Brasília - A situação financeira da Petrobras é tão preocupante, na visão da agência de classificação de risco Moody's, que nem mesmo a grande probabilidade de o governo socorrer a estatal em caso de sufoco foi suficiente para manter o grau de investimento da companhia.
Nesta quarta-feira, 25, dia seguinte ao rebaixamento da nota, a agência explicou que leva em conta a possível ajuda do governo e reconhece os esforços da estatal para divulgar seu balanço financeiro auditado, mas nada disso esconde o fato de que o risco de investir na estatal está aumentando.
"A gente está dizendo que está aumentando o risco", afirmou Nymia Almeida, analista sênior da Moody's para o setor de petróleo e gás, antes das declarações da presidente Dilma Rousseff, que disse ontem que faltou conhecimento da agência ao decidir pelo rebaixamento.
A analista resumiu assim os problemas da estatal que assustam investidores, brasileiros e estrangeiros: "A Petrobras não está conseguindo entregar o balanço financeiro, não temos clareza com relação à entrega (do balanço) na data correta, não sabemos o que ela está fazendo a respeito de conseguir mais tempo ainda ou de pedir ajuda ao principal acionista (o governo)".
A divulgação do balanço em um prazo determinado é exigência, prevista em contrato, de diversos empréstimos contraídos pela Petrobras, por meio de emissão de títulos, sobretudo no exterior. Essas cláusulas são comuns e, em muitos casos, além da publicação dos dados financeiros, há a exigência de os números serem auditados por especialistas de fora das companhias.
A Petrobras não publica um balanço trimestral auditado desde o ano passado. O resultado do terceiro trimestre foi adiado justamente porque a Price, auditoria externa contratada pela estatal, recusou-se a validar os dados, por causa das investigações sobre casos de corrupção.
Apesar de todos os problemas, ao analisar o risco de companhias estatais, as agências levam em conta a possibilidade de ajuda do governo, controlador dessas empresas. A lógica é simples: se um calote tornar-se de fato iminente, em última instância, o governo pode usar recursos públicos, ou de dívida pública, para pagar credores da estatal e, por isso, o risco é menor.
As agências de risco avaliam a probabilidade de isso ocorrer, levando em conta fatores como o tamanho da economia do país, o caixa do governo e a importância estratégica da estatal em apuros. Por isso, as estatais normalmente têm duas notas, uma intrínseca, em que se olha apenas a saúde da empresa, e outra final, considerando a possibilidade de ajuda do governo.
Algumas agências equiparam a nota das estatais ao "rating" soberano, a nota atribuída à dívida pública. Na Moody's, o "rating" isolado da Petrobras foi rebaixado para B2, três níveis abaixo da nota do Brasil (Baa2, com viés negativo, ainda grau de investimento).
"Mesmo que o País seja 'investment grade', é muito difícil alcançar (o rating soberano). Só se fosse com uma garantia real de 100% da dívida", afirmou.
Pelos cálculos da Moody's, a dívida total da Petrobras é de US$ 137 bilhões. Descontada a dívida com bancos públicos, o valor líquido seria de US$ 110 bilhões, montante que o governo precisaria garantir. Nymia destacou, entretanto, que há outros tipos de ajuda - como continuar oferecendo crédito de instituições públicas e fazer uma capitalização para reforçar o caixa - e o que importa é o apoio ocorrer no momento exato.
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1. Tempos difíceis
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1/9 (Divulgação/EXAME)
São Paulo – De suspeitas de corrupção a multas bilionárias, a
Petrobras tem sido protagonista de algumas das principais - más - notícias do Brasil nos últimos tempos. Alvo de uma das maiores investigações de corrupção corporativa do país, a petroleira hoje sofre uma crise de credibilidade que a faz perder valor de mercado a cada novo fato divulgado. E tem sido um exemplo de que realmente tudo pode dar errado ao mesmo tempo agora. Listamos oito fatos recentes sobre a Petrobras que comprovam que o ruim pode sempre piorar.Veja nas fotos.
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2. Operação Lava Jato
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2/9 (Arquivo/Agência Brasil)
Deflagrada em março de 2014, a
Operação Lava Jato investiga um esquema de corrupção dentro da Petrobras em que um possível esquema de lavagem de dinheiro e contratos irregulares por meio de licitações beneficiaria partidos políticos. Desde então, pessoas, grandes transações e contratos fechados com irregularidade são alvo de investigação da Polícia Federal. A operação em curso ainda tem muito que apurar – e a lista de possíveis envolvidos no escândalo só aumenta. Inclui grandes empreiteiras, fornecedores e políticos.
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3. Fornecedores na mira
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3/9 (Germano Lüders/Exame)
Até agora, 23 empreiteiras foram indiciadas por envolvimento na operação. Em uma segunda etapa, mais recente, outras 82 empresas de setores diversos foram indiciadas. Além de executivos presos, algumas das companhias citadas passam por dificuldades de acesso a crédito, falta de pagamentos de aditivos de contratos com a Petrobras e contam com muitas obras paradas e prejuízo. Algumas dessas empresas já
decretaram falência. Outras, como a Camargo Correa, fizeram
demissão em massa. O estrago até o fim da operação pode ser ainda maior. A estimativa é que a Petrobras tenha hoje cerca de 6.000 fornecedoras no país.
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4. Balanço incompleto
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4/9 (REUTERS/Paulo Whitaker)
O atraso na divulgação de resultados da companhia, previsto inicialmente para outubro do ano passado, acabou criando uma expectativa negativa no mercado sobre o que estaria por vir. Mas o estrago foi ainda maior que o previsto quando a empresa fez a efetiva publicação do balanço, no final de janeiro. No relatório, a estatal divulgou uma diferença de quase R$ 62 bilhões entre o valor real dos ativos e o contabilizado no balanço anterior, do segundo trimestre. A diferença não foi identificada como perdas com corrupção e a auditoria de todos os ativos não foi feita de maneira independente. A revelação do número assustou e gerou ainda mais incertezas nos investidores. Acabou criando uma situação insustentável para a Petrobras, que viu suas ações desabarem.
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5. Mudança de comando
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5/9 (Ueslei Marcelino/Reuters)
Dias depois da divulgação dos resultados,
Graça Foster e outros cinco diretores da companhia
renunciaram ao comando da Petrobras. Por dois dias, ficou no ar a dúvida sobre quem assumiria a responsabilidade de liderar a maior empresa do país em meio a um turbilhão de incertezas e denúncias. A expectativa era a de que o governo escolhesse alguém do mercado, que tivesse independência para decidir os rumos da empresa de agora em diante. Dilma Rousseff anunciou o nome de
Aldemir Bendine para o cargo. Tido como
um perito em crises e aliado do governo, Bendine deixou o comando do Banco do Brasil para assumir como presidente da Petrobras. A notícia azedou ainda mais o humor dos investidores.
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6. Acidente fatal
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6/9 (REUTERS/Gabriel Lordello)
Uma semana depois da troca de comando, um novo desastre atingiu a empresa – esse vindo dos mares e com consequências fatais. A explosão a bordo do navio-plataforma FPSO Cidade de São Mateus, no Espírito Santo, causou a
morte de cinco pessoas e deixou outras dez feridas – duas delas em estado grave. A norueguesa BW Offshore era a proprietária da embarcação e trabalhava para a petroleira brasileira. Ainda não se sabe o que causou a explosão.
A única certeza é a de que o acidente foi o terceiro maior desse tipo na história da empresa e que ela terá de arcar com uma multa, caso fique comprovado erro de operação.
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7. Revolta dos acionistas
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7/9 (Scott Eells/Bloomberg)
Além dos problemas internos, a Petrobras e seus acionistas no Brasil podem enfrentar uma possível revolta dos investidores estrangeiros. A estatal tem ações na Bolsa de Nova York e, se as denúncias de corrupção forem comprovadas, uma multa bem pesada pode chegar. Nos Estados Unidos,
uma ação simultânea da Securities and Exchange Comission (SEC), do Departamento de Justiça (DoJ) e dos tribunais americanos já fez com que técnicos fossem enviados ao Brasil para analisar o caso da Petrobras. A punição para a Petrobras, caso se comprove fraudes contra os acionistas, pode superar os valores de casos emblemáticos, como o da elétrica Enron, fechado em US$ 7,2 bilhões em 2006.
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8. Dívidas em dólar
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8/9 (Scott Eells/Bloomberg)
O momento ruim da Petrobras ainda conseguiu piorar com ajuda da alta do dólar. A valorização da cotação, a mais alta desde 2004, fez com que a dívida da companhia explodisse ao patamar da maior de toda a sua história. Calcula-se que 70% do endividamento da Petrobras estejam atrelados à moeda estrangeira, por isso um baque tão grande. Além do aumento do endividamento, fica mais caro para a Petrobras importar insumos, o que, por consequência, reduz seu caixa.
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9. Agora, veja 14 fatos incríveis sobre a Apple
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9/9 (Divulgação)