Economia

Mariana retoma busca por ouro após tragédia da Samarco

O deslizamento agitou os leitos dos rios o suficiente para expor partículas de metais preciosos, como aqueles que desencadearam a primeira corrida do ouro


	Destruição provocada pelo rompimento de barragens da Samarco em Mariana, MG
 (Ricardo Moraes/Reuters)

Destruição provocada pelo rompimento de barragens da Samarco em Mariana, MG (Ricardo Moraes/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 21 de junho de 2016 às 18h18.

Nas montanhas de terra vermelha de Minas Gerais, região do Brasil que recebeu esse nome pelas minas que ofereceram sustento por gerações, o pior desastre ambiental da história do país desenterrou uma nova oportunidade para os moradores locais, prejudicados pela recessão e pela perda de empregos -- o garimpo de ouro.

A mineração não autorizada está em ascensão nas comunidades devastadas pelo rompimento da represa que liberou, em novembro passado, uma avalanche mortal de lama da gigantesca mina de minério de ferro da Samarco, matando moradores e destruindo casas. Milhares de pessoas ficaram sem emprego em meio a uma profunda recessão nacional.

Mas o deslizamento também agitou os leitos dos rios o suficiente para expor partículas de metais preciosos, como aqueles que desencadearam a primeira corrida do ouro do Brasil, três séculos atrás.

Embora ninguém saiba quantas pessoas estão cavando ilegalmente para sobreviver, o número de queixas à polícia militar ambiental na cidade de Mariana subiu cerca de 30 por cento desde o desastre, disse o sargento Valdecir Nascimento, que trabalha há 24 anos na unidade.

O número pode crescer porque a Samarco -- de propriedade da BHP Billiton e da Vale -- cortou 3.000 empregos terceirizados em uma área rural na qual o desemprego já é duas vezes maior que a taxa estadual.

“Procurei outro emprego, mas como está difícil faço garimpo”, disse Davidson Gomes, 49, removendo rochas e peneirando sedimentos com as mãos no fundo do rio que atravessa o centro de Mariana. Gomes, que tem três filhos, disse que fazia bicos antes do deslizamento.

O rompimento de uma represa em 5 de novembro passado liberou bilhões de litros de rejeitos de mineração que soterraram cidades inteiras em um vale exuberante, colorido por faixas de solo de cor de ferrugem e dezenas de igrejas de estilo barroco erguidas durante a última explosão do ouro.

O derramamento deixou 19 mortos e centenas de desabrigados. Muitos garimpeiros estão apostando que as comunidades que mais perderam oferecem as melhores perspectivas.

“A lama inundou a região com muita força”, disse Hernani Lima, professor de engenharia da faculdade de mineração local. “Ela [a lama do rompimento] escavou, afundou o leito do rio e deixou o ouro perto da superfície. Ela fez o trabalho que a draga faria, mas com mais força”.

A mineração, ilegal ou não, faz parte do DNA da região. O ouro de aluvião que atraiu caçadores de riquezas pela primeira vez para a região atravessa as comunidades de Mariana e Ouro Preto, nas proximidades.

No século 18, essas montanhas produziram quase tanto ouro quanto todas as colônias espanholas juntas em mais de três séculos. Quando se percebeu que as colinas e os rios haviam sido despidos do ouro, os caçadores de fortuna abandonaram a região, deixando igrejas douradas para trás.

“A situação é muito grave”, disse o prefeito de Mariana, Duarte Júnior. “Tem pessoas procurando emprego, mas não existe emprego. O município está com taxa de desemprego de 27 por cento.”

Para alguns, a única opção é procurar o que restou do ouro.

“Quando há crise e desemprego, as pessoas que trazem essa tradição do garimpo no sangue -- os netos, bisnetos e tataranetos dos primeiros garimpeiros da região -- voltam para o rio para trabalhar”, disse o professor de engenharia, Hernani Lima.

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