Eduardo Giannetti da Fonseca, ex-professor do Insper e assessor econômico da candidatura do PSB (Raul Junior/EXAME)
João Pedro Caleiro
Publicado em 18 de agosto de 2014 às 18h38.
São Paulo – “As diferenças entre os dois candidatos da oposição são mais do lado de fora da politica econômica do que de dentro.”
Quem diz é Eduardo Giannetti da Fonseca, economista consultor da campanha do PSB e ligado a Marina Silva, provável nova candidata que já largaria na campanha com 21% dos votos – o que está mexendo com o mercado.
Ele evitou falar do cenário eleitoral - "em geral, economista é péssimo político" - e destacou que não falava em nome da campanha, mas não poupou críticas ao governo e discordou de que nosso baixo crescimento seja fruto apenas de um cenário internacional desfavorável:
“O vento ainda não está contra, mas parou de soprar. Tem aquela frase do Buffett: você só descobre quem está nadando pelado quando a maré baixa. Pois é, a maré baixou e o Brasil foi pego de tanguinha – ou coisa pior.”
Reunidos no hotel Meliá em São Paulo, os três debatedores convocados pela Empiricus Research concordaram que um grande problema foi o aumento do intervencionismo do governo, inclusive com medidas contraditórias em um curto espaço de tempo: "Um governo que pisa no acelerador de um lado e no freio do outro", na avaliação de Giannetti.
Mansueto Almeida, um dos conselheiros econômicos de Aécio Neves, diz que o governo não faz reformas importantes desde 2008 e não conseguiu aumentar o investimento público, mas insiste no erro: “O fato da gente discutir se há ou não uma curva de aprendizado neste governo já é algo esquizofrênico. Esse país tem tudo pra dar certo se o governo não atrapalhar”.
Marcos Lisboa, ex-diretor de Politica Econômica do Ministério da Fazenda, acredita que o problema não foi de falta de sensibilidade ao setor privado, e sim excesso. Isso levou a um novo nacional-desenvolvimentismo, com uma rede de proteções e microgerenciamento que mata a eficiência:
“O sucesso do agronegócio passou pelo fracasso de muitos empreendimentos individuais, mas fizemos o inverso na indústria. Quando se protege um, desprotege outro. Tem o Brasil que paga spread de 3% e o que paga de 20%. É a economia da meia entrada. A complexidade tributária e dos processos de importação ou exportação são filhos dessas regras e todos nós pagamos o preço.”
Giannetti criticou a dificuldade do país de aceitar a dinâmica capitalista: "Você estar apto a negociar no balcão do governo virou mais importante do que entregar inovação. Voltamos para um mercantilismo em que o estado tutela o setor privado. Não há nada errado em tentar e não dar certo. Não conheço quase nenhum empresário americano de sucesso que não tenha quebrado duas ou três vezes. Aqui, uma empresa ao ser criada se torna imortal."
"O Fim do Brasil"
O evento "O Fim do Brasil - Soluções para Combater a Estagflação" foi organizado pela Empiricus Research, empresa de análise de ações que foi alvo recente de uma representação do PT junto ao Tribunal Superior Eleitoral.
A acusação é que seus anúncios no Google prevendo cenário ruim para a economia em caso de reeleição violavam regras eleitorais. Felipe Miranda, sócio da empresa responsável pelas análises, abriu o evento mostrando dados sobre a evolução da economia brasileira desde o Plano Real:
“Se nasce um Brasil em 1994, consolidado em 1999, ele caminha agora para a destruição do que foi construído. A nova matriz econômica fere cada um dos pontos do tripé; precisamos acabar com ela antes que ela acabe com o país."
A dúvida agora é de qual ajuste é necessário para 2015. Lembrando dos ajustes anteriores em 1999 e 2003, Giannetti diz que como nosso problema é mais de inverter expectativas, seria possível normalizar a economia em um período de 2 a 3 trimestres.
Para Mansueto, o fato de 90% da despesa do governo ser obrigatória faz com que seja impossível um ajuste de curto prazo, mas a questão terá que ser enfrentada de uma forma ou de outra: "O gasto descontrolado ou vira aumento de inflação ou de dívida ou de carga tributária. É um dilema grande. Se o país não voltar a crescer 3,5%, 4% ao ano, todo o gasto social está em risco."