Economia

Ministério da Indústria já calcula impactos de sobretaxação pelos EUA e avalia possíveis retaliações

Debate técnico na pasta ocorre enquanto o governo brasileiro evita fazer comentários sem uma decisão concreta de Trump

Esplanada dos Ministérios: governo evita comentar publicamente possível taxação de produtos brasileiros pelos Estados Unidos, mas já calcula impactos e avalia possíveis retaliações (Leandro Fonseca)

Esplanada dos Ministérios: governo evita comentar publicamente possível taxação de produtos brasileiros pelos Estados Unidos, mas já calcula impactos e avalia possíveis retaliações (Leandro Fonseca)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 10 de fevereiro de 2025 às 18h49.

Última atualização em 10 de fevereiro de 2025 às 18h55.

Publicamente, o governo brasileiro evitou comentar a possível taxação do aço e do alumínio pelos Estados Unidos e aguarda o presidente Donald Trump formalizar a medida. Mas nos bastidores do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) técnicos já calculam eventuais impactos para a economia nacional e as possíveis medidas de reciprocidade à alta norte-americana, afirmaram à EXAME membros da pasta.

Uma lista com medidas de retaliação está sendo preparada pelo MDIC e será apresentada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo vice-presidente e ministro da área, Geraldo Alckmin, apurou a EXAME.

A decisão de retaliar ou não os Estados Unidos, entretanto, depende da formalização da medida por Trump e será tomada exclusivamente pelo presidente Lula, após reunião com o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.

A avaliação interna entre técnicos do MDIC é de que o governo deve decidir no mesmo dia em que o presidente dos EUA formalizar o aumento do imposto de importação.

Dados do MDIC mostram que os produtos semimanufaturados de ferro ou aço estão em segundo lugar no ranking de exportação para os Estados Unidos e totalizaram US$ 2,8 bilhões em 2024. O Brasil é segundo maior exportador de aço para os norte-americanos e só perde para o Canadá.

Segundo estatísticas do MDIC, no ano passado, o Brasil teve pequeno déficit comercial de US$ 253 milhões com os Estados Unidos. O país exportou US$ 40,330 bilhões e importou US$ 40,583 bilhões no ano passado, o que torna os Estados Unidos o segundo maior parceiro comercial do Brasil, o segundo maior destino das mercadorias brasileiras e a terceira maior fonte de importações.

Segundo um levantamento da Câmara de Comércio Brasil-EUA (Amcham), os principais produtos americanos exportados pelo Brasil para os EUA no ano passado foram:

Óleos brutos de petróleo
Produtos semi-acabados de ferro ou aço
Aeronaves e suas partes
Café não torrado
Ferro-gusa, e ferro-ligas
Óleos combustíveis de petróleo
Celulose
Equipamentos de engenharia civil
Sucos de frutas ou de vegetais
Carne bovina

Ao todo, o top 10 de produtos da pauta exportadora brasileira com os EUA somou cerca de US$ 22 bilhões em 2024.

Já os principais produtos americanos importados pelo Brasil no ano passado foram:

  • Motores e máquinas não elétricos
  • Óleos combustíveis de petróleo
  • Aeronaves
  • Gás natural
  • Polímeros de etileno, em formas primárias
  • Óleos brutos de petróleo
  • Carvão
  • Aparelhos de medição, verificação e controle
  • Medicamentos e produtos farmacêuticos
  • Outros medicamentos, incluindo veterinários

Ao todo, o top 10 de produtos da pauta importadora brasileira com os EUA somou cerca de US$ 21 bilhões em 2024.

País fechado

Segundo os técnicos do MDIC, as ameaças de Trump ocorrem diante do fato de o Brasil ser um país fechado e com baixa representatividade na corrente global de comércio.

Eles relembraram que as tarifas de importação cobradas pelo Brasil dos Estados Unidos são significativamente maiores das cobradas pelos norte-americanos das empresas brasileiras.

Dados do Itaú Unibanco mostram que enquanto o Brasil impõe uma tarifa média de 11,2% sobre produtos importados dos Estados Unidos, os norte-americanos aplicam um imposto de importação médio de 1,5% sobre produtos brasileiros.

"Considerando a composição das exportações brasileiras para os EUA, indústrias como a siderúrgica (o aço foi mencionado recentemente e foi alvo de tarifas dos EUA em 2018, mas, após negociações, essas tarifas foram convertidas em cotas de importação e posteriormente reduzidas em 2020), combustíveis e aviação podem sofrer impactos maiores", diz trecho do relatório.

A favor do Brasil, pondera o banco, está o fato de que Trump parece centrar suas atenções em países com os quais os EUA têm grandes déficits, como a China, México e Vietnã, que juntos representam um déficit total na balança de comércio superior a US$ 500 bilhões por ano.

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