Economia

No Brasil, Piketty rebate Bill Gates e propõe imposto global

Autor defendeu taxar riquezas para diminuir desigualdade e pediu mais transparência no acesso aos dados fiscais brasileiros

Thomas Piketty:  (Universitat Pompeu Fabra/Creative Commons)

Thomas Piketty: (Universitat Pompeu Fabra/Creative Commons)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 26 de novembro de 2014 às 18h05.

São Paulo - Desde que o livro-sensação de Thomas Piketty, "Capital no Século XXI", começou a chamar atenção, poucos questionam a qualidade da sua pesquisa histórica ou seu diagnóstico básico de que a desigualdade está aumentando.

Sobram críticas, no entanto, para como Piketty explica o fenômeno e, principalmente, para suas recomendações de possíveis remédios.

O principal deles, um imposto global sobre riqueza, foi abordado no evento que o autor francês participou hoje na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) em debate com André Lara Resende, ex-presidente do BNDES,  e Paulo Guedes, fundador do Pactual e do Ibmec.

Piketty disse que o imposto pode ser um sonho mais próximo do que se imagina e entrou na polêmica dos paraísos fiscais, reacendida pela caso Luxemburgo. Ele também rebateu as críticas de Bill Gates à sua teoria e pediu mais transparência e acesso aos dados fiscais de países como o Brasil.

Veja algumas das principais frases do autor no evento:

Sobre a impossibilidade prática do imposto:

"A história da taxação de riquezas é cheia de surpresas. Há um século atrás o imposto de renda não existia e as pessoas diziam que ele nunca iria existir."

Sobre o modelo da medida:

"O imposto sobre riqueza privada é uma forma civilizada de inflação."

Sobre seus efeitos econômicos negativos:

"Dos anos 40 aos anos 70, a alíquota máximo de imposto nos Estados Unidos era de 80% e me parece que isso não destruiu o capitalismo."

Sobre o excesso de carga tributária:

"Se fosse suficiente ter imposto baixo para ser rico, Romênia e Bulgária - os dois países mais pobres da UE com cerca de 20% em receitas de impostos - seriam mais ricos do que Dinamarca e Suécia - os dois mais ricos com receita de 40%. O tamanho do governo em si não é o que importa."

Sobre a progressividade dos impostos:

"Quase todo pais já tem imposto sobre propriedade, o problema é que eles foram criados 200 anos atrás. O que eu proponho não é aumentar a receita desses impostos, e sim transformá-los em um imposto realmente progressivo – que não taxe da mesma forma uma pessoa que tem milhares e milhares negativos em uma única hipoteca e outra que tem várias propriedades de luxo. (...) Não podemos taxar da mesma forma alguém que ganha 100 mil, outro que ganha 1 milhão e a outra que ganha 10 milhões."

Sobre paraísos fiscais:

"5 anos depois, muitos diziam que as leis de segredo bancário na Suíça seriam eternas e que ninguém poderia fazer nada sobre isso. Bastaram apenas duas sanções americanas e o governo suíço mudou sua lei e estamos caminhando em direção à transmissão automática de informações. Muitos ficaram deprimidos que a gente tenha precisado dos EUA para fazer isso, mas você não pode simplesmente pedir para paraísos fiscais deixarem de ser paraísos fiscais."

Sobre o foco excessivo na política monetária em detrimento da fiscal nos países desenvolvidos no pós-crise:

"É muito mais difícil reescrever o sistema de impostos do que simplesmente imprimir mais dinheiro."

Sobre a necessidade de maior transparência:

"Assim como outros países, o Brasil precisa de mais transparência sobre renda e riqueza. Um imposto progressivo sobre renda, herança e riqueza seria uma forma poderosa de produzir informação sobre como os diferentes grupos de renda e riqueza estão se beneficiando do crescimento."

Sobre a ascensão chinesa:

"A China precisa tomar cuidado para não ficar como a Rússia pós-soviética, com oligarcas que vivem em Londres dos dividendos de companhias chinesas."

Sobre as críticas de Bill Gates:

"Ele disse basicamente ''quero contribuir, mas não quero pagar mais impostos'. Entendo ele achar que é mais eficiente do que o governo, mas é dificil organizar a sociedade se cada um puder decidir o quanto vai contribuir." 

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