Economia

Mão de obra pesa na confiança do comércio, diz FGV

A preocupação com a alta dos juros e a menor oferta de crédito são outros fatores que contribuem para o pessimismo dos empresários


	Consumidora escolhe sapatos em loja de shopping: 16,7% dos comerciantes apontaram o custo da mão de obra como fator limitativo
 (Dado Galdieri/Bloomberg)

Consumidora escolhe sapatos em loja de shopping: 16,7% dos comerciantes apontaram o custo da mão de obra como fator limitativo (Dado Galdieri/Bloomberg)

DR

Da Redação

Publicado em 31 de março de 2014 às 14h40.

Rio - O custo da mão de obra em ascensão, a preocupação com a alta dos juros e a menor oferta de crédito são os fatores que mais contribuem para a deterioração da confiança dos empresários do comércio. No primeiro trimestre de 2014, a confiança ficou 2,1% abaixo do que em igual período de 2013. No trimestre encerrado em fevereiro, essa taxa era de -1,2%, na mesma base de comparação.

Em março de 2014, 16,7% dos comerciantes apontaram o custo da mão de obra como fator limitativo à expansão dos negócios. A demanda insuficiente foi apontada por 16% dos empresários, enquanto 11,1% enumeraram o custo financeiro (juros) como fator limitativo. Nessas três variáveis, os porcentuais são os maiores para o mês em toda a série (iniciada em março de 2010).

"São resultados que refletem desaceleração da atividade", avaliou o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Aloisio Campelo.

"O aumento da taxa de juros dificulta o acesso ao crédito. E o mercado de trabalho continua sendo um problema, já que o custo da mão de obra é elevado, o que afeta a rentabilidade da empresa e a confiança de alguma forma", acrescentou.

No caso específico do setor de veículos e motocicletas, a sensível piora (a taxa passou de -4,7% no trimestre até fevereiro para -9,9% até março, na comparação com igual período de 2013) se deveu, além dos juros, ao Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) mais elevado, notou o economista. "A percepção das concessionárias é muito pior do que era há um ano", disse Campelo.

No caso dos varejistas de material de construção, Campelo classificou a piora na confiança como "algo curioso", uma vez que a sondagem empresarial do setor (que apura o sentimento das empresas e indústrias ligadas à atividade) ainda mostra confiança favorável.

O economista arriscou que o resultado sobre o varejo se deva a uma desaceleração em reformas de imóveis, seja por oferta elevada de imóveis novos no mercado ou por endividamento alto das famílias. "Faz sentido, a pessoa tem de optar por quitar dívidas, adotar uma postura mais cautelosa e desacelerar alguns tipos de gastos", disse.


Efeito Copa

No varejo restrito, cinco dos oito setores pesquisados apresentaram evolução favorável nas expectativas para os próximos meses. Apesar disso, Campelo relativizou o movimento, já que, entre dezembro de 2012 e março de 2013, em função da aceleração da inflação de alimentos, a confiança ficou atipicamente abaixo dos outros setores.

"O efeito base contribuiu para a melhora do índice de expectativas", explicou o economista.

Ainda assim, dois setores podem já estar incorporando influências da realização da Copa do Mundo no Brasil - a pergunta sobre expectativas engloba um horizonte de seis meses.

Em móveis e eletrodomésticos, o Índice de Expectativas (IE) passou a crescer 9,8% no primeiro trimestre de 2014 (ante igual período de 2013), contra +8,8% no trimestre até fevereiro (mesma base).

"A melhora nesse setor começou no ano passado, com o Minha Casa Melhor. Pode ser que já haja efeito da Copa, uma vez que há expectativa de venda de televisores", disse Campelo.

No segmento de hiper e supermercados, a taxa interanual trimestral passou de 5,1% para 8,8% entre fevereiro e março - impulsionada pela base mais baixa, mas também por um provável aquecimento na demanda nos próximos meses, segundo o economista.

Acompanhe tudo sobre:ComércioEmpresasFGV - Fundação Getúlio VargasMão de obra

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo