ASSUNÇÃO – Um dos campeões de crescimento econômico na América Latina, o
Paraguai vai às urnas neste domingo 22 com o Brasil como um dos temas em debate. O governo de Horácio Cartes deixa o poder com 4,3% de crescimento em 2017 graças, em parte, a uma bem sucedida política de aproximação industrial e comercial com o vizinho do norte. As últimas pesquisas mostram que o candidato governista, Mario Abdo Benítez, do Partido Colorado, deve ter cerca de 55% dos votos. Mas nem todos os paraguaios estão satisfeitos com a invasão brasileira.
Atraídas por um conjunto de políticas econômicas que incentivam o investimento estrangeiro, centenas de indústrias chegaram ao Paraguai nos últimos anos, muitas delas de capital brasileiro. A aproximação entre os governos do Paraguai e do Brasil, com o objetivo de desenvolver indústrias complementares começou a gerar frutos a partir de 2010. “Há um salto significativo desde 2010 até 2014. Vários tipos de empresas chegaram ao Paraguai nesse período com várias motivações”, explica o Gustavo Rojas De Cerqueira César, pesquisador do Centro de Análise e Difusão da Economia Paraguaia (Cadep).
O recorde de investimento estrangeiro foi em 2012, quando o país recebeu quase 700 milhões de dólares. Com 274 milhões de dólares em investimentos, o país foi o único da região a aumentar a captação estrangeira em 2016, no último dado disponível.
O governo atual calcula a chegada de 107 indústrias entre agosto de 2013 até os primeiros dias de 2018 – 66% delas são brasileiras, como os casos da HCSA del Paraguay S.A. e Durli Leathers, dedicadas à fabricação de peças de ferro fundido e processamento de couro. A primeira instalou-se no Paraguai em 2016 em tanto que a segunda chegou em 2017. As duas investiram pouco mais de 95 milhões de dólares e geraram – segundo o governo – 950 vagas de trabalho.
Mesmo assim, o fluxo anual de investimento estrangeiro direto no Paraguai é pequeno se comparado com os investimentos de capital nacional. Segundo Gustavo Rojas, do Cadep, os estrangeiros representam aproximadamente 6 a 7% do total de investimentos no país. Segundo o último reporte da Cepal, Brasil, Colômbia e Paraguai lideraram a recepção de investimentos estrangeiros em 2016. Os volumes investidos no Paraguai são muito menores que os dos vizinhos. Em 2016 o Brasil recebeu 78 bilhões de dólares e a Colômbia, 13 bilhões. Mas no Paraguai os aportes serviram para resgatar a depauperada indústria local.
Para Ruben Jacks, presidente da Câmera de Comercio Paraguai – Brasil (CCPB), organização que trabalha em aliança com o governo, nos últimos anos as autoridades investiram em propaganda pelo mundo sobre os benefícios oferecidos para produzir no Paraguai.
O governo aponta que o pacote que “garante” a competitividade oferece às empresas estrangeiras produzir com 30% menos custo em comparação a outros países como por exemplo a China. Esse pacote inclui impostos baixos (10% IVA, 10% IR e 10% do lucro), isenções e um sistema simples de tributação. Além disso, energia a baixo custo e mão de obra barata (o salário mínimo é de 1.100 reais, com a particularidade de que no Paraguai o básico é também o teto para a maior parte de população). Outro fator é a proximidade com os centros de produção e distribuição do Brasil. Isto permite que o produzido no Paraguai possa chegar em até 48 horas a cidades como São Paulo.
Os principais investidores são pequenas e médias empresas do setor secundário, dedicadas às áreas de plástico, têxteis, autopeças e cabos. Grande parte delas montaram suas oficinas nos departamentos de Central, Alto Paraná, Canindeyú e Amambay. A abertura destas indústrias gerou aproximadamente 10.000 empregos novos nos últimos anos, especialmente entre os jovens e mulheres que cuidam dos filhos e da economia da casa sozinhas.
Nem tudo são flores, evidentemente. “Esta é a terceira grande onda de investimento do Brasil no Paraguai, a onda dos industriadores brasileiros. Existe muito interesse, os empresários visitam o Ministério, visitam a câmera, visitam a embaixada, mas não estão ficando. Detectamos que venderam-lhes o país mas só falaram das fortalezas e não das debilidades”, diz Jacks, da Câmera de Comercio Paraguai-Brasil. Antes dos industriais, brasileiros chegaram ao Paraguai para investir no setor agropecuário, depois no comércio, especialmente nas cidades de fronteira.
O próprio vice-ministro da Industria, José Luis Rodríguez Tornaco, diz que é necessário melhorar a infraestrutura porque o país está muito atrasado em obras. No Paraguai muitas cidades são ligadas por rodovias de terra que com chuva não são transitáveis e o asfalto é precário em boa parte das rodovias. Segundo um estudo publicado em janeiro deste ano pelo pesquisador Julio Ramírez, dos 74.251 quilômetros de rede viária, somente 8,3 % estão asfaltados e outros 2% têm algum tipo diferente de pavimentação.
Jacks acrescenta que tem que ser melhorada a segurança jurídica e econômica, e a segurança física das pessoas. Outro ponto importante para ele, é que os investimentos em infraestrutura não podem ser financiados somente com endividamento.
Ele lembrou do que disse há alguns dias a presidente do Fundo Monetário Internacional Christine Lagarde na sua visita ao Paraguai: é preciso ficar de olho com a tendência de aceleração da dívida, a pesar de ela estar controlada hoje (25% do PIB). Ou seja: apesar do alto crescimento econômico e dos novos investimentos, o Paraguai continua a sofrer dos mesmíssimos problemas que sofria, e que sofrem seus vizinhos como o Brasil.
Preocupações
Em geral os empresários paraguaios estão contentes com o investimento estrangeiro que serve de apoio às indústrias nacionais. Destacam principalmente a criação de postos de trabalho. Mas também existem preocupações.
“A maquila [lei que dá vantagens na importação de maquinário industrial} está ajudando muito para oferecer trabalho de qualidade, mas devemos ter em conta que a maioria, as maiores …podem chegar a ser inversões andorinhas, que com a mesma rapidez que chegaram poderiam ir embora”, disse Eduardo Felippo, presidente da União Industrial Paraguaia (UIP) no ano passado durante um discurso na maior féria de exposição de indústria, agricultura, pecuária, comercio e serviços do Paraguai.
Gustavo Rojas menciona que como muitas empresas fizeram investimentos pequenos — de 1 a 5 milhões de dólares–, é mais fácil para os investidores retirar-se do país. De fato 91 das 107 empresas chegadas nos últimos anos investiram esse montante. As outras investiram entre 6 e 30 milhões de dólares. O investigador do Cadep destaca também que a maior parte do investimento ainda é nacional, e que faltam política para atender os investidores paraguaios.
O vice-ministro da Industria indica que o próximo governo tem que garantir a continuidade do modelo econômico competitivo, com mão de obra barata, e sobretudo tem que garantir que o modelo simples de radicação de empresas no país que hoje permite abrir ou fechar uma empresa em quarenta e cinco dias continue. O presidente da CCPB, Ruben Jacks, disse que o próximo governo deverá manter e melhorar as liberdades económicas.
Já para Gustavo Rojas será preciso fazer revisões de alguns itens como as isenções, antes de aplicá-las de forma extensiva. Oferecer isenções significa abrir mão de potenciais recursos que poderiam ajudar a melhorar políticas sociais. Finalmente, disse que os investimentos estrangeiros devem ser vinculados com toda a economia local e o que o governo deve ter um planejamento para saber o que pode pedir em contrapartida de todos esses benefícios ás indústrias a longo prazo.
O governo planeja que o PIB do Paraguai crescerá mais de 4% este 2018, depois ter fechado 2017 com 4,3%. Ou seja, o país continuará no caminho de privilegio que vem percorrendo em comparação aos países da região que tem o crescimento do PIB parado o em recessão. É muito provável que a política econômica atual se mantenha no próximo governo, já que os candidatos a presidente com maiores chances no próximo dia 22 de abril, apresentam linhas econômicas muito similares. Enquanto os vizinhos patinam, o Paraguai segue seu rumo.