Investidores (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 10 de janeiro de 2012 às 19h22.
São Paulo – Verdade ou mito? Nos últimos 22 anos, a economia do Japão teve um baixo nível de crescimento. O período de estagnação foi popularmente classificado pelos analistas como “as duas décadas perdidas”. Mas será que o país asiático foi fortemente prejudicado?
Desde a crise iniciada nos anos 90, quando ocorreu a chamada bolha de preços de ativos, a economia japonesa está estagnada, e caiu nos últimos anos da segunda para a terceira posição no ranking das maiores economias do mundo, atingindo cerca de 10 trilhões de dólares em dívida à medida que tentava estimular o crescimento.
Tomando como referência os Estados Unidos, considerados a maior economia do mundo, os números oficiais do Produto Interno Bruto (PIB) mostram que a taxa de expansão americana é consideravelmente superior a registrada pelo país asiático entre 1989 e 2011.
Para Eamonn Fingleton, colunista do jornal americano The New York Times e que previu a crise financeira nipônica em 1990, a visão de que o Japão viveu “duas décadas perdidas” é um mito, já que muitas conquistas foram feitas em diferentes aspectos.
Em recente artigo publicado, ele destacou que a melhor maneira de se medir o crescimento de uma economia é através do uso do PIB per capita. O resultado encontrado entre 1989 e 2011 é que os Estados Unidos tiveram expansão média de 1,4%, ao mesmo tempo em que o Japão cresceu 1% em média. “É uma diferença (0,4%) muito mais estreita do que as pessoas imaginam”, explica Fingleton.
Ele chama a atenção para as características da população de cada país e diz que fatores demográficos justificam esta diferença. Fingleton ressalta que mais da metade da população do Japão tem mais de 45 anos e, mesmo com menos adultos jovens, a maioria dos japoneses conseguiu enriquecer no decorrer da última década. Além disso, a população nipônica diminuiu nos últimos 22 anos, ao mesmo tempo em que a americana cresceu.
Outros méritos
O colunista ainda apontou outras conquistas feitas pelo Japão e que colocam em xeque o uso da expressão "décadas perdidas":
> O país asiático conseguiu entregar um estilo de vida cada vez mais rico para o seu povo, apesar da crise financeira. A expectativa de vida da população nipônica disparou 4,2 anos entre 1989 e 2009, subindo de 78,8 anos para 83 anos. Isso significa que os japoneses estão vivendo 4,8 anos a mais que os americanos. O progresso foi atribuído à dieta e aos incentivos aos cuidados com saúde;
> Os progressos notáveis em infraestrutura de internet no Japão desbancam os observados nos Estados Unidos. Embora na década de 90 a rede de conexões em território japonês era ridicularizada, o país asiático conseguiu virar o jogo. Uma pesquisa da Akamai Tecnologies mostra que, das 50 cidades com o serviço de internet mais rápido do mundo, 38 eram japonesas, contra apenas três nos EUA;
> Com sua medição sendo feita a partir de 1989, a moeda nipônica se valorizou 87% frente ao dólar americano e 94% diante da libra esterlina no decorrer dos últimos 20 anos. A divisa ainda supera até o desempenho do franco suíço;
> A taxa de desemprego atual é de 4,2% no Japão, representando menos da metade do registrado nos Estados Unidos;
> Desde que as duas décadas perdidas tiveram início nos anos 90, os edifícios e arranhas-céus mais altos (com mais de 152 metros ou 500 pés) foram construídos em Tóquio. São 81 no total, contra 64 em Nova York, 48 em Chicago e sete em Los Angeles, segundo dados do site SkiycraperPage.com, que monitora edifícios ao redor do mundo;
> O superávit em conta corrente do Japão totalizou US$ 196 bilhões em 2010, mais do que triplicando frente ao visto em 1989. O déficit em conta corrente dos Estados Unidos, por sua vez, avançou de US$ 99 bilhões para US$ 471 bilhões em igual período;
> Na década de 90, esperava-se que o Japão fosse o mais prejudicado com o crescimento do comércio chinês. Na outra ponta, o grande beneficiado seria os Estados Unidos. Para surpresa de todos, aconteceu exatamente o contrário. O Japão elevou as exportações para a China em mais de 14 vezes desde 1989, mantendo um equilíbrio no comércio bilateral entre as duas nações;
> Outro mérito do Japão está até na gastronomia: Tóquio concentra 16 dos melhores restaurantes do mundo, enquanto Paris na França (considerada a capital da gastronomia mundial) possui apenas 10, de acordo com dados do Guia Michellin;
> Na área de tecnologia, o Japão também está à frente. Em celulares, por exemplo, os japoneses ultrapassaram os americanos no espaço de poucos anos na década de 1990, e se mantiveram na dianteira desde então, com os consumidores trocando seus aparelhos por dispositivos cada vez mais avançados.