Economia

"Minha Casa Melhor" deve ter impacto marginal para varejo

Apesar da linha de crédito ser de R$ 18,7 bilhões, governo injetará R$ 8 bilhões na Caixa Econômica Federal para o financiamento do programa

Consumidores examinam equipamento de som em loja da Casas Bahia, em São Paulo (Nacho Doce/Reuters)

Consumidores examinam equipamento de som em loja da Casas Bahia, em São Paulo (Nacho Doce/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 14 de junho de 2013 às 11h54.

São Paulo - As empresas de varejo podem se beneficiar com o programa de subsídio à compra de móveis e eletrodomésticos Minha Casa Melhor, lançado na quarta-feira pelo governo federal, mas o impacto sobre os resultados das companhias deve ser marginal, devido a demanda incerta e margens estreitas.

Apesar da linha de crédito ser de 18,7 bilhões de reais, o governo injetará, a princípio, 8 bilhões de reais na Caixa Econômica Federal para o financiamento do programa.

Como a liberação dos recursos totais depende da procura, analistas do setor de varejo ainda tem dúvidas se as 3,7 milhões de famílias que participam do Minha Casa Minha Vida, únicas elegíveis para a linha de financiamento, chegarão a contratá-la de fato.

Coordenador do núcleo de estudos do varejo da ESPM, Ricardo Pastore avalia que o programa deverá promover um "estímulo adicional" ao consumo, em não uma corrida às lojas.

"Primeiro, ele precisa chegar a uma parte da população que é mais difícil de atingir. Muita gente já tem acesso ao crédito e acaba parcelando as compras no cartão, o que é mais fácil" que visitar uma agência da Caixa para se habilitar aos recursos, disse ele.

O programa Minha Casa Melhor foi lançado em um momento em que a economia tem mostrado sinais fracos de retomada e em meio a afirmações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que o governo poderá cortar gastos para atingir a meta de superávit primário de 2,3 por cento.


Uma amostra dessa fraqueza foi o resultado das vendas do varejo brasileiro em abril, divulgado nesta manhã, mostrando um crescimento de apenas 0,5 por cento sobre março, enquanto as previsões do mercado eram de 1,4 por cento.

Se o cenário macroeconômico não sugere grande otimismo com a medida, as condições estabelecidas pelo Minha Casa Melhor tampouco dão margem para um salto nos ganhos das empresas de varejo, avalia o diretor-geral da consultoria Gouvêa de Souza, Marcos Gouvêa.

Com taxa de 5 por cento ao ano, o empréstimo será concedido pela Caixa, que fornecerá um cartão para os consumidores pagarem à vista os itens comprados nas mais de 13.000 lojas credenciadas.

"Os fabricantes e fornecedores vão ser beneficiados de qualquer maneira. Já o varejo ganha com a demanda, mas perde a margem financeira de ter realizado o financiamento por conta própria", afirmou Gouvêa.

As compras devem obedecer a um teto de 5.000 reais, sendo que os itens contemplados no programa também têm um limite de preço, que foi considerado baixo pelo mercado. Os sofás, por exemplo, só podem chegar a 375 reais. Computadores e TVs digitais, os itens mais caros, são limitados a 1.150 e 1.400 reais, respectivamente. Entre os demais produtos, estão cama, guarda-roupa, mesa, geladeira, fogão e máquina de lavar.

As margens são naturalmente mais baixas para itens nessa faixa de preço. Como as lojas terão que dar um desconto de 5 por cento sobre os produtos, regra estabelecida pelo governo para credenciamento no programa, será preciso ganhar em volume para ver algum aumento expressivo nos resultados.


Pão de Aúcar e Luiza

Na avaliação da analista de varejo Juliana Monteiro, da CGD Securities, Pão de Açúcar e Magazine Luiza podem sair na frente neste cenário, pelo tamanho das redes e capacidade de negociação com fornecedores. As redes participaram diretamente das discussões do Minha Casa Melhor junto ao governo.

"Mas o impacto deve ser marginal, sendo mais sentido no Norte e Nordeste, onde deve estar a maior parte das pessoas que usarão o programa para comprar", diz.

Em nota, o vice-presidente de operações da Via Varejo, Jorge Herzog, afirmou que a empresa dispõe de produtos enquadrados nos critérios do programa e está preparando as "unidades para receber os mutuários assim que houver a habilitação". Controlada pelo Pão de Açúcar, a empresa é dona das bandeiras Casas Bahia e Ponto Frio.

Durante o anúncio feito na quarta-feira, a presidente do Magazine Luiza, Luiza Trajano, disse acreditar no potencial do Minha Casa Melhor de atingir as classes C e D.

Na bolsa, as ações das duas companhias não foram afetadas positivamente. Na sessão da véspera, Pão de Açúcar teve queda de 1,3 por cento e Magazine Luiza recuou 1,1 por cento, em linha com o recuo de 1,18 por cento do índice referencial da bolsa paulista. Às 14h58 desta quinta-feira, as duas companhias continuavam operando em queda.

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