Bancos: safra de balanços de bancos do segundo trimestre deve manter a tendência recente (Marcos Santos/USP Imagens)
Da Redação
Publicado em 28 de julho de 2014 às 10h48.
São Paulo - Há algo sintomático na agilidade dos três maiores bancos privados brasileiros em dar boas-vindas às medidas do Banco Central nos compulsórios e nos requerimentos de capital para incentivar maior oferta de crédito, especialmente para consumo.
Nas duas últimas vezes que quis aumento da oferta de empréstimos, após a quebra do Lehman Brothers em 2008 e, em 2012, quando a presidente Dilma Rousseff foi à TV cobrar queda nas taxas dos empréstimos, o governo federal só teve engajamento efetivo de Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.
Mais que isso, episódios fortuitos, como comentários do presidente de um grande banco privado de que as taxas praticadas por BB e Caixa estavam distorcidas, e um relatório da Febraban afirmando que "você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não pode forçá-lo a beber água" foram rebatidos com uma retórica bastante agressiva do Palácio do Planalto.
Desta vez, o que os bancos privados menos querem é enfrentar um governo que é candidato nas pesquisas de intenção de voto a vencer as eleições presidenciais de outubro. Mesmo que internamente eles considerem equivocado o momento para o BC desmontar parte do aperto macroprudencial adotado em fins de 2010 e um dia após a autoridade monetária ter indicado que não reduzirá a Selic, em meio ao esforço para tentar conter a inflação, que esboça romper a margem de tolerância da meta neste ano.
Mesmo que os bancos privados não planejem abandonar a preferência pelo conservadorismo, tática que os fez crescer a um terço da velocidade de BB, Caixa e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social nos últimos três anos. Se abriram mão de competir lá atrás, não é agora que baixariam a guarda, diante de uma economia que se aproxima do quarto ano de crescimento modesto, da queda na confiança de empresários e consumidores e de previsões de aumento dos calotes.
Projeções preliminares de analistas indicam que a safra de balanços de bancos do segundo trimestre, que começam a ser divulgados na semana que vem, deve manter a tendência recente, ou seja, BB e Caixa crescendo bem mais que Itaú Unibanco , Bradesco e Santander Brasil , que estão mais preocupados em manter rentabilidade e evitar alta da inadimplência.
Isso significa, então, que os banqueiros privados estão fazendo jogo de cena ao saudar as medidas do BC com potencial de injetar até 45 bilhões de reais na economia?
Não necessariamente. Medidas de flexibilização sempre serão recebidas com elogios, especialmente num ambiente de custos maiores de captação de recursos.
Mas um impacto na ponta, isto é, aumento de oferta de crédito para o tomador, não vai acontecer logo, pelo menos não enquanto a confiança na economia não melhorar.
"As medidas terão efeito sobre a percepção dos bancos", disse à Reuters o presidente-executivo do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco. "Mas não são de hoje para amanhã", completou.
* Esta coluna foi publicada no terminal financeiro Eikon, da Thomson Reuters, na sexta-feira, 25 de julho.