As multinacionais obtiveram em 2014 maiores receitas nas ilhas Bermudas do que na China, apontou nessa terça-feira um relatório da ONU publicado em meio à polêmica sobre a falta de transparência das finanças de grandes empresas.
A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), com sede em Genebra, aponta receitas desproporcionais registradas por corporações internacionais em "jurisdições com baixos impostos, frequentemente offshore".
O relatório reforça as suspeitas sobre as técnicas reveladas pelos "Panama Papers", sobre multinacionais que instalam suas sedes em países com impostos muito inferiores aos que pagariam onde desenvolvem suas atividades.
O estudo tem como amostragem multinacionais de 26 países desenvolvidos que obtiveram receitas de 43,7 bilhões de dólares em 2014 de suas atividades no paraíso fiscal das Bermudas, um valor equivalente a 779% do PIB desse exíguo território antilhano.
As atividades na China geraram receitas de 36,4 bilhões de dólares, equivalentes a 0,3% do PIB do gigante asiático.
"Como é possível obter mais lucros declarados em Bermudas do que na China?", questionou Astrit Sulstarova, diretor da unidade de investimentos da UNCTAD.
"Parece que há algo suspeito aí", apontou.
O relatório da UNCTAD afirma que as multinacionais registraram receitas superiores a 30 bilhões de dólares nas ilhas Cayman, o equivalente a 875% do PIB desse país.
As multinacionais registraram receitas superiores a 74 bilhões de dólares em Luxemburgo, maior receptor de investimentos de "entidades com fins especiais" (special purpose entities, SPEs), grande parte delas empresas fictícias.
A quantia corresponde a 114% do PIB do ducado, membro da zona do euro.
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1. Esconderijos de dinheiro além-mar
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São Paulo -
De pagar impostos ninguém gosta, isso é fato. Tanto que há quem mande suas fortunas para abrigos no exterior, os chamados paraísos fiscais, lugares que funcionam como verdadeiras caixas-pretas financeiras. Basta ver que os escândalos sobre políticos e empresas com dinheiro no exterior já viraram rotina nos noticiários do Brasil e do mundo. Só que o problema vai muito além de fugir do fisco no seu próprio país. Pouco se fala sobre outros problemas nocivos associados aos paraísos fiscais, a exemplo de seu uso como reduto para dinheiro de origem duvidosa, como o do tráfico de drogas, armas, corrupção e o terrorismo. Atento a estas questões, o grupo Tax Justice Network (TJN), um coletivo de economistas, advogados, contadores, escritores e outros tantos, divulgou este mês o estudo
Financial Secrecy Index. Na ampla e densa pesquisa, o grupo apresenta um índice de transparência financeira internacional, que classifica as jurisdições de acordo com seu sigilo e a escala de suas atividades offshore. "O mundo do sigilo cria uma estufa criminógena para vários males, incluindo fraude, trapaça fiscal, fuga de regulamentações financeiras, peculato, abuso de informação privilegiada, suborno, lavagem de dinheiro, e muito mais", apontou o estudo. O relatório estima que até US$ 32 trilhões de capital privado foram “escondidos” em paraísos fiscais, onde a taxação é baixa ou nula. Segundo a pesquisa, os paraísos fiscais "extraem riqueza à custa das sociedades, criando impunidade política e minando o crescimento de muitos países". Recentemente, um outro relatório, do Financial Transparency Coalition com o Christian Aid, mostrou que os
países mais pobres são os mais prejudicados por contas secretas na Suíça, um dos mais notórios paraísos fiscais do planeta. Conforme a pesquisa, nações ricas também sofrem. Por exemplo, países europeus como a Grécia, Itália e Portugal, se complicaram em parte, por décadas de evasão fiscal. De acordo com o
Relatório de Comércio e Desenvolvimento 2014, da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), os paraísos fiscais geram perda de recursos públicos de US$ 190 bilhões a US$ 290 bilhões por ano em todo o mundo. Num mundo onde o dinheiro pode atravessar fronteiras com ajuda de um computador, é cada vez maior a pressão para que as transações financeiras sejam mais transparentes e facilitem o combate aos fluxos financeiros ilícitos ou a fuga de capitais. Veja a seguir os 10 princípais destinos para esconder dinheiro no mundo >
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2. 1. Suíça
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Pontuação no índice de sigilo bancário e fiscal: 73 A Suíça é responsável por pouco mais de 5,6 por cento do mercado global de serviços financeiros offshore.
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3. 2. Hong Kong
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Pontuação total no índice de sigilo bancário e fiscal: 72 Hong Kong é responsável por pouco mais de
3,8 por cento do mercado global de serviços financeiros offshore.
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4. 3. Estados Unidos
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4/11 (David McNew/Getty Images)
Pontuação total no índice de sigilo bancário e fiscal: 60 Os Estados Unidos são responsáveis por pouco mais de
19,6 por cento do mercado global de serviços financeiros offshore.
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5. 4. Singapura
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5/11 (Thinckstock)
Pontuação total no índice de sigilo bancário e fiscal: 69 Singapura é responsável por pouco mais de 4,8 por cento do mercado global de serviços financeiros offshore.
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6. 5. Ilhas Cayman
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6/11 (Wikimedia Commons)
Pontuação total no índice de sigilo bancário e fiscal: 65 As Ilhas Caymans são responsáveis por pouco mais de
4,8 por cento do mercado global de serviços financeiros offshore.
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7. 6. Luxemburgo
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7/11 (WolfgangStaudt/Flickr/Creative Commons)
Pontuação total no índice de sigilo bancário e fiscal: 55 Luxemburgo é responsável por pouco mais de 11,6 por cento do mercado global de serviços financeiros offshore.
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8. 7. Líbano
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8/11 (Jordi Cami / Getty Images)
Pontuação total no índice de sigilo bancário e fiscal: 79 O Líbano é responsável por cerca de 0,5 por cento do mercado global de serviços financeiros offshore.
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9. 8. Alemanha
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Pontuação total no índice de sigilo bancário e fiscal: 56 A Alemanha é responsável por pouco mais de 6 por cento do mercado global de serviços financeiros offshore.
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10. 9. Bahrein
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Pontuação total no índice de sigilo bancário e fiscal: 74 Bahrein é responsável por cerca de 0,01 por cento do mercado global de serviços financeiros offshore.
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11. 10. Emirados Árabes
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Pontuação total no índice de sigilo bancário e fiscal: 77 Bahrein é responsável por cerca de 1 por cento do mercado global de serviços financeiros offshore.