(Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 23 de abril de 2024 às 10h48.
Como esperado, o mercado reagiu à mudança das metas fiscais anunciada na última semana pelo governo. O menor rigor com as contas públicas e a promessa orçamentária de aumento de gastos afetaram as expectativas de inflação de 2024 e 2025, o câmbio e os juros, segundo o boletim Focus, do Banco Central (BC). Toda a piora do ambiente interno se soma à incerteza internacional, com a sinalização de que o Federal Reserve (FED) só deve começar a cortar os juros em dezembro ou em 2025.
Neste ano, a mediana das estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu de 3,71% para 3,73%. A mediana das projeções para o próximo ano subiu pela terceira semana consecutiva, de 3,56% para 3,60%.
Nos dois casos, a meta para a inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual. Mesmo dentro da banda, as expectativas estão desancoradas.
Como mostrou a EXAME, Campos Neto deu um recado importante sobre expectativas de inflação na última semana ao dizer que o BC terá um “trabalho difícil à frente”, mas que fará o que for necessário para ancorar as estimativas.
Segundo ele, esses dados são muito relevantes para o Comitê de Política Monetária (Copom) e que fará o que for necessário para ancorar as expectativas. Com o aumento das incertezas fiscais, o risco de o ciclo de queda de juros ser interrompido antes do esperado aumentou.
“As expectativas de inflação são muito relevantes para nós. Não há dúvida de que é muito importante manter as expectativas de inflação ancoradas. Sabemos que teremos um trabalho difícil à frente. Vamos fazer o que for necessário para ancorar as expectativas de inflação”, disse o presidente do BC.
Outra variável importante avaliada pelo BC é o preço do dólar e o repasse desse custo para produtos e serviços no Brasil. O Focus apontou que a moeda norte-americana ficará acima de R$ 5 ao longo de 2024, em R$ 5,05 em 2025 e em R$ 5,10 em 2026 e 2027. Significa dizer que o custo da moeda estrangeira pode ser mais um fator de pressão sobre a inflação.
Com a mudança da meta fiscal e expectativa de mais inflação, o mercado passou a esperar um ciclo menor de queda de juros. A mediana subiu de 9,13% para 9,5%. Diversos bancos, corretoras e casas de investimento, entretanto, estão mais pessimistas e esperam que a taxa terminará em 9,75% ao ano.
Para 2025, o mercado subiu a mediana das projeções de 8,5% para 9%. A mal comunicada mudança da meta fiscal, que jogou o ajuste para o próximo presidente, já teve um impacto claro no canal das expectativas.
Os dados das próximas semanas terão influência direta na decisão do próximo Copom, marcado para 7 e 8 de maio. Entre boa parte dos analistas a aposta é de que o corte na Selic será de 0,25 ponto percentual. E o fim do ciclo pode estar mais perto do que muitos acham.