Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini: "não apoiamos essas iniciativas de fazer encontros de passivos e ativos usando as reservas internacionais" (Sergio Moraes/Reuters)
Da Redação
Publicado em 29 de outubro de 2015 às 15h28.
Brasília - O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, defendeu a parlamentares nesta quinta-feira que o Brasil não deve mexer nas reservas internacionais no atual contexto, já que elas têm funcionado como um seguro para a economia brasileira, segundo gravação feita por um dos participantes da reunião obtida pela Reuters.
"Não apoiamos essas iniciativas de fazer encontros de passivos e ativos usando as reservas internacionais, porque hoje é um colchão, é um seguro para a economia brasileira, e tem funcionado bem", disse Tombini, que reuniu-se nesta manhã com deputados da Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara dos Deputados. "A prova do pudim é justamente a que nós estamos vivendo hoje. Ou seja, com toda essa confusão internacional, com todas as incertezas em relação à economia brasileira, nós temos uma tranquilidade do ponto de vista do financiamento externo da economia brasileira neste momento. Não mexeria nas reservas neste contexto", acrescentou.
No mês passado, intensa volatilidade no mercado de câmbio alimentou debates nos mercados financeiros sobre a possibilidade de o BC entrar no mercado à vista vendendo dólares das reservas. Na época, a moeda norte-americana atingiu sua máxima histórica no intradia, encostando em 4,25 reais.
O BC reagiu reforçando suas intervenções no mercado com leilões de venda de dólares com compromisso de recompra e leilões de novos swaps cambiais, contratos equivalentes a venda futura de divisas. Não fez, porém, leilões no mercado à vista, deixando intocadas as reservas internacionais, que somavam 371,5 bilhões de dólares em 27 de outubro.
Também houve discussões sobre o país usar suas reservas internacionais para cobrir parte do rombo fiscal, em meio ao cenário de recessão econômica.
O presidente do BC, também no mês passado, não chegou a descartar o uso das reservas no mercado cambial, dizendo que elas eram um seguro que "pode e deve" ser utlizado. Na prática, o que ele indicou era que o colchão já estava sendo usado, mas como uma espécie de lastro aos swaps cambias.
BANCOS COM MARGEM
Falando sobre o quadro econômico ao parlamentares, Tombini reconheceu que as perspectivas não são animadores para segmentos importantes, citando especificamente a cadeia de óleo e gás e a de construção. Mas destacou a robustez do setor financeiro mesmo neste cenário, na esteira da divulgação de balanço de bancos.
"É uma segurança de que a despeito do agravamento desses grandes segmentos da economia brasileira, esse setor tem capacidade de transitar ao longo dos próximos dois ou três semestres com uma certa margem."
"Tudo que nós não precisávamos nesse momento era uma crise no sistema financeiro", completou. Tombini disse ainda que o sistema financeiro está bem capitalizado, com provisões suficientes para enfrentar perdas em carteiras de crédito. A respeito da rentabilidade das instituições, disse que ela "pode aumentar ou diminuir".
"O quadro econômico é um quadro adverso nos próximos meses em relação à atividade nesses segmentos mencionados, que são segmentos importantes", afirmou. Sobre a perspectiva de baixar a taxa básica de juros, Tombini lembrou que a inflação acumulada está beirando os 10 por cento, deixando a autoridade monetária de mãos atadas para reduzir a Selic.
"De nada adianta o Banco Central dizer agora 'vamos baixar os juros pra 5 por cento' porque o mercado não vai financiar o governo nessa taxa. Possivelmente os agentes de mercado que financiam, os fundos, os bancos, os poupadores, vão olhar pra essa taxa e vão dizer: 'isso vai representar mais inflação no futuro, então nós vamos cobrar mais juros e não menos juros'", afirmou.
Ao longo da conversa com os parlamentares, ele lembrou que os juros no atual patamar de 14,25 por cento ao ano "não estão onde estão por acaso", defendendo sua necessidade para que os grandes ajustes de preços relativos --desvalorização do real frente ao dólar e realinhamento dos preços administrados--, não se transfiram para horizontes de mais longo prazo.