Merkel reconheceu que havia "uma sensibilidade, ou uma fragilidade relativamente grande" nos mercados (©AFP / John Macdougall)
Da Redação
Publicado em 26 de março de 2012 às 17h16.
Berlim - O governo alemão já cogita a possibilidade de aumentar o fundo de resgate europeu contra a crise da dívida, através do acúmulo de capital do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF, na sigla em inglês) com o do seu sucessor, o Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (ESM, na sigla em inglês) anunciou nesta segunda-feira a chanceler Angela Merkel.
Berlim parece agora disposto a somar os fundos já concedidos pelo EFSF aos do ESM, o que permitiria chegar a cerca de 700 bilhões de euros na capacidade total de empréstimos.
"O que dissemos é que o ESM deve ser fixado de forma duradoura em 500 bilhões de euros. Contudo, para que tenhamos efetivamente 500 bilhões, pode ser preciso que sigam vigentes os programas em curso, que somam cerca de 200 bilhões", disse Merkel em coletiva de imprensa, poucos dias antes de uma reunião dos ministros europeus de Finanças voltada para este assunto.
Merkel era considerada o principal obstáculo ao fortalecimento deste mecanismo de proteção europeu, solicitado pela Comissão Europeia, pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pela maioria da zona do euro.
Agora, a chanceler parece disposta a flexibilizar sua posição, antes da reunião europeia de sexta-feira.
Apesar de a oposição alemã falar de uma "mudança de 180 graus", Merkel e sua equipe preparavam o terreno há várias semanas. Na sexta-feira passada, o Ministério de Finanças alemão aludiu a conversas sobre "a articulação do EFSF e do ESM", o que demonstrava que a hipótese de somar - pelo menos temporariamente - ambos os dispositivos era uma opção inclusive para a Alemanha.
Com isso, o ESM deve se transformar na barreira permanente da zona do euro contra as crises da dívida.
Assim como o EFSF, o ESM poderá obter dinheiro nos mercados para emprestar, a juros baixos, aos países em dificuldades.
O mecanismo começará a funcionar dia 1º de julho de 2012, um ano antes do calendário inicial, e coexistirá até o verão de 2013 com seu predecessor.
O EFSF, criado em 2010, já ajudou a Grécia, Irlanda e Portugal.
Segundo a proposta desta segunda-feira de Merkel, os fundos já prometidos à Grécia, Irlanda e Portugal, de um total de 192 bilhões de euros (os 200 bilhões aos que a chanceler se refere), se somarão aos fundos do ESM, até que os países tenham devolvido o crédito.
A Comissão Europeia queria ir ainda mais longe que Berlim, acumulando integralmente ambos os fundos, os 440 bilhões do EFSF e os 500 bilhões do ESM, ou seja, um volume total de quase um trilhão de euros.
Contudo, os deputados alemães ligados à coalizão de governo de Merkel, transformados em porta-vozes de uma opinião pública farta de que a Alemanha pague cada vez mais, não estão dispostos a isso, sobretudo agora que a crise da dívida parece mais amena.
"Na atual situação, bem mais tranquila, é difícil justificar uma maior necessidade de dinheiro" reconheceu o presidente do EFSF, o alemão Klaus Regling, em uma coluna na última edição da revista alemã Focus, apesar das recentes preocupações com a situação na Espanha.
Merkel reconheceu na mesma coletiva de imprensa que havia "uma sensibilidade, ou uma fragilidade relativamente grande" nos mercados, que pôde ser notada através dos juros de Portugal ou Espanha nestas últimas semanas.
"Muitas coisas melhoraram na zona do euro, mas ainda não chegamos a uma situação normal", afirmou.