Líderes dos BRICS: busca pelos "neo-emergentes" não é de hoje, e há anos eles coexistem com os tradicionais BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) (AFP)
Da Redação
Publicado em 28 de março de 2014 às 19h35.
Depois dos BRICS, chegam os Mint, os PPICS e os Civets, siglas criadas pelos economistas para identificar novos países - entre eles México, Colômbia e Peru - que podem ganhar destaque, desviando a atenção dos grandes emergentes, como China ou Brasil, que enfrentam problemas de desaquecimento econômico.
Esta semana resume bem a situação, com uma série de sinais preocupantes procedentes de China e Brasil, e o lançamento da lista de "neo-emergentes", os PPICS (Peru, Filipinas, Indonésia, Colômbia e Sri Lanka) pela seguradora Coface.
Todos têm um elevado potencial de crescimento, superior a 4%, um perfil econômico diversificado - não muito dependente das exportações de matérias-primas - e alguma resistência aos choques. A isso, soma-se um sistema financeiro em bom estado.
A Coface acrescenta a essa lista outros países, considerados promissores, mas de risco maior: Quênia, Tanzânia, Zâmbia, Bangladesh e Etiópia.
A lista de "neo-emergentes" é divulgada no momento em que os grandes emergentes enfrentam sérios problemas: a Rússia está em plena crise pela Ucrânia; o Brasil acaba de ter sua nota rebaixada pela Standard and Poor's; e a China é afetada por uma série de incidentes de crédito (default de obrigações no início de março, esboço de uma retirada em massa de bancos locais, etc.).
No entanto, a busca pelos "neo-emergentes" não é de hoje, e há anos eles coexistem com os tradicionais BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul). A prova é que o índice MSCI Emerging Markets, lançado em 1988 com dez países conta agora com 21.
A mesma sociedade de investimentos MSCI já criou um "índice de países na fronteira" para 26 emergentes do futuro, que vão da Argentina ao Sri Lanka, passando pela Nigéria.
O economista Jim O'Neill, que havia popularizado o termo Bric quando trabalhava no Goldman Sachs, retoma agora outra sigla, os Mint, grupo que inclui México, Indonésia, Nigéria e Turquia.
Também há outro, criado pela The Economist Intelligence Unit, o Civets, reunindo Colômbia, Indonésia, Vietnã, Egito, Turquia e África do Sul.
Uma fase de "desaquecimento"
São inúmeros os candidatos a ocupar o lugar dos mastodontes emergentes que entram "em uma fase de desaquecimento financeiro, um problema que outros países não enfrentam". Isso pode fazer deles emergentes no futuro, considera Maarten-Jan Bakkum, economista do ING IM, embora ressalte os limites deste exercício de seleção.
"O próprio conceito de BRICS já era frágil. Por que não ter incluído o México?", considera.
Como destaca Yves Zlotowski, economista da Coface, "a classificação 'emergente' foi criada para o México nos anos 80 com base no seu acesso aos mercados internacionais de dívida, e é, portanto, um conceito financeiro".
Para Bakkum, "o problema dessas belas etiquetas é que duram somente alguns anos".
Esse economista prefere optar por outro tipo de classificação: "Pode-se, por exemplo, distinguir os países muito dependentes da China daqueles que são menos", já que, para ele, a evolução chinesa "é o maior risco atual".
Além disso, Zlotowski afirma que não se deve enterrar os grandes emergentes tão rapidamente: "Realmente, eles foram atingidos, mas sem consequências catastróficas. Ainda não vimos a Dilma Roussef pedir ajuda ao FMI".
Christopher Dembik, analista do Saxo Bank preferiu não ceder à tentação de criar uma sigla, mas destaca "Peru, Colômbia e Indonésia no pelotão de frente", e outros dois submetidos a um elevado risco político: "Turquia e Nigéria".
Nenhum deles tem a gigantesca população e o explosivo crescimento que caracterizou os BRICS, como os 10% registrados há poucos anos pela China, país de 1,3 bilhão de habitantes.
Mas a moderação desses novos emergentes não é necessariamente algo ruim: "Talvez estejamos diante de países que crescerão de forma mais sustentável", prevê Dembik.