Emmanuel Macron, presidente francês (imagem de arquivo) Ludovic Marin/Pool via REUTERS/File Photo (Ludovic Marin/Reuters)
Ligia Tuon
Publicado em 20 de março de 2019 às 15h55.
Última atualização em 20 de março de 2019 às 18h43.
A França está soando o alarme para as economias avançadas do mundo: o capitalismo está destruindo-as.
O presidente Emmanuel Macron e seu ministro de Finanças, Bruno Le Maire, estão usando a presidência da França no Grupo dos Sete para argumentar que o sistema alimenta a desigualdade, destrói o planeta e é ineficaz para o cumprimento de metas de interesse público. O país já experimentou algumas das consequências em primeira mão no movimento dos Coletes Amarelos, que entrou em erupção no fim do ano passado.
Eles estão promovendo uma reinvenção que inclui impostos globais mínimos e impostos mais altos para gigantes da tecnologia como Amazon e Facebook. Há semelhanças com isso nos autoproclamados socialistas democráticos dos EUA e na incansável congressista Alexandria Ocasio-Cortez, que disse na semana passada que “o capitalismo é irredimível”.
“Se não inventarmos um novo capitalismo, soluções econômicas absurdas nos convencerão e nos levarão diretamente à recessão”, disse Le Maire em entrevista no fim do mês passado.
Um exemplo fundamental para ele é a Itália, onde o governo populista chegou ao poder em meio a uma onda de indignação pública. O governo descartou rapidamente o manual da responsabilidade fiscal, o que fez os rendimentos dos títulos subirem e a confiança cair, ajudando a empurrar a economia para uma recessão.
Aos 49 anos, Le Maire é o mais jovem ministro das Finanças entre seus pares do G-7. Suas grandes ambições também envolvem combater a desigualdade de renda, dar poder aos governos para intervir na economia e obrigar as empresas a serem socialmente responsáveis e a dividirem mais os lucros com os trabalhadores.
Apesar da queda de alguns indicadores de desigualdade de renda, o FMI afirma que o fato reflete o crescimento de muitas economias em desenvolvimento. Muitas ainda sentem que não recebem uma parcela decente devido a disparidades salariais, à enorme concentração de riqueza e aos níveis de pobreza no trabalho.
O chamado às armas de Le Maire reflete a propagação de um pânico que se espalha nas democracias ocidentais diante da indignação dos eleitores. A próxima ferroada poderia acontecer nas eleições do Parlamento Europeu, em maio, quando políticos eurocéticos deverão conseguir novos ganhos.
“O capitalismo funciona quando muitas pessoas têm a chance de conseguir resultados razoáveis no mercado”, disse Raghuram Rajan, ex-presidente do banco central da Índia, que escreveu um livro sobre “comunidades” e sobre o repensar do capitalismo. “Perdemos 10 anos desde a crise financeira por não focar nessas coisas e esperar que um estímulo após o outro pudesse de algum modo elevar o crescimento.”
Na França, a resposta automática do governo aos Coletes Amarelos foi jogar dinheiro no problema, mas também surgiu a percepção de que isso, por si só, não resolveria.
Macron, que aparece com muito pouca vantagem nas pesquisas em relação ao Rassemblement National, o partido de extrema-direita de Marine Le Pen, iniciou o que chamou de “grande debate” nacional que levou o presidente e seus ministros a viajar pelo país para ouvir as preocupações das pessoas.
“Não se pode lutar contra o populismo com promessas de mais do mesmo”, disse a economista-chefe do Société Générale, Michala Marcussen.