Depois de 3 programas de ajuda em 8 anos, a Grécia deixou oficialmente nesta segunda a proteção de seus credores (/Yannis Behrakis/Reuters)
AFP
Publicado em 20 de agosto de 2018 às 10h48.
A zona do euro emergiu do impasse da dívida grega, mas continua vulnerável, segundo economistas, que estão particularmente preocupados com a situação na Itália.
Após vários anos de recessão profunda e três programas de ajuda, a Grécia deixa oficialmente nesta segunda-feira a proteção de seus credores, da zona do euro e do Fundo Monetário Internacional (FMI), para se refinanciar nos mercados.
Apesar do que os europeus chamam discretamente de "boas notícias", depois de anos de erros grandes crises políticas, a zona do euro ainda precisa superar vários desafios.
"A crise grega não foi resolvida, foi adiada", diz Charles Wyplosz, professor de economia do Instituto de Estudos Avançados Internacionais e de Desenvolvimento, em Genebra.
Atenas deve começar a pagar, a partir de 2032, a maior parte de sua dívida, ainda colossal, de cerca de 180% do PIB. É impossível dizer como estará o país, tanto política como economicamente na ocasião.
Nos últimos meses, o FMI não deixou de alertar sobre a sustentabilidade a longo prazo desta dívida, apesar dos últimos acordos com a área do euro para o alívio da mesma.
Wyplosz denuncia o "cinismo espetacular" dos europeus na gestão da crise. "Os problemas não são resolvidos, mas se finge que são."
"De uma forma ou de outra, vai explodir. A Grécia voltará a entrar em crise muito antes de 2032", profetiza.
"Não se resolveu nada para o problema da dívida pública, que continua a ser grande na Itália, Grécia e Portugal, não foi resolvido, apesar de seus esforços", alerta Anne-Laure Delatt, vice-diretora do Centro de Estudos Prospectivos e Internacionais da Informação (Cepii).
"A dívida é um fato de vulnerabilidade", explica Delatte.
Enquanto isso, os outros países que adotaram a moeda única veem sua dívida reduzida. A consequência é que a zona Euro está polarizada entre os "bons alunos" e os outros, dois grupos cujos interesses divergem.
Os primeiros defendem uma certa ortodoxia orçamentária e controle de gastos, e os segundos, mais solidariedade.
A Itália representa um risco real para a zona do euro devido a sua dívida, seus bancos fracos e seu governo populista, insistem os economistas. "É um país com uma dívida de 130% do PIB, sérios problemas internos, um sistema bancário sem saneamento e agora administrado por pessoas que aparentemente não entendem o que vão fazer. A ameaça é muito evidente", alerta Charles Wyplosz.
A política econômica do novo governo italiano ainda não está clara e o executivo envia sinais contraditórios.
Após o colapso do viaduto de Gênova, a União Europeia, acusada de impedir os investimentos com sua política de austeridade, foi alvo de críticas por parte de Roma.
Philippe Martin, professor do Instituto de Ciências Políticas e ligado ao presidente da França, Emmanuel Macron, adverte: "Atualmente, a zona euro não tem nem ferramentas nem instituições para enfrentar uma grave crise da dívida italiana".
A crise da dívida proporcionou uma oportunidade para o desenvolvimento na zona euro, com a criação do Mecanismo Europeu de Estabilização, encarregado de emprestar dinheiro aos países em dificuldade e proporcionar o fortalecimento da União Bancária.
Mas essa arquitetura ainda é incompleta e as várias tentativas de evoluir, como o desejo da presidência francesa de um orçamento para a zona euro, colidem com a persistente hostilidade de alguns países do norte, com maior saúde econômica e que temem ter que pagar pelos países do sul.
"Eu não acho que haja um consenso sobre o que o euro deveria ser", diz Nathalie Janson, professora da escola Neoma de Rouen, no norte da França.
Neste contexto, "o euro, no final, torna-se uma moeda caótica, com permanente turbulência, quando no início tinha o objetivo de garantir a estabilidade".