Economia

Mesmo com sinais de fim do ciclo de cortes, governo vê espaço para Selic abaixo de 10% ao ano

Segundo técnicos do governo ouvidos pela EXAME, os núcleos mostram uma inflação abaixo do centro da meta e as expectativas, mesmo que em processo de alta, estão dentro do intervalo de tolerância

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 27 de maio de 2024 às 15h29.

Última atualização em 28 de maio de 2024 às 06h56.

Mesmo com as sinalizações de diretores do Banco Central (BC) de que o ciclo de cortes de juros pode ter acabado na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a avaliação no governo é de que ainda há espaço para a redução da Selic, em um ritmo menor, de 0,25 ponto percentual. Segundo técnicos do governo ouvidos pela EXAME, os núcleos mostram uma inflação abaixo do centro da meta e as expectativas, mesmo que em processo de alta, estão dentro do intervalo de tolerância (de 1,5 p.p. abaixo ou acima de 3%).

“Há um entendimento de que há espaço para a queda de juros. O ciclo será menor, mas há espaço para uma Selic abaixo de 10% ao ano. O governo está focado em equilibrar as contas públicas e esse processo de redução da Selic é importante para melhorar o nível de atividade econômica”, disse um auxiliar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O objetivo central perseguido pelo BC é de 3%, com uma banda de 1,5%. Com isso, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) pode encerrar o ano entre 1,5% e 4,5% para o cumprimento da meta. Por outro lado, as expectativas de inflação têm subido nas últimas semanas, desde que o governo alterou as metas fiscais para os próximos anos.

A mediana das expectativas para inflação de 2024 estava em 3,73% há quatro semanas e subiu para 3,86%, segundo dados do Focus divulgados nesta segunda-feira, 27. Para 2025, na mesma base comparação, as estimativas subiram de 3,6% para 3,75%.

De um lado, uma corrente de pensamento defende que a ancoragem de expectativas é importante para o processo de redução de juros. Outro grupo aponta que a a inflação está comportada é que há espaço para a queda da Selic.

Incerteza sobre novos diretores pesa na desancoragem

Na prática, o Copom toma uma decisão sobre os juros com um horizonte relevante de 12 a 18 meses. Com isso, a diretoria colegiada do BC está mais preocupada com a inflação de 2025, que segue desancorada.

A desancoragem nas expectativas tem sido influenciada pela mudança das metas fiscais e pela incerteza sobre os novos diretores que serão escolhidos o BC para o BC em 2025. O mandato de Campos Neto e de outros dois diretores termina em janeiro do próximo ano.

Assim, o total de cadeiras ocupadas por escolhidos de Lula subirá de quatro para sete. Com isso, a ala escolhida pelo PT será maioria no Copom.

“Não há espaço para intervenções no Banco Central. Os indicados do presidente Lula para a autoridade monetária terão compromisso no combate à inflação. Não há compromisso com o erro”, disse um auxiliar de Lula.

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