Economia

Não há mais motivos para o BC subir os juros, diz empresário

Presidente da Abinee, Humberto Barbato, defende a redução dos prazos dos financiamentos como forma de controlar a inflação

Nova alta dos juros básicos pode sufocar ainda mais o setor industrial neste ano (Ricardo Correa/EXAME)

Nova alta dos juros básicos pode sufocar ainda mais o setor industrial neste ano (Ricardo Correa/EXAME)

DR

Da Redação

Publicado em 2 de junho de 2011 às 10h02.

São Paulo – Os recentes resultados ruins da indústria brasileira reforçaram a posição do empresariado contra novas altas dos juros. Na semana que vem, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central define se altera ou não a taxa Selic, atualmente em 12% ao ano.

Até a semana passada, o mercado financeiro apostava em mais duas altas de 0,25 ponto percentual neste ano, mas alguns analistas começam a avaliar a possibilidade de um aperto monetário menor.

Em entrevista a EXAME.com, o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, defende a redução do prazo dos financiamentos como forma mais eficiente de combate à inflação.

O empresário também comenta outros assuntos, como a crise envolvendo o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci e a concessão de aeroportos à iniciativa privada.

EXAME.com – Diante dos últimos resultados da indústria, é hora de encerrar o ciclo de alta dos juros?

Barbato: 'faremos papelão na Copa' (Eduardo Raia/Abinee)

Humberto Barbato – Sim, com certeza. Elevar os juros agora seria um erro do Banco Central, pois encareceria a produção e o governo correria o risco de frear a economia num ritmo maior que o necessário. Se o objetivo é reduzir o consumo para aliviar a inflação, existem outras medidas de restrição ao crédito.

EXAME.com – Quais ações o sr. sugeriria?

Barbato – Diminuir o número de prestações para determinado bens. No caso do produto eletroeletrônico, a população não olha a taxa de juros, mas se a prestação cabe no bolso. Ao diminuir o prazo, você aumenta o valor da prestação e, consequentemente, reduz o consumo.


EXAME.com – O bom desempenho fiscal do governo neste ano é fruto do aumento da arrecadação e do corte de investimentos. Isso é saudável?

Barbato – Infelizmente o governo anterior cometeu o erro de aumentar muito as despesas correntes, que agora dificilmente serão cortadas. Isso fez parte da política populista do governo Lula. O ex-presidente ficou com 80% de popularidade e a gente paga o preço, inclusive com alguma inflação.

EXAME.com – A crise envolvendo o ministro Antonio Palocci está atrapalhando o governo Dilma?

Barbato – A crise está paralisando o governo na medida em que atrai a atenção do Executivo para esse tema. Isso poderá inverter prioridades devido à enorme pressão da base aliada. Isso é muito ruim porque o Brasil começa a andar em função de interesses nem sempre prioritários.

EXAME.com – Como o sr. avalia a proposta de concessão de aeroportos à iniciativa privada?

Barbato – O caminho é esse, mas infelizmente a medida veio muito tarde. Não teremos tempo hábil para evitar um papelão na Copa do Mundo. Para atrair a iniciativa privada, você precisa de uma regulamentação muito bem feita, o que leva um tempo enorme.

EXAME.com – O projeto em debate no Congresso que flexibiliza as regras de licitação para as obras da Copa e dos Jogos Olímpicos é positivo?

Barbato – Nós já temos tantos problemas de malversação de verba pública com a atual legislação, imagine se houver flexibilização. Perderemos totalmente o controle. Vai ser uma loucura, um queijo suíço. É um prato feito para o interesse de alguns.

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralEmpresáriosEstatísticasIndicadores econômicosIndústriaIndústrias em geralJurosMercado financeiroSelicsetor-eletroeletronico

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto