Déficit em conta corrente brasileiro é "irritante", mas não determinante (Thinkstock Photos/Thinkstock)
João Pedro Caleiro
Publicado em 10 de setembro de 2018 às 14h37.
Última atualização em 10 de setembro de 2018 às 14h38.
O real e a lira se desvalorizaram o suficiente para corrigir os déficits em conta corrente do Brasil e da Turquia, mas as moedas da África do Sul e Argentina talvez precisem recuar ainda mais para isso acontecer, de acordo com novo estudo da Bloomberg Economics.
Em um ambiente de alta do dólar e da taxa básica de juros nos EUA, investidores estão se livrando de moedas de países emergentes onde percebem falhas na economia, como grandes déficits comerciais.
A notícia relativamente boa para o governo em Ancara é que o tombo da lira ao longo de 2018 foi “mais do que o necessário para fechar o amplo déficit em conta corrente do país”, de acordo com relatório publicado nesta segunda-feira pela equipe da Bloomberg Economics liderada por Jamie Murray.
A conclusão se baseia em uma análise da relação entre oscilações cambiais e fluxos comerciais. Murray e seus colegas entendem que a taxa de câmbio real efetiva (corrigida pela inflação) da Turquia caiu 32 por cento neste ano, mas só precisava recuar 29 por cento.
“Erros nas políticas” governamentais são a explicação provável da queda mais acentuada da lira, segundo o relatório.
As opiniões heterodoxas do presidente Recep Tayyip Erdogan sobre política monetária e o “déficit de credibilidade” das autoridades — incluindo a reação lenta do banco central — provavelmente motivaram a desvalorização adicional desnecessária da lira, de acordo com a análise.
No caso do Brasil, o déficit em conta corrente não foi o que levou investidores se livrarem do real, mas um fator “irritante” que contribuiu para o movimento. A piora na perspectiva de crescimento, a ampliação do déficit fiscal e a incerteza eleitoral levaram a uma depreciação da moeda brasileira em termos reais de 12 por cento, mas bastariam 6 por cento para reequilibrar o déficit em conta corrente.
Já as moedas da Argentina e África do Sul talvez precisem recuar mais para fechar os déficits. O peso precisaria cair 51 por cento para eliminar o déficit na Argentina, mas a depreciação corrigida pela inflação foi de 33 por cento desde o começo do ano. A intervenção agressiva das autoridades ajudou a amenizar as perdas.
Na África do Sul, o otimismo do setor privado com o novo presidente e as cotações dos metais preciosos podem dificultar depreciação adicional do rand para fechar o déficit em conta corrente.
Em outro relatório publicado nesta segunda, a Nomura Holdings concluiu que Sri Lanka, África do Sul, Argentina, Paquistão, Egito, Turquia e Ucrânia correm risco de enfrentar crises cambiais.