Armínio Fraga no EXAME Fórum, realizado no hotel Unique em São Paulo (Lela Beltrão/Site Exame)
João Pedro Caleiro
Publicado em 16 de agosto de 2014 às 09h35.
São Paulo - Com a notícia da queda do avião de Eduardo Campos (mas ainda sem a confirmação da morte), a ordem foi modificada na programação do EXAME Fórum, que ocorre hoje no Hotel Unique em São Paulo.
Alexandre Rands, responsável pelo programa econômico do candidato do PSB, iria ser o primeiro dos representantes dos candidatos a falar, mas deu lugar a Armínio Fraga.
Presidente do Banco Central entre 1999 e 2002 e principal acionista da Gávea Investimentos, Fraga é coordenador do programa econômico de Aécio Neves e um dos nomes mais apontados como ministro da Fazenda de uma eventual administração do candidato do PSDB.
Sua declaração inicial para a palestra, com o título "Minha plataforma econômica e de desenvolvimento para o Brasil 2015-2019", foi que o país "é de renda média baixa e em função disso deveria ser relativamente fácil crescer a um ritmo acelerado e por muitos anos."
Ele listou vários argumentos dados pelo governo para justificar a situação econômica atual e criticar a oposição - todos inconsistentes, na sua opinião:
"Dizem que a oposição quer fazer arrocho e eu diria não, de jeito nenhum. O arrocho já ocorreu. (...) 'Vão fazer o tarifaço': essa eu acho inacreditável. Deveria começar com a pergunta: quem congelou esses preços e que resultado surgiu a partir disso?"
E deu a resposta: "no setor elétrico, uma medida voluntarista tentou derrubar o preço da energia na marra e deu no que deu. A conta foi subindo e já é de R$ 100 bilhões. (,,,) O governo asfixiou a Petrobras, que é hoje a empresa mais endividada do mundo."
Outro argumento desconstruído foi o de que o baixo crescimento é culpa da economia internacional. Ele disse que olhando América Latina ou do Sul, a economia sob Fernando Henrique Cardoso cresceu um pouco mais que a região, sob Lula cresceu mais ou menos o mesmo, e sob Dilma cresceu 2 pontos percentuais a menos por ano.
Ele criticou a dificuldade de aumentar a taxa de investimento, estacionada em 18% há mais de uma década, e a falta de transparência nas contas públicas: "gastos extraorçamentários são ineficientes e antidemocráticos".
Na sua visão, a inflação no teto da meta e o sucateamento da indústria são "consequências de um modelo econômico antiquado. Não precisa nem olhar a história de outros países, só dentro de casa."
Ele também diz que a sensação é que o Banco Central perdeu autonomia e que uma eventual independência formal do órgão é considerada por Aécio, apesar de não ser considerada prioridade.
Sobre o BNDES, Fraga acredita que seu formato atual inibe o desenvolvimento do mercado de capitais e concede empréstimos que não fazem sentido para um banco público: "o empresário não quer ficar indo a Brasília fazer lobby. O empresário quer ficar na empresa empreendendo, inovando."
No final, Fraga disse que lamentava "estar falando num momento possivelmente tão triste". Avisado pela plateia que a morte havia sido confirmada, ele balançou a cabeça e suspirou.
Sabatina
A sessão de perguntas foi conduzida por André Lahóz, diretor de redação da revista EXAME, e Cláudia Vassallo, diretora da Unidade de Negócios EXAME da Editora Abril.
Perguntado sobre a possibilidade de diminuir a carga tributária, Fraga disse que sua equipe tem "a ideia de fazer com que o gasto cresça menos que o PIB. Se conseguirmos fazer isso, já consideraria um grande sucesso, já que ele só cresce desde a redemocratização."
Em relação ao que havia de positivo na política econômica dos últimos anos, ele citou que programas sociais também são parte da economia e merecem aplausos, assim como a maior formalização do mercado de trabalho e "boas sementes" plantadas no governo Lula.
Sobre o que faria de diferente caso voltasse no tempo, Fraga declarou: "eu gosto de jogar no ataque. Teria enfatizado mais a necessidade de fazer as grandes reformas. Passei muito tempo apagando incêndio."