Economia

O brasileiro não esquece: afinal, nota de R$ 200 é sinal de inflação?

Preocupação tem sido levantada por assinantes da Exame Research que possuem a experiência do longo período inflacionário brasileiro

Notas de 100 reais sendo impressas (MediaProduction/Getty Images)

Notas de 100 reais sendo impressas (MediaProduction/Getty Images)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 4 de agosto de 2020 às 06h00.

Última atualização em 4 de agosto de 2020 às 18h36.

A preocupação com inflação saiu de cena no Brasil de uns anos para cá, mas não da cabeça do brasileiro.

Mesmo com o IPCA, medida oficial da variação dos preços, bem abaixo do piso da meta oficial de 2020, a notícia sobre a nova nota de R$ 200, anunciada pelo governo na semana passada, acendeu um sinal amarelo na cabeça de muitos brasileiros: afinal, cédulas mais altas não são sinal de inflação?

A preocupação foi levantada por assinantes da Exame Research que possuem a experiência do longo período inflacionário brasileiro, segundo o economista da Casa de análise, Artur Mota.

O mercado prevê uma alta de 1,63% para o IPCA em 2020, para quando o centro da meta oficial é de 4%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais (5,5%) ou menos (2,5%). E o cenário segue sob controle pelos três anos seguintes, pelo menos.

Na teoria mais moderna envolvendo fenômenos monetários, explica Mota, as expectativas de inflação têm importância primordial na determinação do índice futuro, sobretudo em um regime de metas, como é o caso brasileiro.

Gasto recordes, dólar nas alturas

Muito embora os gastos anunciados pelo governo federal em medidas para amenizar os impactos da pandemia sejam recordes, a expectativa é de que o desemprego já alto no país antes da pandemia e ampliado pela crise do coronavírus dificulte o repasse de preços aos consumidores, explica Mota.

O argumento do Banco Central para a emissão da nota é de que a pandemia impulsionou a demanda por papel-moeda no Brasil, sobretudo em função dos saques do auxílio emergencial de R$ 600. Segundo a instituição, as notas nas mãos da população chegam a R$ 342 bilhões, bem acima da média histórica de menos de R$ 300 bilhões.

"Uma quantidade enorme de brasileiros está fora do sistema financeiro (enorme mesmo, próximo de 50 milhões), os quais lidam basicamente com o chamado papel-moeda", diz Mota. "E facilita muito, não só a distribuição como também o transporte e a segurança, ter cédulas com um valor de face maior".

O economista lembra que essa mudança já estava na lista do Banco Central há algum tempo e a demanda crescente agora só acelerou o processo, que, segundo ele, poderá ter continuidade numa eventual aprovação do novo Renda Brasil, pensado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, como um substituto mais amplo para o Bolsa Família.

"É muito mais uma questão técnica e prática do que um efeito monetário para valer", acrescenta.

Por fim, o efeito do dólar valorizado nos preços, apesar de jogar a inflação para cima, não terá a mesma força que o elevado desemprego no consumo: "O desemprego tem muito mais força para jogar a inflação para baixo do que o dólar tem de jogá-la para cima", diz Mota.

Economistas trabalham com uma taxa de desemprego em 17% no fim do ano, bem acima dos atuais 13%, já que muitas pessoas que deixaram de tentar uma oportunidade no mercado de trabalho durante a pandemia devem voltar a procurar ao longo do segundo semestre.

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusInflaçãoMoedasReal

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo