Economia

O motivo real da queda das vendas de carros nos EUA

Após sete anos de vendas robustas, o mercado automotivo dos EUA está derrapando, e a culpa está nos ferros-velhos

Carros nos Estados Unidos: nas últimas duas décadas, cerca de 13 milhões de veículos deixaram a frota dos EUA todos os anos (Justin Sullivan/Getty Images)

Carros nos Estados Unidos: nas últimas duas décadas, cerca de 13 milhões de veículos deixaram a frota dos EUA todos os anos (Justin Sullivan/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 8 de agosto de 2017 às 12h10.

Detroit tem vivido meses difíceis. Após sete anos de vendas robustas, o mercado automotivo dos EUA está derrapando.

O segmento de carros e caminhonetes nos EUA é muito fácil de entender, mas um olhar sobre alguns indicadores pode gerar algumas incertezas.

Nos últimos 20 anos, o número de motoristas habilitados subiu cerca de 2 milhões por ano (Uber e Lyft não conseguiram diminuir isso). Da mesma forma, o número de veículos registrados aumentou cerca de 3 milhões por ano.

Certamente existem aberrações, mas considerando esses números e a economia atual -- com um mercado de trabalho forte, financiamento relativamente acessível e gasolina barata -- é razoável perguntar por que, então, as vendas de carros estão em queda.

O único fator realmente inesperado no mercado automotivo dos EUA é a taxa de substituição, ou seja, a frequência com que carros e caminhonetes estão percorrendo o caminho até o ferro-velho. Este é, talvez, o ponto por onde os executivos do setor devem ter visto a desaceleração chegando.

Nas últimas duas décadas, cerca de 13 milhões de veículos deixaram a frota dos EUA todos os anos, muito menos do que o número de veículos novos vendidos nos últimos cinco anos.

Os clientes interessados em subir de categoria mantiveram o mercado aquecido durante algum tempo, mas esse desequilíbrio finalmente alcançou as fabricantes. Se mais veículos continuam nas ruas, menos deixam as concessionárias.

“Isso não é segredo”, disse Kevin Tynan, analista da Bloomberg Intelligence. “Não é como se ninguém soubesse que estávamos atrasados no ciclo.”

Os americanos ainda tendem a ter mais de um veículo por pessoa, mas estão mantendo esses veículos por mais tempo. Na média, os carros ou caminhonetes que rodam atualmente nos EUA foram produzidos em 2005. Eles ainda estão nas ruas porque, bem, ainda estão nas ruas.

Os veículos fabricados nos últimos 15 a 20 anos são muito mais confiáveis do que seus antecessores. O setor automotivo dos EUA está em dificuldades, em parte, por ter feito um trabalho muito bom.

Ao mesmo tempo, o ritmo acelerado das inovações pode estar piorando ainda mais a situação.

Com cada avanço nos conjuntos de transmissões elétricas e na direção autônoma, é mais fácil imaginar uma máquina que será um divisor de águas, e a perspectiva para tanto leva alguns compradores potenciais para a categoria dos que estão esperando para ver.

Por que comprar um carro novo agora quando o carro dos seus sonhos está tão próximo?

Um Toyota Camry 2017, por exemplo, ainda não é muito diferente da versão 2007. Quem dirige a versão atual, no entanto, pode imaginar um Camry 2020 que vai trafegar sozinho e será movido por elétrons.

Esta é uma das principais razões pelas quais a taxa de leasing nos EUA aumentou em quase um terço, segundo Tynan. Os clientes, preocupados com a possibilidade de uma máquina se tornar obsoleta muito rapidamente, estão preferindo um empréstimo de três anos a uma compra definitiva.

Os executivos do setor automotivo, é claro, sabem disso melhor do que ninguém, e é provável que nenhum diretor de Detroit tenha se surpreendido com os últimos números de vendas. Só que frear não é divertido. Atender a um mercado que está desacelerando significa distribuir bilhetes azuis. E há certo orgulho a ser levado em conta. A combinação certa de veículos -- um SUV novo em folha ou um pod elétrico dos sonhos que aparece no deserto -- poderia ser algo pensado apenas para conter uma queda cíclica.

“Pela forma em que o setor sempre trabalhou, você obtém tudo o que pode enquanto pode”, disse Tynan. “Quando o ritmo do setor muda, você lida com isso.”

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