Economia

Mercosul 'existe só no nome', diz presidente da Audi no Brasil

"É uma bagunça total. Quer dizer, é um mercado unificado para não ter mercado", disse Johannes Roscheck no Salão do Automóvel

Cúpula do Mercosul em Brasília em dezembro de 2017 (Adriano Machado/Reuters)

Cúpula do Mercosul em Brasília em dezembro de 2017 (Adriano Machado/Reuters)

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Clara Cerioni

Publicado em 17 de novembro de 2018 às 08h00.

Última atualização em 17 de novembro de 2018 às 08h00.

São Paulo - “Mercosul, para mim, não existe. Existe só no nome, porque cada país tem regras diferentes”, diz Johannes Roscheck, presidente da Audi do Brasil sobre as limitações regulatórias de cada país do bloco comercial da América do Sul à operação da marca de automóveis de luxo na região. “É uma bagunça total. Quer dizer, é um mercado unificado para não ter mercado.”

O executivo diz que a falta de uniformidade em questões como carga tributária e padrões de emissão de gases faz com que os carros da marca feitos no Brasil, atualmente A3 e Q3, cheguem a custar no Chile o dobro do que os feitos na Alemanha, reduzindo a competitividade da operação brasileira.

“Então, o Brasil está olhando para a Europa, quer fazer algo com a Europa, mas primeiramente teria de ter alguma coisa aqui”, disse Roscheck em entrevista durante o Salão do Automóvel de São Paulo. “Em vez de olhar muito longe seria muito mais interessante criar um mercado tipo União Europeia aqui na América Latina.”

Roscheck cita o México como um “lugar maravilhoso para produzir veículos”, com acordos bilaterais com quase o mundo inteiro, a União Europeia com acordos com as “melhores praças do mundo”, enquanto “não temos absolutamente nada” no Brasil. “Estamos produzindo aqui porque o Brasil é um mercado fechado e para ter um pouco de sucesso aqui neste país você precisa estar presente, mas não porque o Brasil é um país tão legal e um lugar ótimo para produzir.”

E para solucionar essa situação, segundo o presidente da Audi do Brasil, não basta apenas abrir as fronteiras do país, “porque a indústria vai simplesmente cair”. Para ele, é preciso haver um planejamento de longo prazo e um plano de ações, o que o Rota 2030 está fazendo. “É uma tentativa muito séria para abrir o mercado a novas tecnologias e para tornar o Brasil mais competitivo no futuro. É exatamente a coisa certa, só que precisa ser acompanhada com ações.”

Atento à retomada da economia e do setor automotivo, Roscheck diz que sabia que 2018 não seria um ano tão positivo e para 2019 a Audi prepara “uma baita gama de produtos que justifica muito mais o nosso plano de crescimento e de ataque do que simplesmente dar incentivo e subsídio para ganhar um pouco de espaço contra nossos concorrentes”.

“Estou pessoalmente convencido de que 2019 tem, primeiramente, uma chance de crescimento natural, que significa um crescimento verdadeiro no mercado. E como o mercado foi oprimido por muito tempo, haverá uma demanda natural de muitas pessoas que conseguem ter mais confiança no futuro do país do que anteriormente.”

Roscheck diz que o último ciclo de investimentos da Audi no Brasil foi de 2013 a 2016, quando a marca aplicou 500 milhões milhões para modernizar a fábrica de São José dos Pinhais, no Paraná, utilizada em parceria com a Volkswagen. Além dos dois modelos fabricados no Brasil, o executivo diz que está estudando trazer no futuro novos carros para a produção local, sem revelar quais deles. “Eu quero fazer novos investimentos. Estou lutando.”

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