Economia

"No comércio internacional, monogamia não é virtude", diz Celso Amorim

Amorim advertiu que o Brasil deve evitar a dependência do comércio com alguns países, como a China

O chanceler Celso Amorim: decisão do Brasil foi soberana (Daniel Berehulak/Getty Images)

O chanceler Celso Amorim: decisão do Brasil foi soberana (Daniel Berehulak/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 4 de agosto de 2011 às 20h50.

Nova York .- O ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil Celso Amorim declarou nesta segunda-feira que um dos grandes responsáveis pelo crescimento da economia do país foi o processo de diversificação do comércio exterior, peça-chave para superar a crise econômica.

"A monogamia não é uma virtude no comércio internacional, é preciso ter todos os parceiros possíveis. Quanto mais diversificado melhor", declarou Amorim em uma coletiva após uma conferência na Associação das Américas em Nova York.

O ex-chancelar das Presidências de Itamar Franco (de 1993 a 1994) e de Luiz Inácio Lula da Silva (de 2003 a 2010) disse que o processo de mudança no comércio de bens do Brasil com outros países levou, por exemplo, ao fato de que atualmente essa nação exporte mais à Arábia Saudita do que ao Canadá, algo "impensável" anos atrás.

"Muitos dos economistas do Brasil críticos dos nossos esforços em relação à África e à Ásia finalmente reconheceram que fomos protegidos da crise global por três pontos básicos: a consistência do mercado interno, a solidez do sistema bancário e a diversificação do comércio", enumerou Amorim.

O ex-ministro, quem destacou que essa diversificação não se refere somente aos termos de mercados, mas também de produtos, advertiu que o Brasil deve evitar a dependência do comércio com alguns países, como a China, que se transformou em um importante parceiro comercial nos últimos anos.

"O que costumava dizer sobre os Estados Unidos também vale para China, não queremos nos converter em dependentes de um só mercado, qualquer que seja esse mercado", disse o brasileiro, quem entre outros muitos postos diplomáticos ocupou o cargo de embaixador do Brasil no Reino Unido entre 2001 e 2002.

De qualquer maneira, Amorim afirmou que o Brasil ainda está longe de depender do comércio com o gigante asiático e lembrou que "sempre teve certo equilíbrio em suas exportações, diferente do México, que tem quase 80% de seu comércio com os Estados Unidos. A do Brasil gira em torno de 25% com os EUA e de 14% com a China".

O ex-chanceler, que foi eleito no ano passado o "melhor ministro das Relações Exteriores do mundo" pela revista "Foreign Policy", detalhou alguns dos esforços feitos sob a Presidência de Lula para diversificar o comércio internacional brasileiro, entre os quais destacou a expansão no mercado africano.

"África está em nossos corações porque ao menos metade da população brasileira se declara de origem africana", expressou Amorim, quem ressaltou que o comércio com esse continente - o quarto maior parceiro comercial do país latino-americano - "é uma necessidade para o Brasil".

Em sua conferência na Associação das Américas de Nova York, o ex-ministro falou sobre seu artigo "Reflexões sobre a ascensão global do Brasil" para a revista "Americas Quarterly", impulsionada por essa associação, no qual destaca o papel da Presidência de Luiz Inácio Lula da Silva no cenário de política internacional.

Acompanhe tudo sobre:Celso AmorimComércioComércio exteriorDiplomaciaEntrevistasGovernoPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileiros

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor