Montagem unindo a bandeira do Brasil e a bandeira da União Europeia (UE) (Ruskpp/Thinkstock)
Ana Laura Prado
Publicado em 4 de dezembro de 2016 às 08h00.
Última atualização em 4 de dezembro de 2016 às 08h00.
São Paulo – Um acordo de livre comércio entre Mercosul e a União Europeia (UE) pode estar perto de acontecer.
As negociações foram retomadas em 2014, houve encontros recentes em Bruxelas e uma nova reunião está marcada para o começo do ano que vem em Buenos Aires - mas o cenário internacional pode trazer reviravoltas.
As propostas envolvem redução de tarifas de importação, serviços, investimentos e compras governamentais. Na União Europeia, Espanha, Portugal, Itália e Alemanha estão entre os mais favoráveis.
Um dos principais entraves tem sido o setor agrícola – no qual o Mercosul, em especial o Brasil, tem muito interesse.
Um estudo encomendado pela Comissão Europeia mostrou que, mesmo com um acordo “modesto”, as vendas de produtos agrícolas do Mercosul para a UE poderiam crescer em mais de R$ 50 bilhões em 10 anos.
Os representantes de Cooperativas Agrícolas na Europa tentam barrar a abertura. Países como a França e Irlanda também precisam ser convencidos.
O Mercosul queria manter fechados setores de interesse da UE, como o automotivo. Segundo a Folha, uma nova proposta de abertura mais agressiva foi apresentada recentemente.
A tarifa de importação de veículos cairia gradualmente, chegando a zero em 15 anos. A taxa está hoje em 35% e cairia 2,6% ao ano, o que apavora as montadoras nacionais.
Para bem ou para mal, o cenário internacional pode ser o ponto chave para um desfecho. Entre os fatores na Europa estão a saída do Reino Unido da União Europeia e eleições da França e da Alemanha em 2017.
Para Marcos Troyjo, diretor do BRIClab da Universidade de Columbia, o primeiro fator pode ser positivo:
“Com o Brexit, a Alemanha ganha ainda mais relevo no bloco europeu e ela tem grande interesse na continuidade desse processo”.
Maria Lúcia Pádua Lima, economista da FGV especialista em política comercial, acredita que o Brexit pode nem acontecer, mas é de qualquer forma um elemento complicador.
“A União Europeia está passando por um momento delicado, e esse acordo teria que acontecer num espaço de tempo curto”.
Outro problema é a força que os partidos da extrema-direita antieuropeia estão ganhando na França e na Alemanha.
“Se for eleito alguém que não queira apostar no projeto europeu, toda a arquitetura vai ficar interrompida”, afirma Troyjo.
A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos também pesa. Por um lado, ele foi eleito com uma retórica de protecionismo que gerou temores de uma onda de “desglobalização”.
Mas um fechamento americano também pode estimular a UE a estabelecer novas vias de comércio exterior.
Em outubro, o Ministro das Relações Exteriores, José Serra, afirmou que dificilmente o acordo será alcançado ano que vem.
Ele cita o entrave provocado pelas eleições na França e na Alemanha, mas afirma que a intenção é “continuar persistindo e mostrando que (o acordo) é vantajoso a ambos os lados”.
A mesma questão foi apontada pelo subsecretário-geral de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, embaixador Carlos Márcio Cozendey, ao afirmar que o acordo não deve sair antes de 2018.
“Agora a negociação está ‘refém’ da estabilidade dos jogadores ao redor da mesa”, explica Troyjo. Para ele, a confirmação de um novo mandato de Angela Merkel na Alemanha seria decisiva.
“Se confirmando isso, o cenário mais possível é que ao final de 2017 o acordo já esteja assinado.”
Para Pádua, é necessário saber o desfecho do Brexit antes de especular sobre o futuro do acordo: “Pode ser que a haja ou não uma situação mais favorável até lá”.
Com ou sem acordo, os dois economistas apontam que o Brasil tem muito a ganhar com mais estímulo ao comércio exterior.
“Fazer reformas internas e ter uma estratégia de comercio exterior são critérios muito mais importantes do que assinar um acordo”, destaca Troyjo.