profunda (Stock.xchng/ Afonso Lima)
Da Redação
Publicado em 1 de junho de 2016 às 21h52.
O dado do PIB divulgado hoje fecha a rodada dos resultados econômicos totalmente debitáveis na conta de Dilma Rousseff, afastada da presidência desde 12 de maio.
O primeiro trimestre ainda mostrou o país em recessão profunda, mas a queda da produção foi “menos ruim” que o previsto e, combinada à mudança de governo, reforça os sinais de luz no fim do túnel da economia.
Para Bruno Rovai, economista do banco Barclays, o setor externo foi o principal motivo de o PIB ter caído menos que o previsto. A queda foi de 0,3% no primeiro trimestre do ano ante o trimestre anterior, bem menos do que a estimativa do mercado de -0,8%. Foi um sinal de que a economia já chegou ao “fundo do poço”, afirma o economista.
O efeito do câmbio, estimulando as exportações e desestimulando as importações, tem sido um amortecedor para a economia, ajudando a amenizar a recessão, diz o economista. Neste ano, surgiu outro fator: o impeachment de Dilma. A expectativa de que o governo Temer tenha maior sucesso no ajuste da economia já vem favorecendo uma melhora nos indicadores de confiança, como os da indústria e comércio, diz Rovai.
Apesar da recessão ter sido menos aguda no começo do ano, o mercado está longe de mostrar um otimismo aberto. “Sabemos que o processo de recuperação da economia será muito gradual e não dá ainda para dizer que estamos entrando em velocidade de cruzeiro”, diz Silvia Matos, economista da FGV. “A indústria está vindo melhor um pouco, com exportação e algum sinal tênue de substituição de importação.”
Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho, questiona o fato de o PIB do primeiro trimestre ter sido ajudado pelo aumento dos gastos do governo. Foi um resultado produzido “de forma artificial”, afirma, lembrando que estes gastos não devem ser mantidos devido ao ajuste fiscal. “A boa notícia é que o nível de contração já está diminuindo.”
A melhora da confiança do consumidor pode demorar um pouco mais devido ao emprego, que voltou a piorar em abril e tende a levar mais tempo que outros índices para se recuperar, diz Rovai, do Barclays. O desemprego alto, no entanto, deve ajudar a manter a trajetória de baixa das expectativas de inflação, abrindo espaço para a redução dos juros. Rovai acredita que o Banco Central iniciará o corte da Selic em agosto.
A queda do PIB acumulada no período ainda foi dramática, de 4,7%, mas Rovai estima uma contração menor, de 3,1%, no resultado fechado de 2016, ante 3,85% no fechamento de 2015. O dado do 1º trimestre, diz o economista, corroborou a ideia de que o “pico da recessão” ficou em 2015.