Economia

Novas contratações no país miram jovens para pagar menos

Empresas voltaram a contratar no Brasil, mas estão preferindo profissionais mais jovens para poder pagar salários mais baixos

Jovens: (Huntstock/Thinkstock)

Jovens: (Huntstock/Thinkstock)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 17 de março de 2017 às 09h09.

Última atualização em 17 de março de 2017 às 10h29.

São Paulo - Depois de três anos, a Bollhoff, multinacional alemã fabricante de peças de fixação para a indústria automotiva e de máquinas agrícolas, voltou a contratar.

Desde o final de 2016 até agora, a companhia ampliou em 10% o quadro de funcionários, principalmente de nível operacional, e planeja mais admissões até meados do ano.

"Voltamos a contratar por causa do aquecimento da demanda", diz o presidente, Flávio Silva. Ele explica que a procura das peças que produz cresceu 15% pelo setor agrícola e em torno de 30% pelo segmento automotivo destinado à exportação.

Mas ele ressalta que há muita cautela na retomada das admissões. "Há um questionamento muito grande sobre a real necessidade de se contratar", diz o executivo.

Para dar conta do aumento da demanda por seus produtos, a empresa investiu em máquinas e decidiu ampliar o quadro de funcionários, apostando em profissionais muito jovens, estudantes, porque é mais fácil ajustar o salário.

A "juniorização" dos contratados, isto é, a admissão de profissionais mais jovens e menos experientes por um custo menor, é uma alternativa para não sofrer tanto com as alterações no cenário da economia que possam ocorrer mais à frente.

O estudante do quarto ano de engenharia de produção Marcelo Clemente Pereira, de 26 anos, por exemplo, começou como estagiário na área de manufatura da empresa no meio do ano passado e, em outubro, foi contratado para o departamento de compras. "Em quatro meses fui de estagiário a efetivo. Não achei que seria tão rápido", diz Pereira.

Orgulhoso da nova função, ele explica que é responsável pelas compras de ferramentas da empresa. "Estou basicamente no coração da fábrica. Se o meu trabalho não for bem feito, a gente não consegue produzir." Pereira, que estudou um ano e meio na Austrália e vai concluir o curso de engenharia no fim de 2018, ocupa o cargo de analista industrial, mas, na prática, está ligado diretamente à engenharia da fábrica.

Como estagiário, ganhava entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil, e agora recebe cerca de R$ 3 mil. Mas sonha melhorar o salário quando concluir o curso. O piso de um engenheiro recém-formado, segundo ele, é de R$ 4,5 mil.

Ricardo Basaglia, diretor executivo da Michael Page, consultoria inglesa especializada em recrutamento de média e alta gerência, explica que, nas novas contratações feitas nos últimos meses, inicialmente, são oferecidos salários entre 20% e 30% menores.

"Mas depois as empresas conseguem efetivamente contratar com redução de 15% nos salários, em média." No entanto, nas contas de Silva, da Bollhoff, essa economia pode chegar a 30%.

Nariz

Antes mesmo de os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de fevereiro, divulgados nesta quinta-feira, 16, Basaglia, da Michael Page, havia detectado alguma reação nas contratações.

"No primeiro trimestre, a demanda por contratação colocou o nariz para fora d'água", diz.

Nas suas contas, a procura por profissionais aumentou 20% neste início de ano em relação a igual período de 2016, e as contratações efetivadas cresceram 7% na mesma base de comparação. A reação aconteceu após 18 meses seguidos de queda nas admissões na comparação anual.

Basaglia explica que 90% das contratações são voltadas à substituição de funcionários e apenas 10% à abertura de novos postos de trabalho. "As novas contratações são de profissionais mais qualificados para buscar melhores resultados. É uma evolução natural do mercado."

Segundo o pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Eduardo Zylberstajn, os primeiros sinais de retomada do emprego com carteira assinada apareceram já em janeiro.

"Foi o primeiro mês, depois de exatos dois anos, que o número de admissões registradas no Caged aumentou em comparação com o mesmo mês do ano anterior", diz o economista.

'Efeito alento'

Apesar da melhora gradual, com o saldo positivo na geração de empregos em fevereiro pelo Caged, o economista da LCA Consultores, Fábio Romão, disse, em entrevista, que a taxa de desemprego deve continuar crescendo.

"O que importa para a redução do desemprego é ter um saldo líquido positivo nas contratações e suficiente para absorver o crescimento da força de trabalho".

Por que o sr. diz que a taxa de desemprego deve continuar subindo?

Ao mesmo tempo que teremos um crescimento da renda e uma recuperação da ocupação, o desemprego vai continuar aumentando porque a força de trabalho vai crescer com mais intensidade. As pessoas vão perceber que a empregabilidade melhorou e, principalmente, a renda. Com isso, mais gente sairá à procura de trabalho. O desemprego vai continuar subindo por causa do "efeito alento".

Há sinais de "brotos verdes" no mercado de trabalho?

Parece que sim. Demoraram a aparecer, mas ainda são brotinhos. É um sinal de que está começando a mudar o quadro do mercado de trabalho. Claro que há a ressalva da taxa de desemprego. Se o farol for só esse, vamos ficar em depressão. Temos de olhar para o emprego e para a renda.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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