Economia

Nomura abandona aposta no juros brasileiro no por inflação

Seca está aumentando a especulação de que o presidente do BC continuará elevando a taxa Selic após aumentá-la 3,5% nos últimos 12 meses


	Solo ressecado: relatório mostrou que a falta de chuva fez com que os preços de alimentos e bebidas mais que dobrassem em meados de março
 (Nacho Doce/Reuters)

Solo ressecado: relatório mostrou que a falta de chuva fez com que os preços de alimentos e bebidas mais que dobrassem em meados de março (Nacho Doce/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 31 de março de 2014 às 17h10.

Brasília - A Nomura Securities e o Banco Espírito Santo de Investimento estão abandonando as apostas de que o Brasil interromperá o mais longo ciclo de aperto do mundo em um momento em que a seca está estimulando a inflação.

Embora os economistas, em pesquisas do Banco Central, venham antecipando que o país elevará as taxas de juros em 0,25 por cento, para 11 por cento, no dia 2 de abril, a Nomura e o Banco Espírito Santo vinham discordando, até que um relatório de dez dias atrás mostrou que a falta de chuva fez com que os preços de alimentos e bebidas mais que dobrassem em meados de março.

A pior seca em oito décadas em algumas regiões do Brasil está aumentando a especulação de que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, continuará elevando a taxa Selic após aumentá-la 3,5 pontos porcentuais nos últimos 12 meses.

Embora o aumento dos custos dos empréstimos esteja piorando a desaceleração na maior economia da América Latina, os aumentos de preços levarão os estrategistas do banco a continuar elevando a taxa básica.

“Há uma evidência cada vez maior de que haverá um desagradável choque de inflação causado pelos alimentos”, disse Tony Volpon, diretor de pesquisa de mercados emergentes da Nomura, por telefone, de Nova York. “O Banco Central responderá a esse choque apertando as taxas ainda mais”.

A assessoria de imprensa do Banco Central preferiu não comentar, por telefone, a respeito das expectativas do mercado para a taxa básica de juros.

Preços ao consumidor

Os estrategistas do Banco Central cortaram pela metade o ritmo dos aumentos da taxa de juros, no mês passado, para um quarto de ponto porcentual, após elevá-la 50 pontos-base em seis reuniões consecutivas.

As taxas mais altas estão atraindo investidores em bônus em busca de rendimentos maiores do que aqueles encontrados em países desenvolvidos. A dívida local do país tem dado retorno de 7,5 por cento em termos em dólar neste ano e está a caminho do melhor retorno trimestral desde 2010.

No atacado, os preços ao consumidor e da construção, medidos pelo IGP-M, subiram 1,67 por cento neste mês, aumento maior que o de 0,38 por cento de fevereiro, disse a Fundação Getúlio Vargas em seu site, em 28 de março. O aumento foi o mais elevado desde julho de 2008 e também maior que as previsões de todos os 31 analistas consultados pela Bloomberg, cuja mediana de estimativas era de um salto de 1,53 por cento.


Os aumentos anuais de preços irão acelerar para 6,2 por cento neste ano se os estrategistas elevarem a taxa básica em 25 pontos-base, para 11 por cento, disse o Banco Central em seu relatório trimestral de inflação, publicado no dia 27 de março. A inflação não irá desacelerar para o ponto médio de 4,5 por cento da faixa-meta do Banco Central nos próximos 24 meses, pelo menos segundo o relatório de inflação.

‘Mais negativo’

“O Banco Central vinha preparando o terreno para interromper” os aumentos nas taxas de juros, disse Jankiel Santos, economista-chefe do Banco Espírito Santo de Investimento, por telefone, de São Paulo. O relatório de inflação “mostra que o balanço de riscos se torna mais negativo”.

Embora na pesquisa do Banco Central os economistas estejam prevendo que o Brasil elevará as taxas somente a 11,25 por cento neste ano, o economista-chefe do Banco J. Safra, Carlos Kawall, diz que os custos de referência dos empréstimos no país saltarão para 12 por cento até o fim do ano e para 13 por cento em 2015. O inverno rigoroso nos EUA elevará os preços dos grãos no fim deste ano e pesará sobre a inflação, disse ele.

“Haverá outros efeitos negativos sobre os preços”, disse Kawall, em entrevista por telefone, de São Paulo. “Nós estimamos que a inflação romperá o ponto máximo da faixa-meta”.

As expectativas de custo de vida baseadas na diferença de rendimento entre os bônus do governo indexados à inflação e a dívida de taxa fixa com vencimento em 2015 aumentaram 12 pontos-base, para 6,57 por cento, desde a reunião de política monetária do Banco Central em 26 de fevereiro.

Nesta semana, em uma pesquisa do Banco Central, os cinco prognosticadores mais precisos em relação à inflação aumentaram suas estimativas para 2014 para 6,42 por cento, pouco abaixo do limite máximo de 6,5 por cento da faixa-meta oficial.

“O Banco Central está tentando ser mais ortodoxo”, disse Volpon. “Juntamente com os desafios de curto prazo, seus desafios de longo prazo estão empurrando as expectativas para baixo”.

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