Dinheiro: “temos feito o bastante para não cair no abismo, mas não o suficiente para se distanciar dele”, diz especialista (Andrew Harrer/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 7 de outubro de 2015 às 18h49.
Mesmo após o governo ter sofrido novas derrotas políticas ontem e ter outros desafios à frente no Congresso, TCU, e TSE, o dólar cai pelo 4º dia seguido e chegou a ser cotado abaixo de R$ 3,80 nesta manhã.
O mercado acredita que, após o susto com o dólar acima de R$ 4,00 nas últimas semanas, o país recuará alguns metros da rota para o abismo.
O primeiro passo seria manutenção dos vetos da presidente Dilma a medidas que ampliam os gastos públicos, apesar das dificuldades vistas ontem e hoje para realização da sessão no Congresso.
A aparente trégua obtida pelo governo, juntamente com a redução das apostas em alta dos juros americanos, ajudou a reverter a alta recente do dólar. Em outras ocasiões, iniciativas do governo também contribuíram para aliviar as pressões.
Ainda antes da posse para o 2º mandato, Dilma ajudou a reduzir o estresse financeiro nomeando Joaquim Levy para a Fazenda.
Em abril, foi a vez da indicação de Michel Temer como coordenador político gerar uma trégua, que acabou não se revelando duradoura.
Com a reforma ministerial, a presidente Dilma conseguiu recompor parcialmente sua base. Deve ser suficiente para uma ”ação defensiva”, como barrar a derrubada de vetos presidenciais ou até mesmo tentativas de impeachment.
Porém, para tocar uma agenda positiva, com reformas e mesmo aumentos de impostos necessários para equilibrar as contas públicas, mudar ministros não deve ser suficiente.
“Temos feito o bastante para não cair no abismo, mas não o suficiente para se distanciar dele”, diz João Augusto de Castro Neves, diretor para América Latina do Eurasia Group.
Para Castro Neves, a percepção de crise aguda que acompanhou a recente disparada do dólar foi fundamental para que o governo acelerasse a reforma ministerial. Ao mesmo tempo, parlamentares que pensavam em votar contra os vetos parecem ter mudado de posição.
Castro Neves considera que a reforma ministerial também ajuda a evitar novo aumento da probabilidade de impeachment, que a Eurasia calcula em 40%. Assim como no caso da derrubada dos vetos, o impeachment exige 2/3 dos votos. É muito provável que a presidente consiga pelos menos 1/3 + 1 dos votos no Congresso para vencer essas disputas mais drásticas.
Para aprovar reformas ou até mesmo a criação de impostos, como a CPMF, o jogo se inverte e é o governo que precisa de 2/3 dos votos. Ou seja, impedir a pauta-bomba de explodir é mais fácil do que fazer a agenda positiva andar.
O problema é que medidas mais agressivas, ainda que não sejam cruciais no curto prazo, são fundamentais no médio e longo prazo para equilibrar a economia. Tome-se o caso da mudança no Fator Previdenciário. Com a adoção da escala 85-95, os gastos podem até diminuir no curto prazo, mas depois se aceleram, tornando uma reforma profunda da Previdência inevitável.
“Nós estávamos em frente ao caos”, diz o consultor Nathan Blanche, da Tendências, sobre a alta que levou o dólar a passar de R$ 4,20 no final de setembro. Agora, o mercado voltou a uma situação ”apenas” muito ruim.
”Isso é paradoxal”, diz Castro Neves, da Eurasia. “O dólar a R$ 4,00 foi necessário para convencer o governo a buscar uma solução defensiva. A pergunta é: a quanto o dólar teria de chegar para o Congresso aprovar todo o ajuste fiscal? Teria de ir a R$ 5,00?”