Economia

Membro do BCE alerta contra reversão drástica de política

BCE acelerou as compras de títulos para controlar o aumento dos custos de financiamento, o que reflete uma divergência cada vez maior entre a zona do euro e os EUA

BCE:  (Kai Pfaffenbach/Reuters)

BCE: (Kai Pfaffenbach/Reuters)

FS

Fabiane Stefano

Publicado em 30 de março de 2021 às 16h59.

Última atualização em 30 de março de 2021 às 18h14.

O Banco Central Europeu deve ser cauteloso quando começar a retirar o estímulo de emergência, mesmo que a economia se recupere da pandemia conforme previsto, disse Vitas Vasiliauskas, membro do conselho do BCE.

Vasiliauskas, que além de fazer parte do conselho também é presidente do banco central da Lituânia e deixará esses cargos no mês que vem, disse em entrevista que o BCE deveria se basear em experiências anteriores de apertar a política monetária muito cedo. Isso significa retomar ferramentas monetárias mais convencionais apenas gradualmente.

Mesmo depois que a inflação voltar à trajetória pré-pandemia, as autoridades de política monetária precisarão manter a flexibilização quantitativa por “um bom tempo”, previu.

“Não acho que podemos nos permitir fazer mudanças muito bruscas em nossa política monetária, especialmente tendo em mente nossa experiência histórica”, disse Vasiliauskas na segunda-feira. “Seria melhor viver um pouco mais na situação de transição.”

Autoridades do BCE foram obrigadas a recuar na última década, após limitar ou retirar o apoio monetário muito cedo. O BCE suspendeu as compras de títulos no fim de 2018 — mas teve de retomar as compras no prazo de um ano devido à deterioração da economia — e reverteu dois aumentos dos juros em 2011.

O programa de compra emergencial da pandemia, de 1,85 trilhão de euros (2,2 trilhões de dólares), deve durar pelo menos mais um ano. O plano de flexibilização quantitativa iniciado em 2015, que ainda está em aberto, é condicionado apenas a conseguir que a inflação da zona do euro retome a trajetória em direção a 2% de forma sustentável.

“Não acho que manter o estímulo por muito tempo seja um grande risco em comparação com uma reação exagerada ao abolir o estímulo”, disse Vasiliauskas, acrescentando que não esperaria nenhuma decisão sobre como encerrar o programa da crise antes do quarto trimestre.

O empresário de 47 anos comanda o banco central da Lituânia há uma década e passou a fazer parte do conselho do BCE em 2015, quando o país aderiu ao euro. Vasiliauskas vai fazer parte do conselho executivo do Fundo Monetário Internacional como representante para as regiões Báltica e Nórdica.

O BCE acelerou as compras de títulos para controlar o aumento dos custos de financiamento, o que reflete uma divergência cada vez maior entre as economias da zona do euro e dos Estados Unidos. A recuperação dos EUA é impulsionada por um ritmo rápido de vacinação e enorme apoio fiscal, enquanto a zona euro ainda lida com restrições por causa da lenta campanha de imunização.

Bancos centrais da região compraram, em média, 20 bilhões de euros em dívidas semanalmente nas últimas duas semanas para manter as condições de financiamento favoráveis para governos, empresas e famílias, e Vasiliauskas sinalizou que investidores devem esperar que esse ritmo continue. “No momento, não vejo necessidade de mudar nossa trajetória”, disse.

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralBCEPolítica monetáriaZona do Euro

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo