Indústria de alumínio: o setor perdeu importância no PIB brasileiro (Manoel Marques/EXAME.com)
João Pedro Caleiro
Publicado em 12 de março de 2014 às 10h46.
São Paulo – Os números da indústria brasileira divulgados hoje mostram melhora em relação a dezembro, mas queda em relação ao ano passado.
Olhando para o longo prazo, o diagnóstico é claro: o Brasil está se desindustrializando.
A indústria teve em 2013 o menor peso no PIB brasileiro desde 2000, de acordo com os números do IBGE.
Usando outra metodologia, o diagnóstico é ainda mais dramático: em agosto, a Fiesp concluiu que a importância da indústria brasileira voltou para níveis dos anos 50.
O processo lembra o que acontece nos países desenvolvidos desde o final dos anos 70. Mas se a desindustrialização vai chegar eventualmente, por que o Brasil deveria se preocupar?
“Porque a indústria brasileira nunca chegou a atingir seu potencial. Não dá pra falar que essa é uma etapa natural e que podemos passar para o próximo nível”, diz Luciana Suarez, professora de história econômica da FEA-USP.
Um dos argumentos para essa posição é a questão da renda: de acordo com a Fiesp, a desindustrialização aconteceu nas economias avançadas depois que elas atingiram uma renda per capita na faixa dos US$ 19 mil. No Brasil, o processo começou quando ele estava em US$ 7,5 mil.
Outro argumentos de quem defende a indústria é que ela gera encadeamentos positivos para o resto da economia e empregos com melhores condições e remuneração.
Nesse sentido, o problema não é que o Brasil caminhou para o setor de serviços, e sim para quais:
"Os que mais crescem são os atrasados: o financeiro, de vigilância, comunicação, que não geram tanto emprego de qualidade", diz Nelson Marconi, coordenador do Centro de Estudos sobre economia brasileira da escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas.
Para o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nobrega, a questão central não é a desindustrialização em em si, mas como ela aconteceu:
“O processo de transformação estrutural é inevitável e tende a ser mais rápido nas economias que chegaram mais tarde, mas isso não significa que o que estamos vendo no Brasil de hoje é bom. Nossa desindustrialização acelera por deficiências internas e está associada não ao processo natural, mas a uma perda grave de competividade da indústria brasileira, que tem origens mais remotas.”
Raízes
Algumas destas origens são históricas. A partir de 1985, quando a indústria atingiu seu pico, a economia brasileira passou a ser sacudida pela crise da dívida externa e um cenário internacional adverso.
Em 1994, veio o Plano Real, cuja missão era estabilizar a economia e combater a hiperinflação. Isso exigiu abertura comercial, juros altos e câmbio valorizado – um tripé que tornou a indústria mais vulnerável à competição internacional: “com a abertura dos anos 90, foi impossível se acomodar”, diz Nelson Marconi
Mas com exceção de alguns setores, essa “destruição criativa” foi insuficiente para colocar a indústria brasileira no caminho da produtividade em um momento no qual ela se tornava cada vez mais essencial.
De acordo com um estudo divulgado ontem pela McKinsey & Company, o PIB brasileiro poderia ter crescido 45% a mais entre 1990 e 2000 sem o efeito negativo da produtividade.
Obstáculos
E aí entram os inúmeros obstáculos tributários, regulatórios e trabalhistas, além do "custo brasil" imposto pela infraestrutura deficiente - citado como principal problema por todos os economistas ouvidos por EXAME.com. Isso sem falar no aumento da competição internacional.
Nos últimos anos, o câmbio havia voltado a ser outra pedra na engrenagem: quando a moeda do país está muito valorizada, fica mais barato importar do que produzir internamente.
O aumento da renda brasileira tem "vazado" para fora do país, e o resultado é a piora na balança comercial e o aumento no déficit em conta corrente.
A desvalorização recente do real pode amenizar estes problemas e até dar um fôlego para a indústria, e os números de janeiro divulgados hoje já podem ser um indício desta reação.
O que é certo é que com desindustrialização ou não, o Brasil não vai se desenvolver olhando para trás. O debate não é sobre qual indústria ou setor merece mais proteção, e sim qual aponta para um futuro mais promissor.
"Em algumas indústrias como a farmacêutica, biomédica, química e de energia, temos um cavalo selvagem sendo segurado pelas rédeas. Mesmo com todo o custo brasil do mundo, sempre temos oportunidades.", diz José Augusto Fernandes, diretor de políticas e estratégia da CNI (Confederação Nacional da Indústria).