Selic: taxa hoje está em 14% ao ano (thinkstock/Thinkstock)
Estadão Conteúdo
Publicado em 30 de novembro de 2016 às 09h42.
São Paulo - A maioria dos economistas e analistas tem duas convicções quando relê as atas do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, responsável pelos rumos da taxa básica de juros (Selic).
A ata explica a decisão de cada reunião do Copom e, na gestão de Ilan Goldfajn, vem deixando claro que o foco é levar a inflação a 4,5%, o centro da meta, em 2017.
Diante disso, a primeira certeza é que, na reunião desta quarta-feira, 30, existe a forte tendência de que o corte, novamente, será de apenas 0,25 ponto porcentual.
Para a maioria, porém, a segunda certeza é que há espaço para o Copom acelerar essa queda, aplicando uma redução de 0,5 ponto porcentual. Hoje, a Selic está em 14% ao ano.
Apesar da concordância de que deter a inflação é a prioridade, há quase um consenso de que a fraqueza da economia para sair da recessão e a piora de indicadores importantes, como emprego e renda, exigem um alívio mais rápido dos juros.
O economista Sergio Vale, da MB Associados, por exemplo, faz um paralelo entre a postura do BC hoje com a da instituição em 2008.
Naquele ano, lembra, a crise global jogou a economia para baixo, havia incerteza em relação aos impactos do câmbio na inflação e, por isso, o BC só começou a reduzir os juros no começo de 2009.
Para ele, há um ambiente similar agora, para justificar o conservadorismo, adicionando o fato de a inflação ter se mostrado resistente e a incerteza ter aumentado, com a eleição de Donald Trump e o agravamento da crise política no Brasil.
No entanto, Vale pondera: "Agora não há ataque especulativo, a essa altura o efeito Trump e a piora recente na política não são novidades e, na economia, temos uma recessão muito longa, de quase três anos, e a demora em reduzir os juros ainda pode acelerar o processo de falências e recuperações judiciais. Assim, haveria espaço para acelerar a queda, apesar de não acreditarmos que o BC fará isso agora".
A economista-chefe da XP Investimento, Zeina Latif, segue na mesma linha, reforçando que os indicadores da economia estão piorando muito.
Na sua avaliação, o resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada nesta terça-feira, 29, é "desastroso" no aspecto social.
Não apenas porque o número de desempregados ultrapassou a casa de 12 milhões e porque no último ano quase 1,5 milhão engrossou as fileiras do chamado desalento - simplesmente desistiram de procurar trabalho.
Ela entende que o BC tem espaço para reavaliar a velocidade do corte. "Se aplicasse um corte de 0,5 ponto, o BC ainda sinalizaria que a economia segue para a normalidade - o conservadorismo pode realimentar a desconfiança e ter o efeito inverso ao esperado."
Para Evandro Buccini, economista da Rio Bravo Investimentos, outro componente que abre espaço para o BC acelerar a queda é a tramitação da chamada PEC do Teto, projeto que limita os gastos do governo federal. Buccini lembra que a tramitação superou as melhores expectativas e que a reforma da Previdência virá em seguida, com boas chances de que os itens mais importantes sejam aprovados.
"O BC tem uma janela no fiscal para acelerar o corte da Selic." Ele também projeta redução de 0,25 ponto, mas diz que "alimenta a esperança" de o BC acrescentar à sua análise os últimos indicadores - incluindo o resultado do PIB, que será divulgado hoje e, ele estima, deve surpreender para pior.
No grupo que endossa uma redução mais conservadora dos juros está a economista Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendência. Ela lembra que o BC estabeleceu o compromisso de colocar a inflação no centro da meta em 2017 e que agora precisa mirar nesse resultado, principalmente porque as projeções ainda não mostram que vai conseguir alcançar esse objetivo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.