A indústria de transformação e a da construção são as mais afetadas (Paulo Fridman/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 10 de junho de 2014 às 08h35.
Rio - A indústria perdeu dinamismo no início do segundo trimestre de 2014 e levou o Produto Interno Bruto (PIB), soma de toda a renda gerada no País, a uma intensa desaceleração em abril.
O crescimento acumulado em 12 meses, que era de 2,5% até março, passou a 1,8% no mês seguinte, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), que calcula o Monitor do PIB.
O mês de abril foi marcado por queda expressiva na confiança de empresários da indústria, do comércio, da construção e dos serviços.
A produção industrial, por sua vez, caiu 5,8% em relação a abril de 2013 - o recuo mais intenso desde setembro de 2009 nessa comparação. Enquanto isso, consumidores sinalizam intenção cada vez menor de consumo.
"Todos os setores sofrem retração, mas chama a atenção o resultado da indústria, que se reduz de 2,1% no primeiro trimestre para 1,1% no acumulado (em 12 meses) até abril", diz o relatório da FGV, obtido com exclusividade pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.
A indústria de transformação e a da construção são as mais afetadas. Nos serviços, o comércio perdeu fôlego, enquanto na agropecuária a produção de café, milho e suínos caiu.
A atividade mais fraca foi justamente um dos argumentos do Comitê de Política Monetária (Copom) para interromper o ciclo de alta da Selic.
A decisão foi tomada no mês passado, apesar de a inflação se aproximar cada vez mais do teto da meta perseguida pelo governo, de 6,5%. Na sexta-feira, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 6,37% em 12 meses.
Desaceleração
O Ibre/FGV trabalha desde o início de 2013 no projeto Monitor do PIB, que busca antecipar mês a mês os rumos da atividade econômica adotando as mesmas metodologia e fontes de informação usadas no cálculo oficial do IBGE.
O projeto é coordenado pelo pesquisador associado Claudio Considera, que já esteve à frente da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE e foi secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda.
O arrefecimento da atividade é observado em qualquer tipo de comparação no Monitor. No trimestre até abril em relação a igual período de 2013, o crescimento da economia foi de 1,2%. Nos primeiros três meses do ano, porém, havia sido de 1,9%.
Para as estimativas, o Ibre/FGV compilou os dados já divulgados, correspondentes a 60% das informações utilizadas.
A atividade da indústria caiu 0,5% nos três meses até abril sobre igual período de 2013. "A desaceleração era esperada, mas isso (queda da produção) surpreendeu.
Mostra um descompasso, porque não estava tão ruim assim", avalia Considera. Por outro lado, a expansão na produção de energia e na indústria extrativa impediu que o PIB industrial ficasse ainda pior.
Na próxima sexta-feira, as atenções se voltarão aos dados de abril do Indicador de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). Para o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, o avanço entre março e abril deve ser de 0,3%, puxado pelo comércio.
"Mas é preciso cautela. Apesar da alta, a base (de abril) pode ficar muito ruim, levando a uma melhora nos meses seguintes", disse Perfeito, acrescentando que o segundo trimestre pode "não ser tão ruim".