Taxas: Fundo do BTG reduz ainda mais custo ao investidor (Priscila Zambotto/Reuters)
João Pedro Caleiro
Publicado em 5 de dezembro de 2018 às 14h05.
Última atualização em 5 de dezembro de 2018 às 14h39.
São Paulo - O mundo desacelera. Na América Latina, a recuperação é frágil. E no Brasil, há uma janela para resolver a questão fiscal e acelerar a retomada, mas ela não deve durar muito.
Este foi o diagnóstico apresentado por economistas do Itaú em conversa com jornalistas na manhã desta quarta-feira (05).
"Em um mundo mais tumultuado e arriscado, quanto menos vulnerável, melhor. Essa perspectiva deveria suscitar mais rapidez na agenda de reformas", diz Mário Mesquita, economista-chefe do banco.
Eles identificaram quatro riscos principais no cenário internacional: o aumento dos juros nos Estados Unidos, a guerra comercial, a desaceleração da China e os problemas fiscais na Itália.
É isso que está por trás da aversão ao risco verificada nas últimas semanas e que afetou também o Real, para além das questões domésticas da transição para o presidente eleito Jair Bolsonaro.
“Os investidores lá fora estão olhando o Brasil não com pessimismo, mas com cautela, porque existem dúvidas em relação a esta agenda de reformas", diz Mesquita.
A avaliação da equipe fiscal do banco é que meta de déficit primário e o teto de gastos não serão desafios já em 2019.
O único problema é se o crescimento vier próximo de zero, uma possibilidade remota mas concreta se não for aprovada nenhuma reforma da Previdência.
Os economistas avaliam que a ideia de "fatiar" a reforma, citada ontem pelo presidente eleito, não é necessariamente ruim.
Ela pode significa usar aspectos do texto atual, ou reformar o sistema de repartição inicialmente para depois introduzir um sistema de capitalização para os novos entrantes, diz Mesquita.
Sua avaliação é que "não faz sentido" começar do zero, até porque a tramitação leva tempo: na reforma de Temer, foram seis meses entre o texto ser apresentado e estar pronto para votação.
Segundo Pedro Schneider, economista do banco, o mais importante é definir idade mínima e a regra de transição, que vai definir o nível de economia e a velocidade de convergência para o novo regime. A questão é central também para a saúde fiscal dos estados.
"Me surpreende que não tenha tido mais apoio dos governos estaduais para a reforma", diz Mário. "É até mais premente para eles, diante de funcionamento da máquina pública".
A partir de 2020, o cumprimento do teto e a melhora fiscal dependem também de outras questões. Duas das mais importantes são controle de pessoal e salário mínimo: tanto a fórmula de reajuste, que vence no ano que vem, quanto a vinculação com benefícios.
Uma pista importante da orientação do novo governo sobre o tema será dada com o envio até 15 de abril da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), diz o economista Pedro Schneider.
O banco vê a inflação bem comportada no Brasil, já que houve uma reversão nos preços de alimentos e não há pressões fortes diante da combinação de alta ociosidade e queda lenta do desemprego.
O mesmo acontece com os juros: o banco trabalha com a possibilidade do juro real neutro, aquele que nem aquece nem esfria a economia, ter caído para 3%. Pela primeira vez, a taxa básica de juros no México está acima do Brasil.
“Aquela ideia do Brasil ser permanentemente o país com a maior taxa de juros entre os emergentes está passando“, diz Mesquita, que aponta fatores como inclusão bancária, a redução do crédito subsidiado e a nova taxa de juros de longo prazo (TLP).
No entanto, tanto inflação quanto juros baixos e por mais tempo também dependem de manter a consolidação fiscal.
"A dívida está em uma trajetória explosiva. Ou faz o ajuste fiscal de forma ordenada ou faz de forma desordenada, que é inflação, ou com os estados atrasando, por exemplo, pagamento de aposentadoria ou funcionalismo", diz Mesquita.
O cenário-base do banco para 2019 é de três altas de juros nos EUA e aprovação da reforma da Previdência já no primeiro semestre.
Isso faria o Brasil acelerar o crescimento de 1,3% neste ano para 2,5% em 2019. Já o desemprego cairia lentamente: de 12% no final de 2018 para 11,6% no final de 2019.
O dólar fecharia 2018 em R$ 3,75 e 2019 em R$ 3,90. A previsão é que a Selic permaneça em 6,5%.