Notas de dólar (Gary Cameron/Reuters)
Da Redação
Publicado em 19 de junho de 2018 às 06h04.
Última atualização em 19 de junho de 2018 às 06h44.
Por enquanto, a atuação mais pesada do Banco Central no mercado de câmbio não tem conseguido frear a alta do dólar de forma continuada. Depois de cair na sexta, a moeda voltou a valorizar nesta segunda e chegou a 3,74 reais – desde o início do ano, a apreciação chega a 13%. O balé do dólar vai continuar nas próximas semanas?
Na sexta-feira, o BC havia injetado 5,75 bilhões de dólares no mercado para segurar a cotação da divisa americana. Foi a maior intervenção da história em um único dia. Para esta semana, prometeu colocar mais 10 bilhões de dólares no mercado por meio de leilões de novos contratos de swap — operação que equivale à venda de dólares no mercado futuro.
Mesmo com a enxurrada de recursos, analistas e economistas continuam céticos em relação à eficácia das medidas do BC para evitar a escalada da moeda. “Os fatores que pressionam o dólar não têm perspectiva de melhora. Se não houver uma mudança significativa de cenário no médio prazo, a divisa deve ultrapassar os 4 reais até o fim do ano”, afirma Sidnei Nehme, economista e diretor executivo da NGO Câmbio.
A última versão do Boletim Focus do Banco Central, divulgada ontem, aponta uma taxa de 3,63 reais para o dólar no fim de dezembro. Mesmo longe da perspectiva de Nehme, a projeção está em clara ascensão — há quatro semanas, estava em 3,43 reais, e na semana passada, em 3,50 reais.
A maior pressão vem do cenário interno. “A recente greve dos caminhoneiros reflete a realidade do país, que está enfrentando uma enorme dificuldade de recuperação da crise. Não geramos renda, o consumo não volta, e o pior: para as eleições de outubro, os cenários mais prováveis são de candidatos extremistas”, diz Nehme.
“Isso justifica um dólar a 4 reais no fim do ano. A única coisa que poderia mudar essa expectativa seria o resultado das urnas apontar um novo presidente mais ao centro, comprometido com as reformas que são essenciais para o país ter um alívio fiscal. Por ora, não há nada parecido com isso no horizonte”, acrescenta o economista.
O cenário externo também não ajuda a segurar a alta do dólar. Diante da consistente melhora da economia americana, o Federal Reserve, autoridade monetária dos Estados Unidos, segue seu plano de elevação dos juros. O movimento enxuga a oferta de dólares no mundo e pressiona ainda mais a cotação do dólar para cima.
A sinalização da autoridade monetária é de que não irá medir esforços para tentar, ao menos que pontualmente, reduzir o ritmo de alta do dólar. “O Banco Central reafirma que não vê restrições para que o estoque de swaps cambiais exceda consideravelmente os volumes máximos atingidos no passado”, escreveu o BC em comunicado divulgado no fim da semana passada.
A tradução disso, na opinião de analistas, é que o BC não deseja que os impactos inflacionários que possam ser gerados pela valorização do dólar ocorram de imediato – o que poderia levar a um aumento da taxa Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que termina nesta quarta-feira (20).
Ainda que as operações de swap tenham um custo – porque nesse tipo de leilão o Banco Central paga ao investidor a oscilação do dólar mais um prêmio –, na visão atual do BC, dos males, o menor.