Economia

Novo presidente argentino pode melhorar relação com Mercosul

Qualquer que seja o resultado das eleições de 22 de novembro, os especialistas esperam um melhor relacionamento de Buenos Aires com seus sócios do Mercosul


	Scioli e Marci: para os analistas, as políticas protecionistas da Argentina adotadas pelos governos kirchneristas deverá ser desmontada, seja qual for o resultado das eleições
 (Marcos Brindicci / Reuters)

Scioli e Marci: para os analistas, as políticas protecionistas da Argentina adotadas pelos governos kirchneristas deverá ser desmontada, seja qual for o resultado das eleições (Marcos Brindicci / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 17 de novembro de 2015 às 16h42.

A chegada do opositor Mauricio Macri ou do candidato do governo Daniel Scioli à presidência argentina oxigenará um Mercosul estagnado em boa medida pelas barreiras comerciais decididas pelos Kirchner, apontaram analistas à AFP.

Qualquer que seja o resultado das eleições de 22 de novembro, os especialistas esperam um melhor relacionamento de Buenos Aires com seus sócios do Mercosul, após anos de rusgas com os governos de Néstor e Cristina Kirchner desde 2003.

"Ambos os candidatos avançarão para um relacionamento diferente. Em particular, melhorarão as relações diplomáticas e técnicas que hoje são bastante problemáticas, principalmente com o Brasil", opinou Mauricio Claveri, coordenador de Comércio Exterior e Negociações Internacionais da consultoria Abeceb à AFP em Buenos Aires.

"Espera-se que Scioli tenha uma intenção de privilegiar o Mercosul e o relacionamento com países da região para depois avançar nas negociações com a União Europeia. Já Macri (...) poderia dar uma maior importância do aprofundamento dos vínculos com o mundo, sem se limitar ao entorno regional", acrescentou.

Para os analistas, as políticas protecionistas da Argentina adotadas pelos governos kirchneristas deverá ser desmontada, seja qual for o resultado das eleições.

"Na minha opinião, Scioli está disposto a enfrentar essa introspecção argentina. Seria um homem de cabeça mais aberta e moderna (que os Kirchner), mais simpático ao mundo da interdependência econômica. Mesmo que mantenha um certo grau de protecionismo, não dará continuidade a esse modelo", disse o historiador da Universidade de Brasília, Amado Cervo, à AFP.

"E Macri estaria mais afinado em termos de política econômica internacional, no sentido de inserir o Mercosul nos mercados globais", completou.

Para Claveri, "com Macri, talvez a estratégia de inserção seja apontada de forma mais decidida à União Europeia e aos Estados Unidos, e não tanto ao Mercosul".

"Mas em ambos os casos avançarão a um cenário de menos barreiras, não tanto por escolha, mas por necessidade".

Para o historiador e analista político uruguaio Gerardo Caetano, "há uma certeza razoável: qualquer um dos dois deverá fazer uma mudança importante em relação a muitas das políticas em matéria exterior aplicadas por Cristina Fernández de Kirchner".

"Muitas das estratégias kirchneristas em matéria de política externa -seu pesado protecionismo, seu 'mercadointernismo' anacrônico, essa postura beligerante e em algum sentido isolacionista em relação ao Uruguai, sua reticência à perspectiva de um regionalismo aberto do Mercosul como bloco, entre outras, não podem permanecer por uma questão de realismo", concluiu.

O cientista político uruguaio Adolfo Garcé, da Universidade da República acredita que "Scioli tem uma vocação mercosulina, embora não demonstre muita disposição para negociar.

Os governos kirchneristas dão muitas evidências de que até que ponto a obstinação política e o nacionalismo são um obstáculo para o relançamento do Mercosul. Macri é sensivelmente mais aberturista e menos mercosulino".

A região e o mundo

O Mercosul negocia um demorado acordo com a UE, e muitos dos sócios apostam que a mudança de governo na Argentina favorecerá a concretização desse compromisso.

O ministro da Economia do Uruguai, Danilo Astori, disse isso sem rodeios na semana passada.

"A Argentina foi o obstáculo mais importante que o Mercosul teve até agora, por seu enfoque, sua visão de política econômica, para ir além da região em busca de acordos comerciais e possivelmente isso mudará com o novo governo", afirmou.

A porcentagem de exportações e importações dos membros do Mercosul para seus sócios no total de seu comércio exterior é muito menor que para outros blocos regionais como a União Europeia e o NAFTA nos primeiros doze anos deste século, segundo um estudo da Câmara de Indústrias do Uruguai.

Os planos dos candidatos

"Quero ter a melhor relação com toda a região. Daremos prioridade a fortalecer os laços com Brasil, para eu disse que será a minha primeira viagem ao exterior se eu for presidente", disse Macri na semana passada.

"O Mercosul tem que se reativar, se recuperar e deixar para trás barreiras que têm significado um retrocesso. (...) Os problemas com o bloco foram provocados pela Argentina nesse governo", acrescentou.

Um dos principais assessores econômicos de Scioli, Gustavo Marangoni, afirmou que o candidato "propõe reativar o comércio com o Brasil e o Mercosul com intercâmbio em moedas locais, reais e pesos, para superar a escassez de dólares".

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