Zeina Latif é uma das principais analistas econômicas do Brasil (XP/Divulgação)
Clara Cerioni
Publicado em 7 de abril de 2020 às 12h18.
Última atualização em 7 de abril de 2020 às 13h58.
Zeina Latif, uma das principais analistas econômicas do Brasil, avalia que "todo o ocidente" errou para entender a complexidade da crise do novo coronavírus e que o Brasil demorou mais do que os países vizinhos para agir. Apesar da letargia inicial, no entanto, a economista vê que, agora, o governo federal e o Congresso têm tido clareza nas prioridades, mas ainda há um campo nebuloso para enfrentar: "se na saúde o cenário é incerto, imagina na economia", diz.
Latif foi a convidada desta terça-feira, 7, na série exame.talks. e conversou com os repórteres Gabriela Ruic e João Pedro Caleiro sobre os desafios econômicos do novo coronavírus e a resposta do governo brasileiro.
A economista diz que são positivas as medidas de transferências de recursos para a saúde, que hoje já somam cerca de 14 bilhões de reais, e aprova a iniciativa de renda básica para os trabalhadores informais. Mas já antecipa que "nada vai ser suficiente. É um tsunami. Vai passar, mas vamos ter uma digestão de tudo isso aos poucos".
Ela aposta em uma superação da crise para o Brasil por meio de mais coesão da sociedade, com mais solidariedade e menos oportunismo, algo que Latif diz ter "medo".
"Quando você tem sociedades mais coesas, mais solidárias é mais fácil para fazer reformas e encontrar saídas para nossas crises", diz acrescentando que a solidariedade não é só nas relações cotidianas, mas também da desigualdade abissal que existe no Brasil. "Quem pode pagar as contas, pague as contas. Quem pode tem que fazer a sua parte. Porque se todo mundo for recorrer para políticas públicas, teremos problemas".
As questões operacionais das políticas públicas anunciadas, destaca, não são fáceis de serem interpretadas e colocadas em práticas, sem fazer com que o gestor lá na frente não seja alvo de medidas judiciais. "É difícil desenhar e é difícil implementar", afirma, acrescentando que é um esforço conjunto entre Banco Central, Tesouro Nacional, entre outros agentes ativos.
Segundo a economista, as recomendações de políticas econômicas hoje são diferentes da crise de 2008: "não se trata de estimular a economia agora, mas de garantir a sobrevivência". Para exemplificar as diferenças, Latif mostrou as mudanças no papel dos bancos.
"Em 2008, banqueiros centrais precisaram entrar comprando dívidas e colocar bastante liquidez para evitar uma crise sistêmica que era latente", explicou acrescentando que "hoje, os bancos estão com indicadores sólidos, segundo o Banco Central, o que está se fazendo é injetar liquidez na economia por vários canais, para que não encareça o crédito e haja espaço para que o dinheiro chegue na ponta".
Ela alerta, no entanto, que hoje, o maior desafio, é que "a gente não consegue dizer quanto tempo vamos ficar no isolamento", porque não há uma compreensão sobre o cenário completo dos desafios que a saúde ainda vai enfrentar. "Os diagnósticos da saúde estão incompletos e assim não conseguimos tratar estratégias adequadas para sabermos quando vamos passar por essa crise", diz.
Outro ponto de atenção que a economista cita é que a crise do coronavírus expôs problemas estruturais do Brasil, que fazem com que exemplos internacionais não sejam tão fáceis de serem reproduzidos por aqui. "Temos sérios problemas de saneamento nas comunidades. Então como você vai fazer isolamento vertical em um país que tem famílias morando em espaços pequenos?", questiona.
O Comitê de Contingência do Coronavírus do governo federal deve permanecer ativo por vários meses, uma vez que alguns problemas econômicos decorrentes da pandemia, diz a economista, ainda vão aparecer e precisarão ser resolvidos nos próximos anos.
Questionada se ela espera uma recuperação a níveis anteriores à crise da covid-19 ainda neste ano, Latif voltou a dizer que o cenário ainda é muito incerto: "E se for necessário mais confinamento? E se tivermos o risco de liberar e termos uma segunda onda da doença?".
Contudo, em um cenário básico de quando a crise chegar o fim, a avaliação é que a recuperação não será rápida, com projeção de que até no ano que vem ainda haverá resquícios da recessão do coronavírus.
Para os consumidores, a expectativa de retorno é lenta porque vai impactar o desemprego, a confiança dos consumidores que vão consumir menos, o nível de endividamento das famílias e inadimplência.
Para as empresas, as projeções também são lentas, apensar de mais heterogêneas: "muitos setores já estavam defasados anteriormente e isso significa que a volta da economia vai ser lenta, com risco de bastante judicialização, que demoraremos para digerir".
Ela retoma, no entanto, que lá na frente, as medidas tradicionais de estímulos serão necessárias.
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