Esplanada dos Ministérios: governo evita comentar publicamente possível taxação de produtos brasileiros pelos Estados Unidos, mas já calcula impactos e avalia possíveis retaliações (Leandro Fonseca)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 10 de fevereiro de 2025 às 18h49.
Última atualização em 10 de fevereiro de 2025 às 18h55.
Publicamente, o governo brasileiro evitou comentar a possível taxação do aço e do alumínio pelos Estados Unidos e aguarda o presidente Donald Trump formalizar a medida. Mas nos bastidores do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) técnicos já calculam eventuais impactos para a economia nacional e as possíveis medidas de reciprocidade à alta norte-americana, afirmaram à EXAME membros da pasta.
Uma lista com medidas de retaliação está sendo preparada pelo MDIC e será apresentada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo vice-presidente e ministro da área, Geraldo Alckmin, apurou a EXAME.
A decisão de retaliar ou não os Estados Unidos, entretanto, depende da formalização da medida por Trump e será tomada exclusivamente pelo presidente Lula, após reunião com o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
A avaliação interna entre técnicos do MDIC é de que o governo deve decidir no mesmo dia em que o presidente dos EUA formalizar o aumento do imposto de importação.
Dados do MDIC mostram que os produtos semimanufaturados de ferro ou aço estão em segundo lugar no ranking de exportação para os Estados Unidos e totalizaram US$ 2,8 bilhões em 2024. O Brasil é segundo maior exportador de aço para os norte-americanos e só perde para o Canadá.
Segundo estatísticas do MDIC, no ano passado, o Brasil teve pequeno déficit comercial de US$ 253 milhões com os Estados Unidos. O país exportou US$ 40,330 bilhões e importou US$ 40,583 bilhões no ano passado, o que torna os Estados Unidos o segundo maior parceiro comercial do Brasil, o segundo maior destino das mercadorias brasileiras e a terceira maior fonte de importações.
Segundo um levantamento da Câmara de Comércio Brasil-EUA (Amcham), os principais produtos americanos exportados pelo Brasil para os EUA no ano passado foram:
Óleos brutos de petróleo
Produtos semi-acabados de ferro ou aço
Aeronaves e suas partes
Café não torrado
Ferro-gusa, e ferro-ligas
Óleos combustíveis de petróleo
Celulose
Equipamentos de engenharia civil
Sucos de frutas ou de vegetais
Carne bovina
Ao todo, o top 10 de produtos da pauta exportadora brasileira com os EUA somou cerca de US$ 22 bilhões em 2024.
Já os principais produtos americanos importados pelo Brasil no ano passado foram:
Ao todo, o top 10 de produtos da pauta importadora brasileira com os EUA somou cerca de US$ 21 bilhões em 2024.
Segundo os técnicos do MDIC, as ameaças de Trump ocorrem diante do fato de o Brasil ser um país fechado e com baixa representatividade na corrente global de comércio.
Eles relembraram que as tarifas de importação cobradas pelo Brasil dos Estados Unidos são significativamente maiores das cobradas pelos norte-americanos das empresas brasileiras.
Dados do Itaú Unibanco mostram que enquanto o Brasil impõe uma tarifa média de 11,2% sobre produtos importados dos Estados Unidos, os norte-americanos aplicam um imposto de importação médio de 1,5% sobre produtos brasileiros.
"Considerando a composição das exportações brasileiras para os EUA, indústrias como a siderúrgica (o aço foi mencionado recentemente e foi alvo de tarifas dos EUA em 2018, mas, após negociações, essas tarifas foram convertidas em cotas de importação e posteriormente reduzidas em 2020), combustíveis e aviação podem sofrer impactos maiores", diz trecho do relatório.
A favor do Brasil, pondera o banco, está o fato de que Trump parece centrar suas atenções em países com os quais os EUA têm grandes déficits, como a China, México e Vietnã, que juntos representam um déficit total na balança de comércio superior a US$ 500 bilhões por ano.