Região da fábrica da Foxconn em Shenzhen: Wu, trabalhador migrante, faz parte dos beneficiados pelo modelo de crescimento chinês destinado à exportação (©AFP / AFP)
Da Redação
Publicado em 1 de novembro de 2012 às 17h14.
Shenzhen - Na fábrica da Foxconn de Shenzhen, onde meio milhão de trabalhadores fabricam todo tipo de componente eletrônico, aumenta a angústia com a desaceleração da economia chinesa. O emprego será o maior desafio para os novos líderes do país, que serão escolhidos na próxima semana em Pequim.
Motor do milagre econômico, as fábricas de Shenzhen e da província vizinha de Cantão (sul), dedicadas a exportar à Europa e aos Estados Unidos, foram afetadas fortemente pela queda da demanda ocidental. A agitação trabalhista é notável.
Esta deterioração da conjuntura não podia ser produzida em pior momento para o Partido Comunista Chinês (PCC), que construiu sua legitimidade fazendo com que milhões de chineses saíssem da pobreza com a criação anual de milhões de empregos.
Em dez anos, sob a égide de Hu Jintao, que deixará o poder no XVIII Congresso do PCC que começa na próxima quinta-feira, a China passou do sexto ao segundo lugar da economia mundial, graças a um crescimento anual médio de 10%.
Contudo, em 2012 deve haver uma queda, pois é esperado um crescimento de 7,5%, o mais baixo desde 1999.
"Neste momento, temos realmente muitos problemas. Algumas empresas estão paralisando progressivamente suas produções. Por isso, esperamos dos dirigentes uma política", disse à AFP, Wu Yuanguang, 30 anos, que trabalha na Foxconn.
Wu é solteiro e trabalha na cadeia de produção da gigantesca fábrica, propriedade de um magnata de Taiwan, que abastece Apple, Sony, Nokia e muitas outras. Como milhões de colegas, ele vive nos dormitórios lotados de uma torre em uma zona industrial central de Shenzhen.
A fábrica da Foxconn está envolvida em polêmicas como a de uma onda de suicídios de seus empregados que se atiram das altas torres-dormitório e, recentemente, uma relacionada à utilização ilegal de menores.
Seus trabalhadores estão entre os mais bem pagos da China, com salários de até 3.000 yuanes (cerca de 480 dólares) mensais por 10 horas de trabalho diário, seis dias na semana.
Wu, trabalhador migrante, faz parte dos beneficiados pelo modelo de crescimento chinês destinado à exportação.
Na China, a renda per capita quase duplicou em dez anos, chegando a 21.810 yuanes (3.460 dólares) nas zonas urbanas no ano passado.
No entanto, a maioria dos 253 milhões de trabalhadores migrantes que são a base da prosperidade das cidades constitui uma população "flutuante", "cidadãos de segunda categoria" privados do indispensável "huku", a permissão de residência que dá acesso à proteção social e às escolas para seus filhos.
O descontentamento cresce. As expectativas dos trabalhadores mudaram e o desafio será gigantesco para o próximo presidente chinês Xi Jinping, de 59 anos.
"Precisamos de uma política melhor para as zonas rurais e para os trabalhadores migrantes como nós", disse Wu, antes de se queixar de que a "diferença das receitas é enorme: os que têm dinheiro são cada vez mais ricos, e os pobres cada vez mais pobres. É injusto", disse.
De fato, o mal-estar social não para de crescer e as manifestações, licenças por motivo de doença - a palavra "greve" está proibida - e incidentes diversos se multiplicam, em particular nas províncias vizinhas de Cantão, apesar da ausência de sindicatos independentes, proibidos, disse o Boletim Trabalhista da China, um observatório dos movimentos sociais com sede em Hong Kong.
"Salários, condições trabalhistas decentes e proteção social são as preocupações fundamentais da maioria dos trabalhadores", declarou à AFP, Geoffrey Crothall, um especialista deste observatório.
"Contudo para a maior parte das pessoas na China, o caminho continua sendo árduo. Os salários aumentaram, mas porque partiram de um nível muito baixo", disse.
Para os próximos dirigentes comunistas, a saúde dos mercados europeu e norte-americano será vital, já que isso permitirá responder ou não às demandas da população chinesa.
Um novo programa de incentivo econômico estaria sendo estudado e estaria sendo nutrido com as receitas fiscais e do enorme superávit comercial acumulado em dez anos: 3 trilhões de dólares, dez vezes mais que em 2002.
O objetivo é reduzir a dependência chinesa de suas exportações e estimular o consumo interno.
Para isso, terá que aumentar os salários, com o risco de acelerar a tendência dos empresários ocidentais de deslocar o trabalho a outra parte ou até repatriá-lo.
"A cúpula dirigente que deixa o poder falou muito nestes dez anos de reequilibrar a economia reduzindo o investimento. A necessidade de atuar agora é premente", consideram os analistas da Capital Economics, Mark Williams e Wang Qinwei, em seu relatório de outubro.