Marrakesh, no Marrocos: a taxa de desemprego entre os marroquinos que se encontram na Espanha é de 50,7% (Henri Tabarant/AFP Photo)
Da Redação
Publicado em 25 de julho de 2012 às 19h17.
Rehiyene - Habitantes de aldeias do norte do Marrocos que dependem de remessas enviadas por parentes na Espanha, sofrem as consequências da crise vivida pelo país europeu, resultando no retorno da precariedade em suas terras.
Aiashi, um emigrante que habitualmente mandava remessas de dinheiro a sua família e ficou desempregado na Espanha, teve que pedir 130 euros (R$ 322) à esposa para poder retornar a Rehiyene, sua aldeia natal, situada próxima a Larache (norte do Marrocos).
Antes da crise, 70% da receita de Rehiyene, que possui 2.500 habitantes, era proveniente da Espanha. ''Agora os que estão aqui pensam nos que estão na Espanha e tentam enviar dinheiro para que possam retornar ao Marrocos'', comentou Mohammed Failalih, de 23 anos, que vive em Azuqueca Henares (Guadalajara), e voltou ao país para comemorar o Ramadã.
Segundo o Conselho da Comunidade Marroquina no exterior (CCME), a taxa de desemprego entre os marroquinos que se encontram na Espanha é de 50,7%, mais do que o dobro da taxa geral espanhola. A população marroquina no país europeu é de cerca de 780 mil pessoas.
''Em Rehiyene, onde pelo menos 750 pessoas emigraram para a Espanha nos últimos anos (para trabalhar principalmente na construção), a população gozava de boas condições de vida, mas retornamos à pobreza'', declarou Mustafa Belerrouk, prefeito da aldeia.
Antes da crise, com o dinheiro que recebiam da Espanha (entre R$ 372 e R$ 747 mensais por família), os moradores de Rehiyene construíram casas, asfaltaram a estrada que leva à aldeia, melhoraram seus televisores e enviaram seus filhos às escolas em cidades próximas.
A CME afirma que entre 2007 e 2010, o envio de remessas da Espanha ao Marrocos sofreu uma queda de 33%. A única saída para muitos emigrantes foi voltar para a terra natal e trabalhar no mercado informal.
Em Rehiyene, os estudantes percorrem a pé, diariamente, 5 km para ir ao ensino médio. Agora, os alunos não podem continuar a formação escolar porque os pais já não dispõem de meios econômicos.
Os carros são escassos, não há dinheiro para gasolina, e o burro e o cavalo representam para muitos o único meio de transporte para chegar ao hospital de Larache, situado a 25 km da aldeia.
''Ambulância? Quando ela chega aqui, a pessoa já está morta'', comenta Fátima, enquanto seu filho diz ironicamente que o médico da aldeia é um homem que trabalha em ''um centro de saúde a 4 km e que fecha às três da tarde''.
Hipotecas, dívidas que não podem pagar, salários atrasados e desestruturação familiar são alguns dos problemas enfrentados pelos habitantes da região.
''Um dos principais problemas é que muitas famílias têm seus filhos escolarizados em colégios espanhóis e a volta ao Marrocos, além de ser dolorosa, pode ter graves consequências no desenvolvimento familiar'', explica Said Bentrika, presidente da Associação pela Cooperação e Desenvolvimento com o Norte da África (Codenaf).
Bentrika afirma que ''é muito difícil para uma criança que começa seus estudos na Espanha ingressar em um colégio de um povoado marroquino com um sistema e uma língua diferentes. O fracasso provavelmente será de 100%''.
''Aqui, uma criança de dez anos em vez de estudar tem que buscar o sustento. Dá pena'', diz Failalih.